Associações à margem

Associações à margem

O desenlace da temporada 2019/20 e, em particular, as provas de apuramento – as chamadas “liguilhas” – a realizar em Setembro próximo, geraram muito debate, muito esgrimir de argumentos.

A Federação de Patinagem de Portugal (FPP) promoveu diversas reuniões até ao anúncio final, que encerraria em si também um novo modelo competitivo para a I Divisão, com decisão em play-off, que só Turquel e Riba d’Ave contestaram.

Muito se decidiria nessas reuniões com os clubes, ignorando o ponto 7 do artigo 15º dos estatutos federativos, onde se lê que “os clubes/sociedades desportivas filiados nas associações de patinagem, são por estas representados junto da FPP”. E, de facto, são as associações que são membros (ordinários) da federação, com voto em Assembleia Geral, e inclusivamente com poder para colocar em causa alterações regulamentares.

Associação de Clubes demarca-se

Representante explicita dos clubes, com 35% dos votos em Assembleia Geral da FPP, a Associação Nacional de Clubes (ANACP) demarca-se do processo que conduziu às decisões. “A ANACP não foi interveniente em todo este processo”, aponta Rui Carvalho, presidente da direcção. “Estivemos apenas nas reuniões dos clubes da I Divisão e apenas na qualidade de observadores”, constata.

Estivemos apenas nas reuniões dos clubes da I Divisão e apenas na qualidade de observadores.

#QUOTR Clubes

“Ficámos a aguardar por uma possível reunião ou até um contacto que permitisse darmos algum contributo, de forma a ajudar os clubes, nomeadamente os nossos associados", esclarece. Mas tal reunião não viria a acontecer.

Associações territoriais “passadas por cima”

Também com 35% dos votos em Assembleia Geral, as Associações territoriais são o garante de filiação dos clubes, que têm sempre de estar associados a estas para participarem nas provas organizadas pela FPP. Mas também não seriam tidas em conta.

“Os clubes passaram por cima dos seus representantes, Associações territoriais e ANACP”, frisa João Pires, presidente da Associação de Patinagem de Lisboa, que nomeia cinco dos 21 delegados territoriais. “Os clubes trataram directamente e já sabíamos que isso ia levar a um mau caminho. Não estão a olhar para o Hóquei em Patins, estão a olhar para as suas capelinhas”, afirma.

[Os clubes] Não estão a olhar para o Hóquei em Patins, estão a olhar para as suas capelinhas.

#QUOTR Lisboa

“As Associações receberam um documento para se manifestarem, um ‘caderno reivindicativo’ dos clubes da I Divisão”, recorda. Não se manifestando sobre as competições, João Pires entende que esta era a “altura certa” para levar a discussão mais longe. “Queríamos ir mais longe que o imediato. Perdeu-se tempo que podia ter sido aproveitado para pensar no Hóquei em Patins estruturalmente”, lamenta. “Acabámos por só pedir que, o que fosse para os da I Divisão, devia ser para todos”, explica.

Apenas um delegado aquém dos cinco de Lisboa, a Associação de Patinagem do Porto também ficou à margem. Com a discussão a “baixar” aos clubes, o presidente Delfim Ribeiro até ficou contente por não ser chamado a participar. “Não estive em nenhuma reunião, e até acho que faz sentido. Há interesses diferentes dos clubes e as associações não podem tomar partido”, adverte.

Chamado agora a reunir, o líder portuense é contundente. “Não vou, porque quando nasci as casas começavam-se pelos alicerces e não pelo telhado. Tudo o que disser, vale zero. Está tudo decidido. Já tomei conhecimento. Quando vou ao circo, sei que vou ao circo, não vou sem querer…”, reclama. “Lamento que as Associações não tivessem sido ouvidas”, refere, revelando-se contra a “liguilha” em Setembro.

Vamos ver o que vai dar, mas o pior está para vir.

#QUOTR Porto

“Estamos a assistir a uma palhaçada. As tais ‘liguilhas’ ou eram possíveis agora [esta temporada] ou não havia e ficava tudo na mesma. Tinha de haver essa coragem”, opina, lamentando – por exemplo – as posições díspares em Aveiro. “A Associação tomou posição contra a ‘liguilha’, mas os clubes inscreveram-se…”, observa.

“Foi tudo feito à revelia, tudo feito à amadores. Vamos ver o que vai dar... mas o pior está para vir. Escreva o que lhe digo”, exclama, em jeito de conclusão. Escrevemos.

Atletas contra “solução”

Com 15% dos votos em Assembleia Geral, a Associação Nacional de Atletas chegou a apresentar uma proposta. “Mas nunca fomos chamados para reunir”, lamenta o presidente Alexandre Saraiva.

Alexandre Saraiva integra o Feira que - na liderança da Zona Centro da III Divisão - está directamente apurado para a “liguilha” para subida à II Divisão e detalha a realidade da categoria mais baixa das competições nacionais. E recorde-se que a III Divisão foi disputada por 40 clubes, quase tantos como na II Divisão (28) e I Divisão (14) juntas.

Nunca fomos chamados para reunir.

#QUOTR Atletas

“Os clubes da III Divisão apresentaram proposta, mas não oi tida em conta. As equipas da III Divisão partem logo em desvantagem competitiva com as da II. Até seria aceite uma liguilha entre equipas da mesma divisão”, vinca, alertando para… mera matemática. “As equipas podem realizar até oito jogos, que seriam suficientes para acabar os campeonatos”, explica.

Árbitros e Treinadores indiferentes

Sem intervenção, Árbitros e Treinadores (que totalizam – em partes iguais – 15% dos votos em Assembleia Geral) resignam-se com o que for decidido, posicionando-se à margem da discussão.

Francisco Janelas, presidente da Associação Nacional de Treinadores de Hóquei em Patins (ANTHP), revela que a associação que preside foi mantida informada dos desenvolvimentos. “A ANTHP não tomou posição. Todos teremos uma opinião, mas esta discussão cabe única e exclusivamente aos clubes”, refere, certo de que os treinadores partilham o seu entendimento. “Ninguém nos consultou, certamente também conscientes que é um tema que não nos toca”, sublinha.

Esta discussão cabe única e exclusivamente aos clubes (…) É um tema que não nos toca.

#QUOTR Treinadores

Ricardo Oliveira, da Associação Nacional de Árbitros (ANAHP), também foi mero espectador. “A parte interessada eram atletas e clubes”, vinca. Mas o desfecho de mais jogos – entre liguilhas e play-off - agrada-lhe. “Quantos mais jogos, melhor, que acaba por ser também um contributo para o agregado familiar dos árbitros”, garante, visando a situação económica dos árbitros, que não deverão sofrer “cortes”.

A parte interessada era atletas e clubes. [Para os árbitros] Quantos mais jogos, melhor.

#QUOTR Árbitros

“Os árbitros de Hóquei em Patins não recebem o mesmo que os do futebol. Do pouco, já não se pode tirar...”, afirma, relegando a discussão do aumento do valor dos “prémios” de jogo para quando a pandemia já for coisa do passado.

AMGRoller Compozito

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