Vieira e Vieirinha, pai e filho adversários... mas pouco

Vieira e Vieirinha, pai e filho adversários... mas pouco

O jogo entre Benfica e Óquei de Barcelos é um Clássico do Hóquei em Patins em Portugal. Um jogo sempre especial, emotivo.

Mas, no último sábado, foi ainda mais especial para uma família em particular. A três dias do Dia do Pai, Miguel Vieira, jogador das “águias”, defrontou Carlos Vieira, enfermeiro dos “galos”.

Miguel Vieira nasceu em Setembro de 1996 e chegou ao Hóquei em Patins com cinco anos, no Barcelinhos. Literalmente, um pé de cada vez…

O primeiro empurrão foi da mãe. Ao fim de um mês, Miguel Vieira, levado à pista na peugada do entusiasmo de um primo, ainda só passeava sobre um patim. A mãe não lhe agoirava grande futuro, mas o jovem Miguel divertia-se e, por si, lá se adaptou às oito rodas.

No passado dia 11, Carlos recebeu em nome de Miguel o galardão de “Atleta do Ano” de Hóquei em Patins, na XXII Gala dos Troféus Desportivos “O Minhoto”. Mais um motivo de orgulho, entre muitos, para um “pai babado”.

O Barcelinhos lançou-se numa equipa de infantis, mas os jogadores não chegavam. E Miguel foi convidado a fazer parte. O pai, Carlos, que nunca estivera ligado à modalidade, acompanhava os jogos longe dos outros pais. Na bancada, a mãe ouvia os comentários sobre aquela “menina”, um Miguel franzino, de cabelos compridos e fita no cabelo, que a espaços entrava nas partidas.

O pai Carlos ficou cada vez mais próximo da modalidade. Chegou a treinador e até levou os pequenos do “pequeno” Barcelinhos a vencer o “gigante” Barcelos. O jogador afirmou-se como Vieirinha e a chamada para o Óquei foi inevitável.

Vieirinha fez em 2011, de livre directo, o golo de ouro que valeu o primeiro título nacional ao Braga
Vieirinha fez em 2011, de livre directo, o golo de ouro que valeu o primeiro título nacional ao Braga

Vítor Silva, treinador no Óquei de Barcelos, não demorou a reconhecer talento e potencial a Vieirinha. Deixou os “galos” em 2009 e em 2010 levou Miguel para o Braga. Venceriam juntos, e com o pai Carlos na estrutura técnica como enfermeiro, o Nacional de Iniciados em 2011, numa Final Four realizada em Castro Verde, sob um calor tórrido.

Vieirinha bisou na meia-final e voltou a bisar na final, frente ao Benfica, para um empate a três que levou o jogo para prolongamento. E, em tempo de golo de ouro, o tento que valeu o título foi mesmo de Vieirinha, numa equipa que contava ainda com Carlos Loureiro, Gonçalo Meira e Maria Sofia Silva, esta época jogadora da dominadora equipa feminina das águias.

Em 2014, Miguel regressou ao Óquei de Barcelos, “chamado” por Paulo Freitas. Jogava nos Sub-20, na equipa “B” e na equipa principal. Esteve nas conquistas das Taças CERS de 2016 e 2017 e, pelo meio, “bisou” como campeão do Mundo de Sub-20, em 2013 e em 2015.

Em Vilanova i la Geltrù, Miguel Vieira sagrou-se campeão do Mundo de Sub-20 pela segunda vez e Carlos não faltou à festa
Em Vilanova i la Geltrù, Miguel Vieira sagrou-se campeão do Mundo de Sub-20 pela segunda vez e Carlos não faltou à festa

Em 2016, falou-se do interesse do Sporting, que esteve muito perto de se concretizar, mas o jogador acabaria por se comprometer com os encarnados, apesar de continuar no Óquei de Barcelos. Em 2017, rumaria definitivamente ao Benfica.

Já mais Miguel do que Vieirinha, conquistou uma Elite Cup e uma Intercontinental Cup no seu primeiro ano, mas foi perdendo minutos com o decorrer da temporada. Carlos nunca deixou de estar presente, fazendo recorrentemente os cerca de 400 km para cada lado que separam Barcelos de Lisboa. Mesmo sem garantias de ver Miguel sair do banco…

Carlos Vieira no apoio ao Óquei de Barcelos
Carlos Vieira no apoio ao Óquei de Barcelos

No último sábado, o pai Carlos iria ao jogo a Alverca como o enfermeiro Carlos Vieira, adversário na luta por três pontos importantes. Miguel entrou e contribuiu para a vitória encarnada por 4-3, num jogo que não negam ter sido especial. Para Miguel pelos laços que tem também com o Óquei, para ambos pela relação de cumplicidade.

Não houve picardias prévias, não houve apostas sobre o vencedor. Miguel vestiu a camisola 74 como veste sempre. Para Carlos, foi claramente mais difícil, ainda mais próximo da pista do que é costume, e na defesa de um outro emblema enquanto torce pelo sucesso do filho numa fase de afirmação com novo treinador.

Num jogo duplamente especial, Miguel Vieira retribuiu os aplausos da claque barcelense
Num jogo duplamente especial, Miguel Vieira retribuiu os aplausos da claque barcelense

Esta terça-feira, comemoram o Dia do Pai. Esta quarta, em celebrações que se atropelam, é dia do pai… fazer anos. E a relação entre Vieira e Vieirinha, entre pai e filho, entre Carlos e Miguel, entre adepto e jogador, segue cada dia mais forte.

AMGRoller Compozito

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