Jordi Bargalló, de menino a mito
Marc Libiano

#ABOUT Marc Libiano Pijoan, jornalista desportivo actualmente no Diário de Tarragona. Apaixonado pelo desporto em geral e pelo hóquei em particular.
Os sonhos daquele menino que recebeu o baptismo de patins na histórica pista do Colégio Sant Josep, nunca terão idealizado uma passagem tão idílica pelo Riazor. Porque Jordi Bargalló Poch (Sant Sadurní, 1979) já é uma lenda do Liceo. É-lo por meritocracia, não por actuações superficiais sem conteúdo. O seu hóquei, influente em muitas zonas da pista, capaz de assumir papéis infinitos, elevou um daqueles clubes “fetiche” que conquistam a admiração pelas suas tardes épicas, tanto na glória como no fracasso. Bargalló, no seu rosto, resume todas as cicatrizes do Liceo.

12 épocas, reunidas em duas etapas (2002 a 2006 e 2008 a 2016), coroam o trajecto deste poderoso representante do Hóquei em Patins total. A lista de prémios ilustra este ciclo de luxo. Três Ligas Europeias, uma OK Liga, duas Taças Continentais, duas Intercontinentais, uma Taça CERS e uma Taça do Rei exibem-se, sem pó, na privilegiada vitrina que tem numa sala em casa, porque para Jordi o Liceo não é apenas mais um passo na carreira. É a sua obra mestra. Nele conquistou prestigio e um estatuto superior no mercado.

A evolução deste rapaz, de anatomia imponente, superou as expectativas. Apareceu como um avançado a fazer valer o físico, para se impor como um todo-terreno diferencial, de carisma e personalidade valente, para assumir responsabilidades quando o resto da humanidade se encolhe. Decisivo em muitos registos do jogo, alcançava a plenitude especialmente no ataque sem descanso em que jogava a sua equipa. De certeza que nenhum treinador o influenciou mais do que Carlos Gil. O argentino pode reclamar mais do que uma medalha na evolução especial deste seu discípulo que viu nascer, crescer e afirmar-se como uma figura mundial. Jordi sustentava grande parte desse jogo preciosista que exibiu o Liceo na última década. Ninguém jogou melhor que a equipa do professor Gil.

Jordi despediu-se daquele templo próximo às ondas da praia de Riazor há algumas semanas, inundado de emoção e de afecto dos fãs. Não existe nada mais especial que o reconhecimento do teu trabalho a milhares de quilómetros do berço da tua casa, ainda que a Corunha já seja o seu exílio dourado eleito quando tiver de se conformar em sentar-se no sofá, a contemplar prémios e a regozijar-se com o seu passado. Antes há ainda um último desafio na emergente Oliveirense, com quem assinou o último grande contrato da sua carreira. Enquanto na Corunha ficam as recordações nostálgicas daquele menino que se tornou um mito...
Marc Libiano
Sábado, 6 de Agosto de 2016, 9h51