O intrometido Tomar de Nuno Lopes
O Tomar tornou-se o oitavo vencedor da Taça e pôs termo a uma série de 22 triunfos consecutivos em provas oficiais dos cinco clubes que mais vão investindo em Portugal. Desde 2014, no ano dourado do Valongo, que mais ninguém se intrometia.
Depois de Benfica (1963), Malhangalene (1964), Sporting (1976), Porto (1983), Óquei de Barcelos (1992), Oliveirense (1997) e Académico de Cambra (2007), o Tomar tornou-se este domingo o oitavo vencedor da Taça de Portugal, "prova rainha" do Hóquei em Patins português que já conta 48 edições.
O triunfo é, desde logo, a principal conquista de sempre dos tomarenses, mas tem um significado especial no panorama da modalidade em Portugal. Desde 2014, quando o Valongo conquistou Campeonato Nacional e Supertaça António Livramento, que ninguém se intrometia entre as equipas que se vão assumindo - de forma mais ou menos declarada - candidatas a tudo.
Depois de 2014 e até esta conquista do Tomar, disputaram-se 22 troféus oficiais entre Elite Cup (duas), Supertaça (seis), Taça 1947 (uma), Taça de Portugal (seis) e Campeonato Nacional (sete). Destes, o Porto arrebatou 12 troféus, o Benfica cinco, Sporting três e Oliveirense uma Taça de Portugal (2019) e Óquei de Barcelos uma Elite Cup (2021).
Agora, o Tomar assume-se como um "outsider" vencedor. A equipa de Nuno Lopes derrotou nada menos que o detentor do troféu e campeão nacional Porto nas meias-finais, por 5-3, com uma grande exibição em que esteve a vencer por 5-1, e Sporting na final, com muito sofrimento, numa sempre ingrata decisão por grandes penalidades.
Mudanças na equipa
O Tomar regressou à I Divisão em 2020, com uma excepcional "liguilha" em ano de pandemia, mas mostrou rapidamente que o seu lugar era efectivamente entre os grandes. Em três temporadas, contando com a actual, logrou sempre um lugar entre os oito mais bem classificados, disputando os quartos-de-final do play-off. Este ano, a partir de próximo dia 10, tem um duelo à melhor de três com o Sporting.
Depois de uma temporada em que merece realce uma histórica presença nas meias-finais da Liga Europeia, principal prova europeia de clubes, houve mudanças relevantes no último defeso.
A nível directivo, Ivo Querido Santos, que catapultou a ambição do Tomar, deixou a presidência para Ricardo Cardoso, que vai assegurando a estabilidade sem deixar de ser presença nos jogos como delegado. No plantel, saíram Rúben Sousa, Caio e Francisco Beirante, entraram "Tato" Ferruccio e o jovem Diogo Cortez. No saldo de entradas e saídas, ganhou-se a irreverência (por vezes, indomável) de Tato, mas perdeu-se uma opção na rotação, com Diogo Cortez, que completa 20 anos em Julho, ainda a não ser aposta recorrente.
Num posto fundamental, o guarda-redes Francisco Veludo partiu para Itália e chegou o catalão Albert Mola. Mas a sucessão do internacional angolano seria assegurada - talvez de forma surpreendente para alguns - por António Marante.
Com uma impressionante, quase desconcertante, tranquilidade entre os postes que lhe granjeou rasgados elogios durante a temporada, o guardião de 21 anos não teve o prémio da chamada à selecção de Sub-23, mas tem agora um prémio maior, como uma das grandes figuras desta conquista tomarense. E a afirmação de Marante representa muito para os escalões de formação dos tomarenses, sendo um dos cinco jogadores da casa no plantel agora vencedor da Taça, para além de Cortez e dos estruturais Ivo Silva, Filipe Almeida e Pedro Martins.
Aos referidos, juntam-se o consistente Guilherme Silva, o especialista de bolas paradas Tomás Moreira e o jovem Lucas Honório, cedido pelo Benfica, que vai fazendo esquecer que ainda nem 20 anos completou...
Terceiro grande troféu para Nuno Lopes
O principal obreiro deste momento histórico do Tomar será o treinador Nuno Lopes. Regressou ao comando técnico da equipa em 2019, cinco anos depois de ter partido para o Sporting, e desde o regresso ao escalão maior que vinha vincando o desejo de conquistar um troféu por um emblema que lhe diz muito. Alguns terão visto um discurso sem razão ou uma ambição sem fundamento, outros alguma ingenuidade. Mas o troféu já está assegurado.
Foi o terceiro grande troféu conquistado por Nuno Lopes. Em 2015, pelo Sporting, o treinador natural de Estremoz e há muito radicado na Marinha Grande, venceu a Taça CERS, triunfando em Igualada numa final frente ao Reus. Curiosamente, tal como agora, Lopes venceu nas grandes penalidades. Por 1-2, depois de 2-2 no tempo regulamentar, tendo o agora leão, então "reusence", Matías Platero desperdiçado - tal como agora - uma grande penalidade no desempate. E, tal como agora, o treinador adversário era Alejandro Dominguez.
Nesse mesmo ano, o Sporting de Nuno Lopes, um Sporting ainda a juntar argumentos para lutar pelos principais títulos nacionais e internacionais (sobrando agora apenas os guarda-redes Ângelo Girão e Zé Diogo), conquistava a Supertaça António Livramento ao Benfica, em Aljustrel, por 4-2. Era um Benfica apontado como um dos melhores da História que, às ordens de Pedro Nunes, viria a vencer nessa época Campeonato Nacional e Liga Europeia.
Em Setembro, já anunciada para o Pavilhão Municipal Cidade de Tomar, haverá outra Supertaça, com o Tomar, vencedor da Taça, certo. Falta conhecer o adversário, que será o Campeão Nacional ou - porque não? - o finalista vencido, caso o Tomar faça a dobradinha. Será a segunda presença do Tomar na Supertaça depois de, em 2017, no Entroncamento, o Porto ter vencido os tomarenses, então às ordens de Nuno Domingues, por 7-3.
Segunda-feira, 1 de Maio de 2023, 23h29