Kouokam quer Hóquei em Patins forte nos Camarões
Fotos: Projecto Hockey CamerounNão há muitos argumentos que possam contrariar a afirmação de que o Hóquei em Patins é um desporto localizado num limitado número de pontos do globo.
Mas, aqui e ali, a paixão de alguns faz a modalidade florescer em sítios onde se imaginaria que o terreno fosse infértil.
Kouokam Kamtchueng abraçou o desafio nos Camarões, em plena África Central. Ex-jogador em França, tendo representado emblemas de nomeada como o Noisy Le Grand ou o Saint-Omer, não começou cedo. "Os meus pais compraram-me um par de patins quando tinha oito anos, e inscreveram-me num clube quando tinha 11", recorda. Mas a paixão ficou para toda a vida. "Agora, que já não jogo, consegui tempo para me dedicar a este projecto", refere Kouokam.
E que projecto é este? "Aos 15 anos descobri que Angola tinha a sua equipa de hóquei. Era algo de mágico para mim, ver uma equipa totalmente Africana. Fiquei muito orgulhoso. E desde essa altura que tenho o sonho de fazer o mesmo nos Camarões", conta-nos. E aponta alto.
"Os objectivos do projecto Hockey Cameroun são altos", revela o ex-jogador de 36 anos, já nascido em França, em Mont Saint Aignan, mas que nunca perdeu a ligação aos Camarões. "Queremos não apenas desenvolver o Hóquei em Patins, mas também obter bons resultados a nível internacional e, mais cedo ou mais tarde, traremos o Campeonato do Mundo", ambiciona de forma aparentemente desmedida, mas na medida certo do seu sonho. "Temos de perceber que o nível mundial Hóquei mundial não é assim tão elevado. Mesmo nos países latinos, muitas vezes tomados como exemplo, o Hóquei em Patins é um pequeno desporto", justifica.
Mas é preciso dar passos firmes na afirmação do Hóquei em Patins. Num país de mais de 23 milhões de habitantes, o único desporto com impacto além fronteiras é o futebol, personificado no mítico Roger Milla e no expoente Samuel Etoo.
E um dos principais problemas da implementação do Hóquei em Patins é que a modalidade carece de infraestruturas especificas, desde logo adequadas à patinagem. "Estamos em negociações para a cedência de cinco campos nas escolas", anuncia Kouokam. "As coisas podem concretizar-se e acelerar a qualquer momento. É o que se passa muitas vezes em África, ao montar projectos. O importante é conseguir dar resposta quando as coisas estiverem feitas", explica.
Entretanto, a patinagem vai... rolando. "Actualmente há camaroneses a patinar na rua", conta-nos, sublinhando um evento que pode ser decisivo. "Nasceu uma sala em Yaoundé [ndr: capital dos Camarões] e acredito que a modalidade vai crescer", deseja, dissecando alguns números. "Na cidade de Douala posso estimar o número de patinadores regulares entre 150 e 200. O número de patinadores é superior em Yaoundé, mas estes são irregulares. A diferença advém das pessoas em Douala andarem nas ruas, enquanto em Yaoundé irem pontualmente a uma sala dedicada a patinagem ocasional", explica. À patinagem, segue-se o Hóquei em Patins. "Já tive oportunidade de organizar uma sessão de descoberta do Hóquei em Patins em Douala, e correu muito bem", congratula-se.
Vão sendo passos pequeninos, mas que Kouokam quer consolidados, sem depender de benesses locais. "Não há qualquer ajuda local, regional ou nacional. Mas a ideia não é que o objectivo seja cumprido assim", ressalva. "Queremos transformar não só a patinagem dos Camarões, mas o desporto como um todo. Se não for profissionalizado e não encontrar os meios para se financiar, está condenado", vaticina.
Já o material para o Hóquei em Patins será mais difícil de conseguir numa primeira fase e para tal, porque a globalização do desporto - fundamental para contrariar as sucessivas negas olímpicas - tem de ser um objectivo de todos, Kouokam apela a quem possa ajudar.
Carlo Di Benedetto dá a cara pelo projecto, tendo apelado à doação de material em Espanha e em França.
"O material pode ser encaminhado para França, onde actualmente resido", explica. "Os clubes ou pessoas que tenham disponibilidade para ajudar com equipamentos, incluindo partes de patins (travões, rodas, rolamentos, botas, plataformas), podem contactar-me por email [kouokamk@yahoo.fr] ou directamente através da página de facebook do projecto para definirmos a forma de entrega mais adequada.
O sonho de Koukoam do Hóquei em Patins nos Camarões vem de longe. "Desde que comecei na modalidade e que descobri que existiam campeonatos do mundo", revela. Poder-se-á dizer que a sua ambição - a sua visão, o seu sonho - está sobredimensionada, que é irreal. Mas não é assim que começam todas as revoluções?
"Um grande obrigado a todos que nos apoiam e permitir que este projecto evolua rapidamente", despede-se Kouokam.
Segunda-feira, 23 de Janeiro de 2017, 14h09