Porque se jogou no Livramento?

Porque se jogou no Livramento?

O dérbi de sábado no Livramento foi condicionado pelo estado do piso, afectado pela humidade dos dias que têm sido de (muita) chuva.

Já com muitos antecedentes esta época, estas eram dificuldades que se adivinhavam tanto que, na semana que antecedeu o dérbi, o Sporting treinou e jogou - com o HC Braga - em Torres Vedras, no pavilhão do SC Torres.

Os jogadores de parte a parte acabaram por arriscar pouco ("perdendo a cabeça" nos últimos minutos em que acabaram várias vezes no solo) e raramente imprimiram a velocidade que caracteriza o hóquei em patins.

O Benfica acabou por não confirmar um protesto apresentado antes do início do jogo. E, pela não confirmação, foi multado em 505 €.

O Benfica solicitou que fosse registado um protesto ainda antes do início da partida e esta decorreu sob o signo da interrupção, com múltiplas paragens para limpar a humidade visível que se acumulava e para os árbitros conferenciarem com os capitães sobre a interrupção ou não da contenda.

Sendo um cenário que se adivinhava, porque teve início – e terminou – a partida no Livramento?

A vontade do Sporting

O Livramento é a "casa" do Sporting desde o início da temporada transacta. Um bastião que antes deste dérbi só testemunhara duas derrotas - contra o Benfica para o Campeonato e frente à Oliveirense para a CERS – e onde o modesto Sporting Clube do Livramento, filial nº 148 dos leões, fez por que nada faltasse ao gigante da capital.

O Livramento não tem falhado no apoio aos Leões
O Livramento não tem falhado no apoio aos Leões

Para com esta generosidade das gentes da pequena localidade do concelho de Mafra há uma dívida de gratidão. Se o seu palco pode receber os emblemas de menor dimensão ao longo do campeonato, porque não pode testemunhar o maior dérbi do desporto português? Se seria racional mudar o palco do jogo como precaução? Naturalmente. Se seria moralmente justo para os fieis adeptos do Livramento? Não. Ainda que tal nunca pudesse colocar em risco atletas de um e de outro emblema.

Embora as dificuldades se adivinhassem, o facto é que ninguém podia dar certezas sobre o estado do piso à hora do jogo, sendo que a indicação/pedido de mudança de pavilhão tem de ser feita até 72 horas (três dias). Para “cobrir” a sua aposta, o Sporting instalou um desumidificador de dimensões industriais que em alguns momentos, à falta de mais emoção, foi aquecendo o ambiente.

Num dos acessos do pavilhão foi improvisado um sistema para minorar a humidade
Num dos acessos do pavilhão foi improvisado um sistema para minorar a humidade

A homologação institucional

Para que o Sporting pudesse utilizar esta época – tal como na anterior – o pavilhão do Livramento, o mesmo foi homologado para a competição antes do arranque das partidas oficiais. Tal homologação, segundo o Ponto 1 do Artigo 57º do Regulamento Geral de Hóquei em Patins, é da responsabilidade da Associação de Patinagem onde o clube está filiado, sendo que no caso do Sporting tal certificação terá sido garantida pela AP Lisboa.

A posteriori, e tomando este caso “escorregadio” como exemplo, será fácil constatar que o regulamento peca claramente na exigência de uma vistoria única para toda a temporada. Esta terá sido realizada em Agosto ou Setembro, altura em que a humidade estaria longe de ser o “inimigo”.

Pedro Nunes lamentou a falta de intervenção da FPP
Pedro Nunes lamentou a falta de intervenção da FPP

No final do encontro, Pedro Nunes não conteve a sua revolta – legitimada por não servir de desculpa a uma derrota - com as condições verificadas, revelando a sua preocupação com a condição física dos jogadores que representam águias e leões e, acima de tudo, o hóquei em patins. O treinador encarnado apontou baterias à Federação de Patinagem de Portugal, organismo máximo na tutela do Hóquei em Patins nacional.

Mas, sendo que a homologação do recinto é da responsabilidade da Associação de Patinagem, onde começa e termina a ingerência da FPP nesta questão? Ressalvando que o órgão federativo até poderia sobrepor-se a qualquer decisão neste âmbito, a sua acção só poderia talvez ser justificada num Ponto 3 do Artigo 58º. Aí lê-se que “No decorrer de toda a época desportiva, os clubes estão obrigados a manter os seus recintos desportivos – ou como tal considerados - nas condições regulamentares que tenham sido aprovadas pela vistoria”. Mas as condições climatéricas são previstas para interrupções temporárias ou definitivas de jogo… pela dupla de arbitragem presente em cada jogo.

Marco Lopes, seccionista do Sporting incumbido da limpeza do piso, acabou por ser dos elementos mais intervenientes no jogo
Marco Lopes, seccionista do Sporting incumbido da limpeza do piso, acabou por ser dos elementos mais intervenientes no jogo

Da dupla de arbitragem

Folheando mais um pouco os regulamentos, no Ponto 1 do artigo 62º, lê-se que “Aquando da realização de jogos ou provas nos recintos aprovados para o efeito, compete aos Árbitros verificar se os mesmos não apresentam quaisquer deficiências que impeçam a sua utilização”. Contactado pelo HóqueiPT, João Paulo Romão confirma a responsabilidade exclusiva dos juízes. “Quem decide é sempre o árbitro”, afirma taxativamente. “Pode perguntar uma opinião aos capitães, mas a decisão cabe sempre ao árbitro”, reitera.

O ex-árbitro defende que a partida se devia ter realizado – como aconteceu – sublinhando mesmo que “o jogo foi interrompido excessivamente”. Com as devidas distâncias e diferenças, João Paulo Romão lembra outros tempos, em que o regulamento mandava jogar “desde que a bola pudesse rolar”. Ainda que defenda a integridade dos jogadores, o ex-árbitro não defende a via da alteração de pavilhão. “Os jogadores devem adaptar-se às condições. Se não podem patinar mais depressa, patinam mais devagar, quiçá com rodas próprias”, refere.

Jaime Vieira ouve as razões de Figueira e Neves
Jaime Vieira ouve as razões de Figueira e Neves

No dérbi foram frequentes as conferências de Jaime Vieira e Ricardo Leão com os capitães Ricardo Figueira e Valter Neves. “Foi por vontade de ambas as equipas”, afirma o árbitro Ricardo Leão quanto à não interrupção definitiva da partida, ainda que reconheça que o capitão encarnado se queixou em alguns momentos da pista “demasiado escorregadia”.

Num jogo que foi muito tranquilo, Leão prefere sublinhar e congratular-se pela atitude dos jogadores, sempre de respeito para com os adversários e a facilitarem a tarefa da dupla de arbitragem. “Promoveram a modalidade, jogaram à velocidade que puderam e fizeram tudo, mas tudo, por se respeitarem uns aos outros”, elogia, lembrando o bom senso pedido pelo presidente da FPP, Fernando Claro, nos dias que antecederam o jogo. “Dentro das quatro linhas, todos os intervenientes usaram do bom senso, respeitaram-se ao máximo”, enaltece.

Com mais queda, menos queda, os 50 minutos do dérbi foram mesmo cumpridos no Livramento.

AMGRoller Compozito

Partilhe

Facebook Twitter AddToAny
Outros artigos do dia