Não há duas sem três?
O Vendrell viveu anos de sonho sob o comando de Guillem Cabestany. Da subida à OK Liga à conquista surpreendente de uma Taça do Rei até à nova conquista de nova Taça do Rei e o apuramento para a Final Four da Liga Europeia na primeira participação na prova europeia máxima de clubes.
Esta época sob o comando de Pere Varias e sem o herói das Taças do Rei, Xevi Puigbi, o arranque de OK Liga não foi fácil mas a equipa melhorou e está num momento na chegada à "sua" competição.
"Encaramos a Taça do Rei como uma oportunidade e não como uma obrigação", refere o treinador Pere Varias ao HóqueiPT quando confrontado com o peso da herança de Cabestany. "Evidentemente, o nosso objectivo e a nossa ambição são repetir os êxitos recentes e poder ganhar a terceira Taça seguida, mas não estamos obcecados por isso. Estamos conscientes de que a pressão e a obrigação de ganhar está do lado dos claros favoritos, FC Barcelona e Liceo. Nós só estamos obrigados a competir, a trabalhar duro como equipa e a esforçarmo-nos o máximo possível. E apenas desta forma podemos chegar ao êxito", explana, revelando uma forma peculiar de ver esta prova a eliminar. "Temos de estar conscientes de que é uma competição em que não precisas de ganhar nenhum jogo - empatar três jogos é suficiente - para levantar a Taça do Rei e por isso será muito importante não cometer erros", explica.
A Taça do Rei não é ganha três vezes seguidas desde que o Liceo ganhou entre 1995 e 1997. A maior série pertence ao Espanyol, com quatro edições conquistadas entre 1954 e 1957.
O Vic tem granjeado elogios e Pere Varias reconhece que a equipa de Pujalte é fortíssima. "Sem dúvida. O Vic é um "equipazo". O terceiro lugar destacado na Liga é por méritos próprios. O Vic joga com um plantel de oito jogadores, onde combina quatro jogadores muito experientes com quatro jogadores jovens, muito desequilibradores", analisa. "Será um jogo duro psicologicamente, pois o Vic é uma equipa que nunca baixa os braços. Provavelmente, a vitória passará por um marcador muito curto e será decidida nos últimos momentos do encontro", vaticina.
Quais os pontos fracos a explorar, então? "A verdade é que têm poucos pontos fracos. É uma equipa cuja coluna vertebral trabalha com Pujalte há algum tempo e que tem bem interiorizada a forma de entender o hóquei do seu treinador", conforma-se Pere, sem no entanto deixar um segredo para uma possível vitória "rojinegra". "Talvez este ano, quando jogam os jogadores mais jovens, se possam apanhar mais vezes em contra-ataque do que noutros anos. Pode estar aí uma das chaves, pois com a defesa organizada são muito complicados de ultrapassar", desvenda.
Um sonho difícil de repetir
Sergi Miras e Jordi Creus ("Xixi") são dos mais reputados jogadores ao serviço do Vendrell e estão também cientes das dificuldades em ultrapassar o Vic e chegar à terceira Taça consecutiva.
"Gostaríamos muito de poder repetir o título mas sabemos que é muito difícil. Para já só temos em mente o jogo com o Vic, porque será um jogo dificílimo", antevê Xixi. "Se ganharmos o jogo, então olharemos mais além mas a equipa sabe que só vale a pena pensar na primeira partida", reitera.
"No desporto não há nada impossível mas, sejamos realistas, é quase impossível. Vamos jogar quinta-feira uma final com o Vic. Serão 50 minutos de luta para ganhar… logo veremos onde chegamos", expõe Miras, que gostava que a equipa desse uma alegria aos seus adeptos. "Espero que o Vendrell faça um grande jogo contra o Vic e que os nossos adeptos fiquem contentes e orgulhosos com a equipa", afirma.
As conquistas da Taça do Rei pelo Vendrell foram momentos históricos. Se o primeiro ano foi uma surpresa, no segundo os "tubarões" já estavam avisados. Miras e Xixi viveram a conquista da segunda Taça. "Já disputei Taças com equipas grandes onde erámos favoritos. O bonito de ir com o Vendrell é que não tens pressão, e podes ir disfrutar e divertir-te. Ganhar a Taça com o Vendrell foi o máximo, um sentimento mágico! Mas lutámos e trabalhámos muito para o conseguir", sublinha.
