De Gulpilhares aos maiores palcos

De Gulpilhares aos maiores palcos

O Benfica anunciou a contratação de Poka. Será dos poucos a vestirem a camisola dos "três grandes", apenas um dos três que vestiu também a da Oliveirense. Todos do viveiro de Gulpilhares e todos em "mudanças" neste defeso. #Mercado #PrimeiraDivisão

O Benfica tornou na passada quinta-feira oficial o acordo com Daniel Oliveira ("Poka"). Uma "transferência" que aqueceu a meia-final entre dragões e águias quando, comunicada a saída, o jogador foi afastado do grupo de trabalho às ordens de Cabestany.

Aos 32 anos, Poka chega ao Benfica depois de ter representado Sporting (2014 a 2017) e Porto (2018 a 2021) tornado-se num dos poucos jogadores que vestiram a camisola das equipas principais de Hóquei em Patins dos três grandes do futebol. Se a esta elite financeira, juntarmos uma Oliveirense - que Poka representou em 2013/14 - de inusitado investimento nos últimos anos, esse grupo de jogadores fica reduzido a três. Todos com formação no Gulpilhares, todos de casa às costas neste defeso.

Caio, Vítor Hugo e Poka

Ricardo Oliveira, Vítor Pinto e Daniel Oliveira não serão nomes facilmente reconhecidos pelo grande público. Mas os pseudónimos Caio, Vítor Hugo e Poka não deixarão ninguém que tenha acompanhado a última década e meia do Hóquei em Patins nacional indiferente. Têm em comum um percurso invejável que passou pelos três grandes do futebol e pela Oliveirense. E que começou em Gulpilhares.

Caio, agora com 39 anos, cedo começou a apontar como uma das certezas da modalidade. Em 2003, com apenas 21 anos, saltou para um Porto acabado de conquistar os dois primeiros títulos do histórico "deca". Estaria em Barcelos entre 2005 e 2007, onde se afirmaria, regressando para mais dois anos do triunfante Porto. Em 2009, reza a lenda que o amor o fez rumar a Lisboa, assentando num Benfica que tardava em impôr-se ao rival nortenho.

Jogou duas temporadas de águia ao peito, saindo incompatibilizado com Luís Sénica, o que terá abreviado também o seu percurso na selecção nacional. Sem rancores de quando rumou a Sul, regressou ao Porto para uma terceira etapa de azul e branco. A mais longa, de quatro temporadas. Em 2015 foi apanhado na revolução dos dragões, apostados no rejuvenescimento do plantel. Reforçou a Oliveirense e foi uma das figuras na primeira chegada à final da Liga Europeia da equipa de Oliveira de Azeméis.

Com as suas qualidades técnicas intactas, foi aposta de um Sporting em busca de títulos. E estaria em 2018 na conquista do Campeonato Nacional e, em 2019, da Liga Europeia, falhando neste ano a presença na Taça Continental - tal como Poka - pelo falecimento do pai.

No ano seguinte, a pandemia cancelou os campeonatos e impediu uma despedida condigna de Caio do João Rocha. O internacional português rumou a Itália e ao Trissino, mas acabaria por não ser feliz, traído por lesões. Quando se voltava a reafirmar, a Serie A1 terminou - nos quartos-de-final - para o Trissino. Mas deixou bem patente que pode ser uma mais-valia num Tomar em consolidação na I Divisão. Na nova temporada, Caio será o único na categoria máxima que contará no currículo com passagem pelos seis mais bem classificados da época finda.

Ricardo Oliveira (
Ricardo Oliveira ("Caio")

Cerca de dois anos e meio mais novo que Caio, Vítor Hugo despontou também em Gulpilhares e deu-se a conhecer ao Mundo no primeiro Mundial de Sub-20, conquistado em 2003 por Portugal no Uruguai, ao lado de nomes como Jorge Silva (também da formação do Gulpilhares) ou Pedro Moreira, partilhando balneário mais tarde, com ambos, no Porto e na Oliveirense.

