Stuart de prata, numa experiência para o futuro
Fotos: Marzia Cattini @ WS Europe RHO Cerdanyola foi o grande vencedor da quinta edição do torneio feminino de Sub-17 promovido pelo comité europeu que terminou no passado dia 16.
Este ano, o evento homenageava Quima Jimeno, uma das pioneiras do hóquei feminino contemporâneo em Espanha, e o troféu ficou em casa. O anfitrião Cerdanyola fechou o torneio com seis vitórias em outros tantos jogos, terminando como o melhor ataque (26 golos marcados) e a melhor defesa da prova (apenas dois golos sofridos). Em casa ficou ainda o troféu de melhor marcadora, para Txell Gimeno, com 10 tentos conseguidos.
A “pichichi” do evento foi mesmo determinante no jogo que viria a decidir o troféu, a vitória do Cerdanyola sobre as portuguesas da Stuart por 7-1. Txell apontou quatro golos, a que se juntou um hat-trick de Anna Martin, não conseguindo as portuguesas senão um tento de honra, por Madalena Bravo.
No mesmo dia que defrontaram o Cerdanyola, as portuguesas tinham tido um teste duro ao final da manhã, passando com distinção frente ao Gijón, numa vitória por 3-0 frente a uma equipa onde poderia estar, por exemplo, Sara Roces, de 16 anos, que jogou na Intercontinental pela equipa principal, detentora da Liga Europeia.
De resto, a prestação das jovens portuguesas da Stuart merece destaque. Vice-campeãs com cinco vitórias em seis jogos, 21 golos marcados e 11 sofridos, vencendo, para além do Gijón, as também espanholas Mataró (3-1).
“Entendo que foi altamente positiva”, conta-nos João Benfeitas, treinador que acompanhou a equipa à Catalunha. “Não só pelos resultados desportivos, mas muito pela experiência que passaram”, frisa. “O clube e todo o staff que as acompanhou pretendeu que as atletas vivenciassem tudo de uma forma muito ‘profissional’”, explica. E detalha.
“Pretendemos passar para elas a cultura de uma equipa de competição, focadas apenas na atitude competitiva e dar-lhes ‘maturidade’ neste tipo de evento”, sublinha, ressalvando algumas das dificuldades de concretização dos objectivos. “Abordámos a competição com nove jogadoras de três escalões diferentes, uma atleta que, apesar de ser sub-17 participa apenas nas rotinas da equipa sénior, quatro atletas Sub-17 e quatro Sub-15, sem rotinas de treino entre elas e com diferentes etapas de formação atingidas”, expõe.
Em Portugal não é comum existirem equipas de formação exclusivamente femininas, ao contrário do que se faz, por exemplo, no país vizinho. “As atletas estiveram durante cinco dias em contacto com diferentes realidades, nomeadamente com três clubes espanhóis, onde todos reconhecemos que a dinâmica do hóquei feminino é muito mais apurada, com um número de atletas muito superior e com um calendário e diversidade competitiva bem diferente do praticado em Portugal”, analisa Benfeitas. “Foi muitíssimo enriquecedor”, sumariza.
A pensar no futuro
Com o malogrado Prof. João Campelo como patrono, a Stuart Hóquei Clube de Massamá tem desenvolvido um projecto interessante no Hóquei em Patins feminino. Vice-campeã nacional em 2016/17, a equipa feminina foi premiada pelos seus dirigentes com a ida à Liga Europeia. E não desiludiu. Chegou à Final Four da prova e apenas “caiu” frente àquelas que se sagrariam campeãs na Luz, as campeoníssimas do Gijón.
Às ordens de Andreia Barata, a Stuart terminaria o último Campeonato “apenas” em quarto, em igualdade pontual com o terceiro, Académica de Coimbra. No entanto, voltaria a merecer confiança directiva para abraçar a aventura europeia também esta temporada.
O sorteio foi madrasto e ditou o confronto com o poderoso Voltregà logo na pré-eliminatória. A Stuart seria afastada com uma derrota na Catalunha e vítima do rigor regulamentar do comité europeu, punindo a equipa com falta de comparência na segunda mão por falta de treinador habilitado, sendo que Andreia Barata deixara o comando técnico poucos dias antes.
Internamente, cumprida a primeira volta da primeira fase, a Stuart é segunda na Zona Sul, com apenas uma derrota – frente ao Benfica – em seis jogos.
O trabalho desenvolvido na formação é também a pensar na equipa principal. “Penso que muito do futuro da equipa sénior poderá passar por este grupo. No entanto, não se deverá perder o horizonte de conseguir dotar estas jogadoras de mais e melhores competências desportivas”, ressalva João Benfeitas. “Para isso, terá de se continuar a apostar muito forte na formação no hóquei feminino, não só no clube em si, mas nos diversos clubes e associações”, alerta.
E o que pode ser feito? “Fomentar cada vez mais as competições, como por exemplo os torneios interassociativos que decorreram no passado ano em Vila Franca de Xira, Cucujães, Estremoz e Arazede. Isso poderá ser uma base importante para o crescimento das atletas e da modalidade”, defende o treinador da Stuart.
Outro aspecto importante é o da motivação das atletas. “A promoção dos eventos ‘OIST’ [Observação, Identificação e Selecção de Talentos] da Federação de Patinagem de Portugal, são, por outro lado, um ponto de partida muito importante, não só na avaliação dos atletas pelos treinadores envolvidos, como pela motivação de cada uma delas para a prática da modalidade e melhoria das suas competências”, destaca.
Quem sabe se as jovens que estiveram agora na Catalunha não seguem as pisadas de, por exemplo, Sofia Moncóvio ou Ana Catarina Ferreira, atletas seniores do emblema de Massamá que estiveram no último Campeonato da Europa em representação da selecção das quinas?
Para já fica um segundo lugar de prestígio, uma grande experiência a que se deveriam somar outras. “Infelizmente, não conseguimos ter orçamentos para a promoção de um maior número de estágios, que são grandes catalisadores de motivação para as atletas”, lamenta João Benfeitas.
Quinta-feira, 27 de Dezembro de 2018, 23h33