"Ganhar o ano passado foi uma sensação incrível. Ganhar da maneira que ganhámos foi muito emocionante! Ganhámos contra três grandes equipas, que eram favoritas. Conseguimos recuperar em dois jogos e depois ganhar nas grandes penalidades. Poder ganhar a final contra o Barcelona e da maneira como se ganhou foi incrível!", exulta Xixi, deixando um desejo. "Oxalá possamos repetir. Temos muita vontade!", manifesta.
Quando Puigbi fechou a porta
Um dos vencedores da edição do ano passado da Taça do Rei joga agora em Portugal. "É uma competição em que as equipas que são mais fracas, com um orçamento mais baixo, têm uma boa oportunidade porque se discute em jogos decisivos. As possibilidades são maiores", conta-nos Xavier Puigbi. "E é muito bom para os adeptos porque são quatro dias seguidos de hóquei, com os melhores jogadores do Mundo", realça o guarda-redes quase em jeito de promoção do evento.
Eleito MVP - Jogador Mais Valioso - em 2014 e, a caminho do título, Puigbi eliminou o Reus de Albert Casanovas. Agora são companheiros na Oliveirense e o ex-capitão do Reus recorda uma prestação épica do guarda-redes. "Ele decidiu fechar a porta no ano passado e isso resultou num título para o Vendrell", enaltece.
O guarda-redes partilha o mérito com a equipa. "Acho que a equipa foi decisiva. Todos. Porque o guarda-redes está numa posição muito decisiva mas a equipa também é muito importante", afirma Puigbi.
O ex-companheiro Sergi Miras também não deixa de reconhecer o valor de Puigbi. "É um dos melhores guarda-redes do Mundo. Fez uma Taça espectacular mas agora já não podemos pensar nele", conforma-se, acreditando no valor de Guillém Fox e Xús Fernandez que começaram mal o ano mas começam a afirmar-se. "Agora temos dois grandes guarda-redes jovens, com pouca experiência na Taça, mas que vão com muita ambição e isso é o mais importante: ter vontade de ganhar e lutar 50 minutos. Guillém e Xus estão preparados e a equipa sente-se segura com eles", confia.
"Acho que o Vendrell agora está a passar uma boa fase e acho que tem possibilidades de fazer uma boa Taça", confia Xevi Puigbi, que admite dificuldades mas será mais um adepto. "É muito difícil repetir, voltar a ganhar, mas porque não acreditar? Vou torcer muito por eles", refere.
Já Casanovas duvida de um novo título. Mas nunca se sabe... "Não estou a dizer que o Vendrell não tenha hipótese de voltar a ganhar mas acho que vai ser muito complicado repetir o sucesso destes dois últimos anos", antevê. "O Vendrell fez duas Taça do Rei perfeitas, jogando muito bem no seu papel de equipa que vai ver o que acontece, com muito a ganhar e pouco a perder", explica.
Como chega o Vendrell à Taça do Rei
Posição na OK Liga: 6º.
Performance na OK Liga: 10 vitórias, 4 empates e 8 derrotas, com 83 golos marcados e 94 sofridos.
Contra o CP Vic: Derrota, pesada, por 7-1 fora (11 Nov).
Último jogo: Empate 5-5 em casa com Cerceda, com uma "manita" de Jordi Ferrer.
Momento: Um empate.
Melhor marcador: Eloi Mitjans.
Taça do Rei: Campeão nas duas finais em que esteve presente.
Taça do Rei 2014: Vencedores, com um vitória por 6-3 frente ao Barcelona. No caminho para a final empataram os dois jogos, resolvendo-os nas grandes penalidades. 3-0 nos quartos-de-final com o Liceo (com 3-3 em jogo jogado) e 5-4 nas meias com o Reus (2-2 no tempo regulamentar).
Quinta-feira, 26 de Fevereiro de 2015, 10h45