«Era importante começar bem o campeonato»
Pedro Nunes apresentou-se na conferência de imprensa naturalmente mais satisfeito que o seu congénere leonino após a vitória encarnada. Para o técnico do Benfica, depois da derrota na Supertaça era muito importante começar bem o campeonato.
Vitória difícil
Pedro Nunes: Uma vitória sofrida. Aliás, já perspectivava que assim fosse. Era importante começar bem o campeonato. Era importante começar a ganhar, ainda para mais sabendo-se que o Benfica vinha de um período negativo pelo facto de termos perdido a Supertaça. O Sporting também tentou jogar com isso. Foi decisiva a forma como abordámos o jogo, principalmente nos primeiros minutos. E aqueles dois golos deram-nos alguma dose de confiança para encarar o resto da partida.
Penso que foi um jogo extremamente disputado, com alternâncias de domínio e de controlo de jogo. O Sporting tem uma boa equipa. Estou desconfiado e quero crer que vai crescer à medida que os seus jogadores estiverem cada vez mais entrosados. Dificultou imenso em termos defensivos. Jogou numa zona, num bloco mais baixo do que nós e teve um guarda-redes em altíssimo nível que, na primeira parte, por duas ou três ocasiões, negou o golo ao Benfica. E também agora, nesta segunda parte, quando o resultado estava em 3-2, nomeadamente na bola parada do Nicolía.
#IMAGE2470 Pedro Nunes
Felicidade
Pedro Nunes: O Benfica foi mais feliz. Aproveitou melhor as bolas paradas e, há uma semana, perdeu uma Supertaça porque não aproveitou tantas bolas paradas como o adversário. No entanto, considero que o Benfica é um justo vencedor. Procurou mais a baliza, foi mais perigoso perto da baliza do Girão, que fez uma belíssima exibição. Fomos uma equipa sempre muito mais ofensiva e, de uma forma estruturada e pensada, o Sporting utilizou e abusou muito do jogo directo, do tiro exterior à procura do pivô dentro da área. Mas, quando um resultado é 3-2, uma equipa marcou bolas paradas e outra não, quando em dois dos últimos três minutos que faltavam do jogo se joga três-para-três, tem de haver felicidade de quem ganha e, obviamente, alguma infelicidade de quem perde.
A arbitragem vista por Nuno Lopes
Pedro Nunes: Eu acho que foi um bom jogo de hóquei. Sinceramente. Excelente ambiente e duas equipas que em alguns momentos também complicaram a tarefa dos árbitros. Tenho na memória alguns lances duvidosos. Alguns a nosso favor, alguns contra. Agora, não me parece, até porque não quero ser confrontado com respostas via Facebook como fui depois do último derby, que os árbitros tenham tido influência no desfecho final. O meu amigo Nuno Lopes terá as suas razões, terá visto os lances de uma forma diferente da minha, certamente.
Eu lembro-me vagamente de alguns lances. Um deles dá a nossa 10ª falta. O Miguel Rocha passa pelo meio de dois jogadores com o stick nas duas mãos e o árbitro diz que ele está a agarrar o stick do adversário. O rapaz só tem duas mãos! Para uma primeira jornada do campeonato, num jogo - repito - num bom jogo, muito disputado, muito emotivo, nervos à flor da pele em ambas as equipas por razões diferentes, não me parece bem que estejamos já a canalizar o nosso foco para as questões de arbitragem. Vocês pensarão "o tipo ganhou, está a falar assim". A semana passada perdi, reconheci valor ao adversário. Lembro-me de ter perdido o campeonato a época passada num jogo que estará na memória de todos e que foi o único jogo em que fui concludente nas críticas à arbitragem. Em todos os outros, mesmo tendo razão de queixa, fugi sempre a essa questão. De qualquer das maneiras, respeito a opinião do meu colega e amigo Nuno Lopes.
#IMAGE2466 Miguel Rocha justifica-se na décima falta encarnada
Nicolía e López juntos
Pedro Nunes: O Benfica contra o Valongo utilizou uma dupla inicial com João Rodrigues e Nicolía e hoje utilizou a dupla López e João, mas sempre num esquema de rotatividade entre os três jogadores, mais o Miguel Rocha que optei por colocar a jogar à frente. São jogadores de elevada capacidade técnica e táctica individual porque nós não podemos descurar a ideia de que uma coisa é o malabarismo com o stick e outra coisa é o malabarismo dentro do jogo, que tem uma forte componente táctica. São jogadores desequilibradores. Aliás, a jogada do terceiro golo... normalmente os treinadores é que ficam com a "grande jogada" mas a jogada é deles. Aprenderam na Argentina. Porque são jogadores que têm essa capacidade naquele momento. Aliás, até diria que aquela jogada é uma jogada de Panchito e Gaidão. E como o ídolo do Nicolía é o Panchito, se calhar foi à procura disto.
