Críticas internas depois de raro jogo em branco
Na passada quarta-feira, Miguel Albuquerque, director-geral das modalidades do Sporting, terá descido ao balneário leonino no final do jogo no Dragão Arena para transmitir a sua insatisfação aos jogadores, mas fez questão de a fazer chegar ao público em geral em declarações ao espaço informativo Jornal Sporting, com repercussão quase imediata no site do clube.
“O que aconteceu aqui hoje nada tem a ver com o Sporting Clube de Portugal. Devemos todos ter a consciência disso. Principalmente quem hoje entrou dentro de campo com a camisola do Sporting CP vestida", apontou. "Não honraram os nossos valores, nem a nossa história!", vincou, num desabafo que visou não apenas esta partida, mas também aquela que, em Lodi, ditaria o afastamento da Liga Europeia. "Uma equipa com esta qualidade individual, e com o investimento que esta modalidade tem, não pode, em menos de uma semana, ser eliminado da Liga Europeia e perder um jogo importante, como o de hoje, nas contas do título com resultados humilhantes!", acusou Miguel Albuquerque.
"Esta equipa tem qualidade mais do que suficiente e todas as condições para continuar na luta pelo título nacional. Espero sinceramente que já no próximo encontro se lembrem do símbolo que têm ao peito, do que ele representa, e que, sobretudo alguns jogadores, controlem as suas atitudes dentro de campo", referiu, deixando sobre o balneário algum espectro de possíveis dispensas. "Isto é o Sporting Clube de Portugal. Quem não entender isto, não pode estar aqui!”, sublinhou.
A zeros, 113 jogos depois e novamente no Dragão
A exibição do Sporting no Dragão Arena foi, inegavelmente, paupérrima, mas também consequência do bom jogo do Porto, que tinha uma necessidade imperativa de vencer. E os dragões, em sua casa, raramente vacilam. Apesar dos três pontos perdidos, os leões seguem em segundo lugar, a três pontos do Benfica e à frente do Porto, e dependem apenas de si para repetirem o título de 2018.
No entanto, se uma derrota no reduto do Porto não pode chocar ninguém - e, por exemplo, o Sporting de Paulo Freitas já lá perdera nas cinco deslocações anteriores -, mais do que os seis golos sofridos, o nulo ofensivo poderá ter sido a gota de água para o "raspanete" de Miguel Albuquerque.
Após a chegada de Ângelo Girão em 2014, o Sporting soube organizar-se defensivamente, com um bloco coeso, para conquistar títulos. Aconteceria assim na Taça CERS, em 2015, e, mesmo já com outros argumentos ofensivos, a solidez defensiva voltou a ser determinante no título nacional de 2017/18 e na conquista da Liga Europeia em 2019. A própria Selecção Nacional "bebeu" dessa filosofia em torno do mais decisivo guarda-redes mundial para triunfar no Campeonato do Mundo de 2019.
O Sporting soma 74 golos marcados, menos que Porto (108), Benfica (89), Óquei de Barcelos (88) e Oliveirense (83). Mas, com apenas 39 sofridos, mantém-se como a defensiva mais eficaz.
Mas os leões estão longe de ser uma "equipa defensiva" e o nulo do Dragão Arena é uma excepção quase histórica. O Sporting já não ficava "a zeros" para o Campeonato Nacional desde 14 de Novembro de 2015, numa derrota por 8-0... precisamente no Dragão Caixa.
Recuando no tempo, a temporada que se seguiu à vitória na CERS começara de forma brilhante, com a conquista da Supertaça António Livramento frente a um Benfica que nessa temporada conquistaria Campeonato e Liga Europeia e uma vitória frente ao Barcelona, na primeira mão da Taça Continental. Depois, quase inexplicavelmente, os leões, orientados por Nuno Lopes, entraram numa espiral descendente. À terceira jornada para o Campeonato, o Sporting perdeu 9-0 na Luz. À sétima chegou a derrota pelos tais 8-0 no Dragão.
Desse Sporting que se apresentou em Novembro de 2015 na Invicta, restam os guarda-redes, Ângelo Girão e Zé Diogo. Poka, que era leão, está agora nos dragões e Telmo Pinto, que até marcou um golo nesse jogo, é agora leão. No Porto, Guillem Cabestany estava na sua primeira temporada e Reinaldo Garcia, Gonçalo Alves e Rafa são os únicos jogadores que se mantêm de uma equipa que teve a sua baliza fechada a sete chaves por Edo Bosch, negando todos os intentos a André Centeno, "Tuco", João Pinto , Cacau, Ricardo Figueira, Tiago Losna, "Poka" e Luís Viana.
Não mais, até esta quarta-feira, o Sporting ficaria em branco numa partida para o Campeonato Nacional. Em 2015/16, após o desaire no Dragão seguiram-se 19 jogos sempre a marcar. Em 2016/17, ainda que os dois jogos com o Riba d'Ave fossem anulados e o do Paço de Arcos redundasse administrativamente numa derrota por 0-10, o Sporting marcou nos 26 jogos. Tal como em 2017/18 e 2018/19. E esta temporada, os leões tinham marcado nas 16 jornadas já disputadas, chegando a 113 partidas consecutivas sempre com golos.
Sexta-feira, 21 de Fevereiro de 2020, 22h03