Uma Liga Europeia como as outras

«Que raio de Liga Europeia é esta sem as principais equipas da Europa? Qual a legitimidade de Valongo, Tomar, Trissino ou Sarzana como novo campeão?»

Uma Liga Europeia como as outras

No próximo fim-de-semana disputa-se em Torres Novas a Final Four da 57ª edição da Liga Europeia, a 56ª que chegará ao fim depois de 2019/20 ter sido cancelada em virtude da pandemia.

Pelo título lutam Valongo, Tomar, Trissino e Lodi, num figurino bem diferente do da última temporada (Sporting, Porto, Benfica e Oliveirense) ou de 2018/19 (Sporting, Porto, Benfica e Barcelona) e a falta dos clubes mais sonantes tem marginalizado esta edição.

No último defeso, a Associação Europeia de Clubes (EHCA) anunciou - em ruptura com a World Skate Europe e o seu comité-técnico - que os clubes seus associados não se inscreveriam e, pese a própria associação ter referido que a Golden Cup que promoveu "em nada pretende entrar em conflito com as competições europeias organizadas pela WSE [World Skate Europe]", há desconsideração dos adeptos pela legítima prova europeia, a mais importante prova europeia de clubes, que se joga desde 1966.

Mas os clubes com direito foram impedidos de disputar a Liga Europeia? Não. E os clubes que estão a jogar, têm direito a jogar a Liga Europeia? Sim.

A Liga Europeia disputa-se desde 2012 com quatro grupos de quatro equipas, quartos-de-final a duas mãos e Final Four. Os associados da EHCA entenderam que era hora de mudança e "bateram o pé" ao formato em que tantas vezes jogaram. Como no direito à greve, têm todo o direito a abdicar como forma de pressão, mas, da mesma forma que se deve respeitar essa opção própria, deve respeitar-se quem opta por participar, sem em nada deve ferir a legitimidade da prova.

No "bater de pé", note-se que, por exemplo, no modelo aceite desde 2012, Oliveirense e Noia, nem sequer tinham direito desportivo a participar na Liga Europeia. Seria o mesmo que o Atlético, com todo o respeito que merece o clube da Tapadinha, viesse anunciar ao Mundo que se recusa a participar na próxima edição da Liga dos Campeões de futebol e com isso "ferisse de morte" a legitimidade de quem vencesse.

Esta época, o Sporting abdicou (mais uma vez) da participação na europeia Taça da Liga Feminina. Como o Valongo, agora semifinalista na Liga Europeia, abdicou da participação na Taça CERS/WSE. São opções e não colocaram (não podiam colocar) em causa as respectivas provas. Na última edição, as equipas italianas abdicaram da Liga Europeia também em protesto com as decisões da World Skate Europe...

As equipas participantes na presente edição foram convidadas para a mais importante prova europeia de clubes em virtude de ausências, como tantas vezes aconteceu. Recorde-se que nos últimos anos, antes deste boicote em massa, foi recorrente que uma quarta equipa italiana entrasse na vaga da "desistente" equipa inglesa. Alguém colocou em causa essas edições? Bem, talvez os ingleses devessem fazê-lo.

Factualmente, esta edição será, no panorama de cada momento, a menos forte, com menos figuras maiores da modalidade. Porá isso em caso o título de "campeão da Europa"? Reparemos, assumidamente de forma maliciosa, no figurino da última edição da Taça dos Campeões Europeus, em 1995/96. Participaram Igualada (detentor do troféu), Barcelona (Espanha), Benfica (Portugal) e Novara (Itália). E ainda Agor Dordrecht (Holanda), Genéve (Suíça), Nantes (França), Weil-am-Rhein (Alemanha) e Wolfurt (Áustria). Apenas estas nove equipas. Eram representativas do que melhor se jogava no Velho Continente?

Contou? Claro que contou. Claro que vai contar.

Para "satisfazer" a prepotência dos adeptos que desvalorizam esta Liga Europeia, apontamos a cada um dos "três grandes" dos futebóis, naturais aglomeradores da maioria dos simpatizantes, com três exemplos de títulos que legitimamente (mas questionavelmente) chegaram aos respectivos museus.

Em 2011, o Benfica conquistou a primeira Taça Continental da sua história sem sequer jogar. O Liceo, campeão europeu, contestou a escolha de Viana do Castelo como palco e não apareceu, e as águias - orientadas por Luís Sénica, agora presidente da Federação de Patinagem de Portugal e da World Skate Europe - ganharam suando apenas num "jogo treino" entre os seus jogadores. Contou para o palmarés do Benfica? Claro que contou.

Já esta época, o Sporting venceu a Taça Continental em Lleida. Contrariando o que estava regulamentado, a World Skate Europe decidiu realizar a decisão apenas entre os leões e os catalães, quando Porto e Sarzana tinham o direito desportivo a participar. Independentemente da justiça de estarem os finalistas vencidos, é o que está no regulamento. Contou para o palmarés do Sporting? Claro que contou.

Três meses volvidos, em Dezembro, Sporting e Porto decidiram entre eles a Taça Intercontinental. Sem adversários pan-americanos. A Argentina propôs uma decisão na América do Sul, mas a proposta foi recusado e as equipas do país das pampas tiveram de abdicar da participação numa prova que seria decidida a duas mãos, com vitória dos dragões. Contou para o palmarés do Porto? Claro que contou.

Esta Liga Europeia de 2021/22 está talvez ferida de qualidade, mas não de competitividade. Será inclusivamente irónico recordar que, nesta mesma temporada, Valongo e Tomar já venceram um Benfica que viria a vencer a Golden Cup, anunciada como tendo as melhores equipas da Europa (mas sem representação italiana).

A conquista desta que é a mais importante prova de clubes europeia figurará no palmarés da prova ao lado de todas as outras, em igualdade, sem asterisco que se justifique. Valongo, Tomar, Trissino e Sarzana, alheios às decisões de terceiros, têm uma oportunidade ímpar de conquistar a Liga Europeia e investiram e trabalharam (e trabalham) nesse sentido, merecendo o respeito de todos.

Está quem quer.

E domingo há novo campeão.

AMGRoller Compozito

Partilhe

Facebook Twitter AddToAny