«O cancelamento é o que vai acontecer em Portugal, Espanha, Itália…»

«O cancelamento é o que vai acontecer em Portugal, Espanha, Itália…»
Foto de capa: Lebkuchenhaus Productions

Em plena quarentena, o HóqueiPT lançou esta segunda-feira o desafio do primeiro “Vamos Falar de Hóquei em Patins” à distância a Carlos Silva.

O agora treinador e jogador do Diessbach, de 37 anos, representou Paço de Arcos, Alenquer, Benfica e, já na Suíça, o Basel, antes de em 2015 se fixar no seu actual clube. Internacional por Portugal e Moçambique vive a inédita situação de uma temporada cancelada…

Numa conversa que ultrapassou os 60 minutos a que a rádio restringe, Carlos Silva abordou a situação na Suíça e na Alemanha (onde reside, numa localidade fronteiriça com Basileia) e o controlo de fronteiras que agora condiciona o dia-a-dia, mas que será fundamental no combate à propagação do CoViD-19.

Desportivamente, a federação helvética deu todas as competições como canceladas, ao invés de prolongar a suspensão que vai acontecendo um pouco por toda a Europa. “Não acredito que daqui a duas semanas recomece o que quer que seja. Daqui a duas semanas vai estar 10 vezes pior”, afirmou Carlos Silva, numa visão que prenuncia um desfecho de cancelamento noutros campeonatos.

Para já, para lá do cancelamento, ainda não há mais definições. Por exemplo, de quem vai às competições europeias. Para Carlos ou este é um ano “nulo” e vinga a classificação do ano passado ou vale a classificação no momento em que terminou, ainda que tal tenha muito de injusto. “Não se vai poder agradar a gregos e troianos”, constatou. “Decidir campeão sem isto acabar não é justo”, vincou, ressalvando o mais importante. “Acima de tudo está a questão da saúde”, frisou.

Carlos Silva partiu em 2014 para a Suíça com uma aposta num projecto desportivo, mas também a pensar no futuro (recorde a entrevista de Carlos e Rui Ribeiro antes da partida), e um curso intensivo de alemão abriu-lhe portas de um emprego completamente à margem do Hóquei em Patins….

Espectador atento

Espectador (muito) atento do Hóquei em Patins nacional, Carlos entende o rótulo de “Melhor Campeonato do Mundo” no campeonato português como um rótulo financeiro, mas com fortes disparidades entre as equipas de topo. Sendo que a nível internacional, “em 10, o Barcelona continua a ganhar oito”, observa.

A situação que mais lhe toca é a do Paço de Arcos, onde regressou em 2010 depois de seis temporadas no Benfica, para o reencontro com um ambiente de uma envolvência especial. Mas o histórico clube da Linha vem perdendo identidade, com a “fuga” prematura de talentos, antes de chegarem aos seniores.

Os ditos “grandes” – Benfica e Sporting – são um chamariz, mas Carlos constatou como é difícil a chegada dos jovens jogadores às equipas principais nos grandes, tomando como exemplo o Benfica. Pedro Henriques “rodou” ainda nos Sub-20 no Parede, João Rodrigues chegou – apesar de ainda júnior – já para a equipa principal e o último a afirmar-se com mais anos consecutivos na formação terá sido Diogo Rafael… que já completou 30 anos.

A afirmação de jovens valores terá de passar por um percurso até aos seniores e, se tiverem valor, os convites não faltarão. Como quando, em 2004, Carlos Silva rumou ao Benfica com Valter Neves, Ricardo Barreiros, Pedro Afonso e Rui Ribeiro quando tinham também proposta para o Sporting e – “apenas” quatro – também do Portosantense, então liderado por Paulo Batista.

Dos anos de “clube grande” no Benfica, Carlos Silva recorda uma secção em transformação, a recuperar de “anos negros”, mas principalmente pessoas, cuja amizade perdurou para além da etapa de águia ao peito. Tal como aconteceu com o HóqueiPT, que na emissão mostrou ao guarda-redes a sua camisola da final da Taça de Portugal de 2005.

Moçambique

No regresso a Paço de Arcos, o guardião trabalharia com Pedro Nunes e viria a aceitar mais tarde o repto deste para representar a selecção moçambicana. Esteve nos Mundiais de 2015, 2017 e 2019 e viveu três modelos diferentes. Crítico das alterações permanentes ao formato, recordou o percurso na China – que ditaria a perda de uma segunda vaga africana no dito Mundial “A” – e em Barcelona, com uma preparação quase nula.

Desportivamente, o evento em Barcelona culminou com o triunfo na Taça Intercontinental, uma espécie de “segunda divisão” e o recuperar (a manter-se o modelo) da segunda vaga para África.

Em termos de promoção, para o Hóquei em Patins em geral, nem tudo correu bem. Pelo contrário. Jogando em Sant Cugat, o pavilhão – excepto na final com Andorra – esteve às moscas apesar da envolvência hoquística da Catalunha. “[Em Portugal] cria-se uma bolha mediática, vivemos um bocado num mundo à parte”, explicou.

Ao contrário de emissões anteriores, desta, com o directo assegurado por Instagram, não ficámos com imagens para a posteridade. Fica, no entanto, o áudio na íntegra, recordando que todas as emissões podem ser recordadas aqui ou nas diferentes plataformas de podcast.

AMGRoller Compozito

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