«A porta está fechada para a crítica fácil»
Se Fernando Claro é a figura maior da Federação de Patinagem de Portugal desde 2003, a organização das diferentes disciplinas delega no vice-presidente Paulo Rodrigues a responsabilidade mais directa sobre o Hóquei em Patins.
Paulo Rodrigues foi designado para um terceiro mandato na assembleia geral eleitoral de 29 de Outubro, mais uma vez sem concorrência. "É óbvio que há confiança das pessoas no trabalho que foi desenvolvido", afirma, ressalvando que o aparecimento de outras listas seria salutar. "Seria benéfico, mais que não fosse para a discussão, para mexer com as mentalidades, para nos obrigar a todos a pensar mais Hóquei em Patins, e não só, na patinagem no geral", reflecte.
E porque não são concretizadas essas alternativas, de que muitas vezes se ouve falar nos "bastidores"? O vice aponta ao mérito que acaba por ser reconhecido, mesmo que não publicamente. "Creio que eventuais ou alegados 'adversários' acabam por reconhecer que há trabalho feito e que, isto é feio de se dizer, mas iriam a votação para perder", opina, reiterando as desculpas pela afirmação pouco política.
Mas há críticas, que Paulo Rodrigues não menospreza. "Essas críticas devem ser sempre entendidas por quem está nestes cargos como positivas e, mesmo das coisas más, devemos retirar ilações e tentar corrigi-las", admite. No entanto, por vezes, as críticas não são totalmente racionais. "Os críticos não devem misturar as pessoas e os cargos que ocupam e, em algumas situações, isso aconteceu e não é benéfico para ninguém. Baixa-se o nível da discussão e não é bom para a modalidade", acusa, com a convicção que será muito difícil mudar mentalidades. "Essa contestação há-de sempre existir", conforma-se, encarando-a como uma alavanca para melhorar.
A porta está completamente fechada para a crítica fácil de que nada se faz.
"Temos sempre oportunidade de corrigir e acredito que, paulatinamente, temos vindo a demonstrar que é isso que queremos fazer. Queremos estar num plano de igualdade com todos os agentes da modalidade, sejam eles as associações de patinagem, que são os nossos parceiros primordiais, mas também com os clubes", explica. "A nossa função e a nossa batalha é que as pessoas se entendam, que os agentes envolvidos na modalidade saibam que a FPP continua com uma porta sempre aberta para ouvir críticas construtivas, opiniões, contributos...", resume, batendo com a porta ao "falar-por-falar". "A porta está completamente fechada para a crítica fácil de que nada se faz", alerta.
2012-2016
Em Outubro fechou-se mais um ciclo de quatro anos na vice-presidência para o Hóquei em Patins. Em 2012, na realização da Supertaça António Livramento em Paredes, Paulo Rodrigues conduziu os testes para a implementação do Boletim de Jogo Electrónico. Mas o processo, com muitos revezes só agora foi concluído, balizando todo um mandato.
O Boletim de Jogo Electrónico foi oficialmente estreado na Supertaça António Livramento, a 24 de Setembro. Para o campeonato, a versão electrónica das "fichas" arrancou a 22 de Outubro.
"Se nós fôssemos políticos, poderíamos sempre dizer que foi uma medida prometida e concretizada durante o mandato. Ou seja, estava no programa eleitoral da Direcção que cessou e, antes do final do mandato, ela foi cumprida", ironiza. "Estaríamos a ser cínicos... Foi um processo que não correu da melhor maneira. Quem estava indigitado para fornecer este serviço, protelou-o e nós também não fomos tão eficazes como deveríamos ter sido", reconhece. "Fomos acreditando nas pessoas, porque isto também se trata muito por aí, da crença que há no interlocutor, mas chegou a uma altura em que tivemos de tomar uma decisão e arrancar com a medida, mesmo com a noção de que este processo não está terminado e que há muitas coisas ainda a limar, há muitas coisas ainda a fazer", aponta, reiterando que a medida não foi tomada tendo em conta as eleições. "Não foi de todo com a perspectiva eleitoralista, foi cumprir uma promessa que foi feita às Associações de Patinagem, em primeira mão, e aos clubes", frisa.
A definitiva implementação dos boletins de jogo electrónicos não foi, naturalmente, a única medida do mandato que agora terminou. Algumas de que se orgulhe particularmente? "Honestamente, não as contabilizo. Porque acredito no trabalho de todos e não faço das medidas ou das alterações bandeiras pessoais", refere. "Continuo a acreditar num projecto colectivo e acho que esta Direcção se pode orgulhar de algumas medidas", congratula-se, enumerando algumas. "As equipas 'B', a redução dos clubes nos quadros competitivos da I e II Divisão, o facto de ter respondido a alguns desafios e de termos hoje mais de 40 clubes a disputarem a III Divisão, de termos feito um quadro competitivo nos Sub-20 com um patamar competitivo extremamente importante para o futuro...", exemplifica.
Acredito no trabalho de todos e não faço das medidas ou das alterações bandeiras pessoais.