Em 2006, Vítor Hugo saiu do Gulpilhares para o Benfica, onde estaria três temporadas. Saindo para o Espinho, muitos vaticinaram que, apesar de ainda não ter 25 anos, estaria definitivamente afastado da ribalta. Mas, mostrando resiliência - e um valor que não se discute -, terá sido um passo atrás para dar dois em frente.

Treinado por Paulo Freitas e ao lado de Ângelo Girão e João Pinto, foi pelos alvinegros o melhor marcador do campeonato em 2010/11 e reforçou a Oliveirense para - em apenas uma temporada - conquistar a Taça de Portugal e reclamar a atenção de outro grande. Rumou ao Porto, onde esteve cinco temporadas.

Findo o contrato com os dragões, Paulo Freitas não descurou a oportunidade de voltar a juntar Vítor Hugo a Girão e João Pinto (e a Caio), mas almejando mais do que a manutenção que era o primordial objectivo do Espinho anos antes. Na sua primeira temporada de leão ao peito, Vítor conquistou o Campeonato. E, na segunda, a Liga Europeia.

Regressou à Oliveirense em 2019 para duas épocas amargas. A pandemia "azedou" a primeira e, no mercado louco desta segunda época, foi surpreendido pela dispensa quando teria tudo acertado para continuar em Oliveira de Azeméis.

Aos 36 anos ruma a Braga, onde reencontra o treinador Tó Neves, que já o chamara para o Porto em 2012. A sua valência em pista, a trabalhar na área como poucos, será uma temível arma para os bracarenses.

Vítor Hugo
Vítor Hugo

Se Caio e Vítor Hugo saltaram logo do Gulpilhares para as duas equipas mais tituladas da modalidade em Portugal, o percurso de Poka, irmão de Caio, foi mais discreto.

Poka deixou o Gulpilhares - mergulhado numa crise económica - em 2012, com 23 anos, para reforçar um Valongo em rampa de lançamento para grandes feitos. Mas Poka deixou os valonguenses em 2013, "falhando" o histórico título de 2014. Rumara a uma Oliveirense que tentava encurtar distâncias para Porto e Benfica. Apenas uma temporada depois, em 2014, "arriscou" no projecto do Sporting, chegando com Ângelo Girão, que já conhecia do Valongo. Às ordens de Nuno Lopes, conquistou a Taça CERS e uma Supertaça em 2015, mas o Sporting continuava longe dos dois rivais na disputa pelo título nacional.

Cumpridas três temporadas de leão ao peito, e apesar da regularidade demonstrada, regressou ao Valongo.

Tal como quando Vítor Hugo saiu do Benfica para o Espinho, vaticinou-se o ocaso de Poka. Mas, resiliente, protagonizou uma extraordinária temporada ao serviço do Valongo, conduzindo mesmo a sua equipa à final da Taça de Portugal. Foi chamado à selecção nacional, ao Europeu de 2018, e para o Porto.

Este ano terminava contrato os dragões e protagonizou uma das mais badaladas mudanças do defeso. Alegadamente teria aceite a continuidade por mais um ano, mas uma proposta - de três anos - do Benfica. A comunicação da mudança, em plena meia-final do play-off entre Porto e Benfica, gerou desagrado entre os azuis-e-brancos e o jogador foi afastado. O seu último jogo pelo Porto seria o terceiro da série, o início da "cambalhota", com uma vitória por 3-5 em pleno pavilhão da Luz.

Daniel Oliveira (
Daniel Oliveira ("Poka")

Gulpilhares

A contas com dificuldades financeiras, o Gulpilhares esteve pela última vez na I Divisão em 2012/13, alternando depois entre o escalão secundário e a III Divisão. Fundado em 1944 foi "extinto" enquanto Associação de Cultura e Recreio de Gulpilhares em 2015, "renascendo" como Associação Cultural e Desportiva de Gulpilhares. Esta temporada terminou em 7º (entre 10 equipas) na categoria mais baixa, e luta por regressar aos mares tranquilos de outros tempos, renovando a sua aposta nos escalões de formação.

AMGRoller Compozito

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