«Se não fizermos um Hóquei atractivo, perderemos o nosso desporto»
No início do mês de Abril, no âmbito de uma publicação anual – a Sticadas – sobre os escalões de formação (esta época, benjamins) do Benfica, Alejandro Dominguez acedeu a conceder uma entrevista sobre o seu percurso, a sua visão do jogo, sobre a sua paixão.
O percurso
Nascido em Buenos Aires, Alejandro começou, como muitos argentinos, a jogar futebol. Mas um dia pegou num stick. E depois calçou os patins. E aos 20 anos estava no Tordera, emblema com tradição no Hóquei em Patins espanhol.
A chegada ao Benfica foi um choque. Tendo visitado a Luz como adversário, não deixou de ser esmagado pela dimensão de um clube que arrasta multidões e pela forma como os adeptos o seguem. Com um sentimento que inveja.
O modelo de jogo
Adepto incondicional do Hóquei em Patins directo, vertical, Alejandro chegou a ser criticado no “seu” Reus de alguma “loucura” num campeonato em que se especula muito. Acusavam-no de ser “demasiado português”.
Para Alejandro, o jogo encerra em si um segredo. “É um jogo colectivo que esconde o segredo de que é um jogo individual”, conta-nos.
Chegaria à selecção espanhola e a sua pressão alta, uma intensidade de jogo impressionante, surpreendeu meio mundo e valeu à “armada”, que voltava a granjear uma aura de invencibilidade, a conquista de um Campeonato do Mundo e um Campeonato da Europa.
Os World Roller Games de Barcelona, numa Catalunha que adoptou como segunda pátria, serão o último desafio à frente de “La Roja”, pondo termo àquilo que entende como um “conflito ético” a que foi levado pela situação extraordinária de assumir o Benfica a meio da temporada. “Não podes ser treinador de uma equipa de topo e de uma selecção”, defende.
A formação
Quando se comprometeu com a federação espanhola, o agora técnico do Benfica sabia que teria um problema como treinador… não treinaria. Então pediu para ir desenvolvendo trabalho em diversos clubes, nos escalões de base, e tem ideias vincadas sobre como se devem trabalhar os jovens atletas.
Desde logo, o Mini-Hóquei. Que, mais que um caminho, é “o” caminho. Depois, a formação nos diferentes estágios de evolução dos atletas e a gestão dos resultados dilatados. E o papel dos pais. Da teoria ao que se sabe que está correcto… mas em que todos falham.
E também há a necessidade de partilha, entre treinadores. Seja dentro do clube, entre os diferentes escalões, seja com os métodos dos “rivais”, como Guillem Cabestany que não se coibiu de elogiar e que viria a conquistar o Campeonato Nacional.
Alejandro assume a sua paixão. “Gosto mais de Hóquei do que de ganhar. Gosto mais do jogo do que de ganhar”. Ainda que saiba que foram os resultados que o levaram à Luz e que serão esses que ditarão a sua continuidade ou não.
Longe (mas não muito) das pistas
Quando em 2015, o Reus perdeu a final da Taça CERS para o Sporting, Alejandro diria em conferência de imprensa que só queria ir para casa… Agora, a sua “casa” é em Lisboa, mas, enquanto a família – a mulher e as duas filhas – não se muda definitivamente, o que acontecerá neste defeso, é ainda uma casa por preencher.
Não perdendo oportunidade de ver jogos – muitos jogos –, ocupa os seus tempos livres com escapadas de bicicleta ou para fazer surf. A “guerra” dos veteranos do Hóquei em Patins não é para ele. “Quando se acabou, acabou. Quando deixei de jogar, deixei de jogar”, afirma.
Quarta-feira, 26 de Junho de 2019, 10h38