"Encaro este mandato e o anterior como projectos sempre inacabados, acho que há sempre coisas que podemos melhorar, continuo a não estar satisfeito com o trabalho que foi feito, queremos mais, queremos fazer mais e melhor", declara. "De um ponto de vista pessoal, posso orgulhar-me de acreditar num projecto que agora dá frutos, e de que toda a gente fala", lança. "É o projecto de detecção de talentos. Hoje dominamos ao nível dos Sub-20, somos vice-campeões da Europa nos Sub-17, somos campeões europeus de Seniores, e isto é tudo fruto de um trabalho que começou em 2004", congratula-se.
Paulo Rodrigues é vice-presidente para o Hóquei em Patins desde Novembro de 2008.
O desafio é ter "massa humana" para continuar a descobrir talento nas gerações vindouras. "Será um enfoque, principalmente nos escalões mais baixos, com a implementação do mini-hóquei e a sua promoção", sublinha Paulo Rodrigues. "Está mais do que provado noutros países, e cá também, que é necessário pôr o mini-hóquei a funcionar a todo o gás de forma a criar uma base sustentável para a existência de mais atletas", reitera.
Visibilidade
No fim deste último mandato foi assinado o protocolo com a TVI para a transmissão de jogos na TVI24, medida aplaudida por alargar claramente o universo de público com acesso. "Acredito que este acordo firmado com a TVI é muito benéfico para o Hóquei em Patins, até porque, a médio prazo, o projecto [da Média Capital] não se fica simplesmente pela transmissão de jogos", refere. Apesar do âmbito ainda não extravasar para já o dos jogos (antevisões, transmissões, resumos), Paulo Rodrigues garante que há planos para mais. "Querem ajudar a promover mais a disciplina, querem contribuir para que se veja o Hóquei em Patins como um produto que pode ser perfeitamente vendido porque é um produto perfeitamente televisionável", afirma.
O Hóquei em Patins está na moda e nós queremos aproveitar a televisão como o veio de transmissão de toda esta dinâmica.
Este trabalho não é de agora e Paulo Rodrigues recorda o que anteriormente foi feito. "Não podemos esquecer o trabalho que a Direcção anterior fez - que nós fizemos - no sentido de colocar novamente o Hóquei em Patins na televisão, n'A Bola TV", lembra, reconhecendo o trabalho de cobertura realizado por aquele canal, exclusivo Meo. "Seríamos desonestos se não tivéssemos também uma palavra para com a A Bola TV que, numa fase importante, abriu a porta da televisão de uma forma regular e que fez perceber outras operadoras que, afinal, o Hóquei em Patins é um produto televisivo de excelência", elogia.
Relacionado com essa linha estratégica, o presidente Fernando Claro, na altura da reeleição, sublinhou que vai haver uma aposta forte em comunicação e imagem, que esse será o grande tema deste mandato. Para Paulo Rodrigues, tal não pode ser restringido à visibilidade pública, mas também à modernização de processos.
"A comunicação e imagem não se traduz só naquilo que vemos através do nosso site, através da nossa página do Facebook ou do Twitter", explica. "É também a forma como vendemos essa imagem e a forma como comunicamos com aqueles que são os nossos principais agentes, sejam as associações ou os clubes", aponta, detalhando. "A forma de comunicarmos com os clubes e as associações tem de ser mais ágil. Tem de ser mais adaptada à realidade de hoje em dia. Por exemplo, estamos a estudar algumas soluções para poderemos fazer notificações aos clubes. Hoje em dia o email é uma ferramenta de eleição, mas muitas vezes há necessidade de ter um comprovativo e nem sempre isso é possível. Mas existem plataformas electrónicas que nos permitem fazer isso", exemplifica.
"Isto é comunicação, isto é imagem: conseguirmos ser mais pró-activos e mais lestos nas respostas àquilo que nos solicitam", sublinha determinado.
Todos de "olhos em bico"
Em 2017, o Hóquei em Patins vai integrar os World Roller Games, no que se pretende um grande evento de promoção da Patinagem em geral. Os custos da deslocação de uma numerosa comitiva à China assustam, mas a presença de Portugal nos três Campeonatos do Mundo que aí se decidirão é garantida. "Claro que sim. A hipótese de não estarmos nem se coloca", indigna-se.
Lisboa dista de Nanjing, sede dos World Roller Games, cerca de 10,500 km.
"São campeonatos do mundo. Ainda há pouco tempo, o Luís Sénica disse numa entrevista que, como campeões da Europa de seniores seremos sempre favoritos a conquistar o Mundial. Somos vice-campeões do mundo em seniores femininos, somos bicampeões do mundo de Sub-20, ...", enumera, traçando desde já objectivos para os três Mundiais que se disputarão em Nanjing: seniores masculinos, seniores femininos e sub-20. "Em duas das competições queremos o título mundial, na outra queremos revalidá-lo", concretiza.
E o trabalho já está a ser feito. "Já foram feitas consultas de mercado relativamente às viagens para Nanjing, não só para o Hóquei em Patins, mas também para as outras duas ou três disciplinas, incluindo o skateboard, porque temos uma previsão do número de pessoas que teremos de deslocar para a China e queremos o quanto antes assegurar os melhores preços nas viagens", explica.
Sexta-feira, 9 de Dezembro de 2016, 14h50