O universo paralelo das fichas de jogo

Pedro Alves dos Santos

Ferramenta valiosa e fonte privilegiada de dados, as fichas de jogo, ou boletins electrónicos, da federação portuguesa são vetados a alguma irrelevância e desprezo que não mereciam, quando podiam justificar mais e melhor informação.

O universo paralelo das fichas de jogo

As fichas de jogo são disponibilizadas, como "boletim electrónico", desde a temporada de 2016/17, tendo sido gradualmente implementadas para as várias competições oficiais nacionais.

O software escolhido pela Federação de Patinagem de Portugal, e também por algumas associações territoriais como Lisboa ou Setúbal, é um auxiliar na gestão das burocracias e incidências das partidas, mas - paralelamente - é também uma fonte de informação que merecia mais atenção. E que tem um potencial tremendo

Por aqui é possível aceder ao cardápio de competições, divididas pelas respectivas zonas geográficas quando aplicável. Do registo oficial de incidências, é possível encontrar consolidados golos, assistências, grandes penalidades, livres directos, defesas de bolas paradas e cartões. Sem esforço adicional para quem regista. Mas, vivendo do "input" humano, os dados parecem muitas vezes recolhidos de uma realidade alternativa, um universo paralelo ao do Hóquei em Patins português.

Ignore-se uma estética que, pelo cavalgar tecnológico e de tendências, está claramente ultrapassada. Sendo que importa sublinhar que o foco do aplicativo é a funcionalidade e a recolha de dados. Entre as "competiciones" (vai faltando, há muito, a devida total tradução para português do software de origem espanhola), está o reivindicado "Melhor Campeonato do Mundo", com jogadores de renome como Marc Sayó, Xavier Crossas, Roc Colomer, Vítor Pinto ou Pereira Gonçalo. Bem, de renome, mas não tanto por estes nomes.

Caem os espanhóis, como Torra, Maliàn e Pujadas, no engodo do último apelido (da mãe), quando o castelhano ou catalão populariza o penúltimo (do pai). "Mas em Portugal usa-se o último", justificar-se-á. Sim, mas tal depois há nomes como Toni Pérez (sim, "Toni", e não "Antonio" como é efectivamente o primeiro nome do jogador) ou Pol Manrubia. Ou mesmo o português João Souto (e não João Silva), a abrir precedente para termos um Vítor Hugo em vez de um Vítor Pinto, por exemplo. Ou um Gonçalo Meira, em vez de um desconhecido Pereira Gonçalo. Dois campeões do Mundo de Sub-20 por Portugal.

No limite, até se poderá apontar responsabilidade no nome dos jogadores aos clubes. No entanto, acima de tudo, deveria imperar a responsabilidade federativa de visibilidade da modalidade. E note-se que, nos textos sobre as jornadas da mesma federação, a própria usa os nomes - e por vezes até alcunhas - dos jogadores como reconhecidos pelo grande público.

Um outro jogo

A "outra realidade" das fichas de jogo vai para além do trabalho de bastidores com os nomes dos jogadores. Desta última 4ª jornada, vejamos três "falhas na matriz" da responsabilidade da mesa ou dos árbitros.

Sexta-feira foi dia de jogo grande no João Rocha, com o Sporting a vencer o Benfica por 3-2. Os leões chegaram a uma vantagem de três golos e as águias não conseguiriam fazer melhor do que reduzir para a margem mínima. E a partida foi ainda mais emotiva no boletim.

No registo, o intervalo chegou com 1-0 (em vez de 2-0), chegando o Sporting ao 2-0 com bis de Romero. Depois, o Benfica chegou à igualdade. O golo de Rafael Bessa (ou Moreira, no boletim), que foi o primeiro do jogo, surge na ficha a apenas minuto e meio do final, num inventado livre directo que desequilibraria o Dérbi.

No sábado, na Aldeia do Hóquei, o "erro" terá sido de Fernando Vasconcelos e Joaquim Pinto, a darem o primeiro golo da equipa da casa a Daniel Passos, que efectivamente teve o mérito de conduzir a bola na resposta do Turquel ao primeiro golo do Juventude Pacense, em vez de o atribuírem a Tiago Mateus, que finalizou a jogada.

Aos dois melhores árbitros da passada temporada, entre a velocidade do jogo e o habitual amontoado da celebração, poderá desculpar-se um erro que "apenas" deturpará a lista de melhores marcadores. Como em tudo no jogo, são as decisões ou indicações arbitrais que vingam, e deverão ser - têm de ser - sempre estas as tomadas como oficiais. No "Melhor Campeonato do Mundo", como por vezes acontece no futebol, não envergonharia uma correcção do autor do golo "a posteriori".

Domingo, houve um outro exemplo de deturpação de estatísticas, desta vez ao nível de livres directos.

Na etapa complementar do madrugador jogo entre Porto e Valongo, são atribuídas tentativas falhadas em dois livres directos a Hélder Nunes, quando, na realidade, a falha é da mesa. O regressado "príncipe" dos azuis-e-brancos converteu as duas oportunidades, ainda que com muita felicidade na segunda, sem sequer precisar de recarga. Num momento que é de bola parada, torna-se difícil aceitar o erro no registo.

No final do dia, serão meros pormenores, irrelevantes para muitos. No entanto, uma fonte confiável, ao alcance de tão pouco mais ou de uma mera "pitada" de brio, teria um valor informativo imenso, desde logo para os órgãos de comunicação social a quem é apontada negligência no acompanhamento da modalidade. Será talvez "pobre" um relato de jogo apenas baseado numa ficha de jogo, mas, havendo tão pouco, mais qualquer coisa não é de menosprezar.

AMGRoller Compozito

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