Nicolía a jogar atrás…
Pedro Nunes: O Sporting também tem um aspecto desses. O João Pinto jogou a maior parte do tempo atrás e é um avançado nato, um jogador que joga muito bem dentro da área, em zonas muito próximas da baliza. É evidente que o Nicolía para ter a bola precisa de espaço e obviamente que, com o Sporting a defender num bloco de 16 metros, o espaço era só exterior e portanto o Carlitos procurou muitas vezes zonas de 20 metros para embalar a bola e criar situações de ruptura de um-para-um nos corredores. Agora, o jogo ofensivo de hóquei não o consigo sistematizar dessa forma. Acho que um avançado tem de saber ser médio e vice-versa. E se quisermos remeter isto para coisas mais profundas, tem de saber jogar fora e dentro.
#IMAGE2463 Carlos López marcou em jogada de entendimento com Nicolía a um segundo do intervalo
… com Carlos López e João Rodrigues na frente
Pedro Nunes: Ficava uma equipa muito ofensiva. Numa situação de extrema necessidade, até porque o João não é um avançado nato - toda a sua formação foi feita a jogar a médio - e poderá muito bem compensar, mas só mesmo em situação extrema. Fica uma equipa demasiado ofensiva e exposta a lacunas defensivas demasiado evidentes.
Factor surpresa
Pedro Nunes: Se eu perguntar ao treinador adversário qual é o jogador mais perigoso do Benfica, ele vai perguntar-me "onde?". Se estivermos a falar dentro da área, vai-me dizer que é o João Rodrigues e toda a gente tem o foco nele. Dificilmente consegue fazer algum golo ou então em 10 marca um. Agora, se aparecer lá o Diogo Rafael ou o Valter, há tendência para explorarmos o factor-surpresa, que às vezes é decisivo neste jogo. Perguntem ao Girão se estava à espera que fosse o João Rodrigues a marcar os penaltis. Não estava. À segunda, provavelmente. Mas na preparação do jogo, tenho quase a certeza que nos jogadores identificados pelo Sporting que iriam marcar grandes penalidades estavam lá todos menos o João. Isto é assim. Nós, treinadores, andamos aqui à procura do segredo e o segredo está por vezes em coisas muito simples.
João Rodrigues nos penaltis
Pedro Nunes: Tem muito a ver com quem vai defender. Já tive oportunidade de falar isto em off e em conversas informais com vocês. Olhamos sempre para quem vai marcar e esquecemo-nos de quem está a defender. Hoje em dia treina-se muito a bola parada porque os jogos podem ser decididos numa bola parada. Mas temos de ver o ponto de vista do antagonista - neste caso o guarda-redes - e do protagonista, que é quem vai marcar.
#IMAGE2465 João Rodrigues bisou da marca de grande penalidade
E há momentos em que se estudam uns aos outros. Umas vezes ganha o guarda-redes, outras vezes ganha quem marca. E a questão acho que tem muito a ver com quem é o guarda-redes. E preparam-se as coisas mas às vezes sai tudo furado. Depois chegamos àquela fase em que um não dá, outro também não e arranjamos uma quinta escolha. E alguma vez temos de acertar.
Pedro Henriques nas bolas paradas
Pedro Nunes: É uma opção momentânea. No último jogo, o Trabal sofreu quatro bolas paradas em quatro tentativas. O treinador tem dois caminhos. Ou persiste e insiste no erro e é apelidado de burro e estupido. Ou então tenta mudar qualquer coisa. Ainda para mais, não sendo novidade o Pedro Henriques entrar para defender bolas paradas. Trabalhámos durante a semana nesse sentido. Preparámos o Pedro e preparámos também o Guillém dizendo-lhe que "se acontecer isto, vai haver troca". Fomos felizes. Se calhar, se fosse ao contrário, eu era um burro, um estupido. Calhou assim.
#IMAGE2461 Pedro Henriques entrou para defender dois livres directos
Domingo, 5 de Outubro de 2014, 21h50