Um grande evento de Selecções todos os anos

Um grande evento de Selecções todos os anos

O Campeonato da Europa teve a sua última edição em 2018, na Corunha, e só regressa - até ver - em 2021, naquela que será apenas a segunda quebra na regra de "dois em dois anos" vigente desde 1957, quando, pela primeira vez, foi coroado um campeão europeu que não simultaneamente campeão do Mundo.

A única excepção era o "salto" de 1987 (Oviedo, Espanha), em que Portugal interrompeu a série vitoriosa da então tetra campeã Espanha, para 1990 (Lodi, Itália), quando a Itália ganhou o seu segundo título. Pelo meio, houve dois campeonatos do Mundo, em 1988 (Corunha, ganho pela Itália) e 1989 (San Juan, ganho pela Espanha). 2020 será, desde os anos da II Grande Guerra, a obrigar a uma interrupção entre 1939 e 1947, o primeiro ano sem uma grande competição.

Oportunidade?

"Porque não aproveitamos esta situação para fazer os campeonatos da Europa e do Mundo de quatro em quatro anos? Assim, conseguimos mais selecções a participar, mais países a querer organizar, todos os jogadores a querer participar, mais competitividade e finalmente mais relevância mediática?", questionou Guillem Cabestany nas redes sociais, quando foi noticiado o adiamento do Europeu de La Roche-Sur-Yon para 2021.

João Rodrigues
João Rodrigues "assinaria" proposta para intervalos de quatro anos... se tal significasse grandes eventos

Colocada assim a questão, as vantagens parecem óbvias. "Se me garantirem que as competições passam a ser de quatro em quatro anos para que sejam organizadas como um grande evento desportivo, que ajude na promoção e mediatização da modalidade, com maior competitividade entre selecções, então sim!", afirma peremptoriamente João Rodrigues, capitão da selecção portuguesa, que avança desde logo uma necessidade. "Seria importante os jogadores não estarem tanto tempo sem jogos de selecções, daí, para esta solução, defender a realização de jogos amigáveis, torneios ou qualificações para os europeus e mundiais", preconiza.

E sem essa garantia - que no Hóquei em Patins é sempre de questionar - de projecção? "Então creio que o modelo actual não deve ser alterado", aponta o vigente campeão do Mundo e campeão da Europa de 2016.

Uma faca de dois gumes

Colega de João Rodrigues no Barcelona, mas rival de selecção, Pau Bargalló confessa sentimentos ambíguos, ainda que - de certa forma - converja com a opinião do capitão português. "Se pensar no plano individual, o que os jogadores querem é jogar o máximo de campeonatos e ter a possibilidade de ganhar o máximo de títulos possíveis", começa por referir, salvaguardando os interesses das federações.

"Por outro lado, acredito que se as grandes competições se realizassem de dois em dois anos, as federações teriam mais facilidade e recursos para se prepararem e enfrentarem com mais garantias estas competições... e isso podia ser bom para o Hóquei em Patins, já que se valorizaria ainda mais os Europeus e Mundiais", observa o capitão de uma Espanha que, com o adiamento, segurará o ceptro europeu conquistado na Corunha por (pelo menos) mais um ano.

Pau Bargalló quer jogar o máximo de campeonatos possível
Pau Bargalló quer jogar o máximo de campeonatos possível

Carlo Di Benedetto, já icónico capitão da selecção francesa, também balanceia entre as duas hipóteses, mas revela a sua preferência. "Por mim, o Europeu de dois em dois anos é o melhor", afirma. "Mas cada modelo tem as suas coisas boas e más", salvaguarda, explicando a sua visão.

"O modelo de quatro em quatro anos permite aos jogadores ter alternadamente um Verão para descansar completamente. Pode ser que aqueles jogadores que desistem de ir à selecção por querer estar mais tempo com a família ou porque precisam de mais descanso aceitem ir às selecções", reflecte. Por outro lado, Carlo teme a perda de presença no espaço desportivo. "O nosso desporto passa a ter anos em que não há Europeu ou Mundial. Serão anos em que não vamos poder promover o nosso desporto com uma das grandes competições. Perderíamos um ano em que podíamos tentar que o nosso desporto fosse mais conhecido", lamenta.

Carlo Di Benedetto aborda outros temas, como a necessidade de se conhecer mais cedo as sedes das provas
Carlo Di Benedetto aborda outros temas, como a necessidade de se conhecer mais cedo as sedes das provas

De qualquer forma, o mais velho dos irmãos Di Benedetto levanta outros dois temas, quiçá mais prementes. "Um dos problemas é que se devia decidir antes os locais onde se realizam os europeus e mundiais. Quem organiza, não teria apenas um ano e meio ou dois para organizar. Devia decidir-se três ou quatro anos antes e quem organiza poderia fazer as coisas com calma e, sobretudo, teria tempo para criar algo grande, que seja bom para o nosso desporto", aponta, recordando ainda a atenção que tem de se dar ao descanso dos atletas.

"Os jogadores têm um compromisso todos os anos. Depois da época terminar nos clubes, estão mais um mês ou mês e meio a treinar e jogar, e alguns clubes não permitem férias suficientes. Os clubes não podem pedir aos seus jogadores para voltarem a treinar duas semanas depois de acabar um Mundial ou Europeu, porque o jogador não acaba por descansar", alerta, ressalvando que, geralmente, até há cerca de um mês de descanso, que se aceita.

Eventos anuais, com sugestão de uma terceira competição

Para Massimo Mariotti, seleccionador italiano, campeão europeu em 2014, não há dúvidas: o modelo é para manter. "Para mim devia continua com Europeu num ano e Mundial no outro, porque assim há todos os anos um evento para a Selecção. Não somos o futebol que, tendo tantas selecções, joga cada competição de quatro em quatro anos, alternando e tendo de dois em dois anos uma competição importante. Porque entretanto jogam as qualificações!", repara. "No Hóquei em Patins isto é impossível de fazer por haver poucas selecções e, por isso, o correcto é jogar-se, em anos consecutivos, Europeu e Mundial", conclui.

Massimo Mariotti lembra que nas provas de quatro em quatro anos há qualificações
Massimo Mariotti lembra que nas provas de quatro em quatro anos há qualificações

"Pessoalmente, quanto mais jogo mais me divirto", exclama o também italiano Leonardo Barozzi, campeão europeu às ordens de Massimo em Alcobendas e que capitaneou a "squaddra azzurra" no último Mundial. "Acredito que as grandes competições de selecções devem ser jogadas todos os anos. É uma maneira de promover o nosso desporto, principalmente em países onde é menos seguido", refere. "Em Itália, as únicas vezes em que se escreve sobre Hóquei em Patins nos jornais nacionais é quando joga a selecção italiana", exemplifica.

Leo Barozzi aponta as competições de selecções como os únicos eventos que merecem atenção nacional da imprensa em Itália
Leo Barozzi aponta as competições de selecções como os únicos eventos que merecem atenção nacional da imprensa em Itália

Mais além, vai Ricard Ares, escolhido como sucessor de Alejandro Dominguez na selecção espanhola após os World Roller Games de 2019 e que ainda não teve - nem terá tão cedo... - oportunidade de competir à frente da selecção absoluta masculina espanhola.

"A minha opinião é de que o Hóquei em Patins se distingue dos desportos com mais repercussão, como o futebol, e precisamos que tenha visibilidade anual", analisa.

Ricard Ares defende competições anuais, com uma nova competição
Ricard Ares defende competições anuais, com uma nova competição

Mas, preconizando as grandes competições em anos consecutivos, Ares propõe uma terceira competição, que juntaria a centenária Taça das Nações e a (extinta?) Taça Latina num mesmo evento, a realizar no final da temporada. "Desta forma, não se jogaria qualquer competição na Semana Santa e, no decorrer da temporada, não interrompíamos o trabalho dos clubes", explana. "A Taça das Nações de selecções seniores com a Latina em Sub-23 seria um evento espectacular e, se se conseguir oficializar, teríamos todos os anos um campeonato importante", vinca.

AMGRoller Compozito

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