O conto de fadas do Monza
Nos oitavos-de-final da Taça WSE, o Monza 'derrubou' o Noia em Sant Sadurní. Um autêntico conto de fadas de um clube que, sem devaneios e sempre com Tommaso Colamaria ao leme, luta, época após época, pela manutenção na Serie A1.
A história do desporto está cheia de momentos em que os teoricamente mais fracos superam os teoricamente mais fortes. Também por isso é que se vai a jogo, mesmo quando as "forças" em confronto são dispares.
Nos oitavos-de-final da Taça WSE, o Noia era claro favorito frente ao Monza. Mesmo depois do Monza ter vencido, na primeira mão, por 3-2.
Preâmbulo
Os catalães são um dos históricos da modalidade. Campeões europeus em 1989, vencedores da Taça CERS, percursora da Taça WSE, em 1998 e 2014. Esta época, o Noia de Pere Varias caiu na segunda fase de qualificação da Champions League, atrás de Tomar e Valongo, mas, também pela sua história, assumia a vontade de estar nas decisões da Taça WSE.
A aspiração era legitima. Afinal, o Noia é 2º na OK Liga, com oito pontos de vantagem sobre o terceiro, com apenas uma derrota (em Girona, na já muito distante 3ª jornada, por 4-1) e é a única equipa a não ter perdido com o Barcelona (empatou 2-2).
Já o italiano Monza, numa imberbe 11ª temporada de existência depois da refundação, só tem três equipas abaixo na tabela classificativa da Serie A1, incluindo o desistente Vercelli, tendo perdido nove dos seus 16 jogos, No entanto, marcando mais golos (quatro por jogo) do que o Noia (menos de três e meio por partida).
Na Taça WSE, chegaram a estes oitavos-de-final depois de uma fase de qualificação com vitórias sobre o King's Lynn (12-1) e o Thunerstern (3-4). Perderam com o Alcoi, por 1-5, mas já estavam apurados.
Uma página de história em dois actos
Ditou o sorteio novo duelo com uma equipa espanhola, agora a duas mãos. A meio de Dezembro, numa primeira mão com arbitragem de Carlos Correia e Paulo Almeida em Itália, o Monza venceu o Noia por 3-2 com golos dos argentinos Francisco Bielsa e Julián Tamborindegui e do capitão Matteo Galimberti, mas tal, com uma segunda mão em Sant Sadurní por disputar, pouco feria o favoritismo caralão.
No passado sábado, com arbitragem de Joaquim Pinto e Pedro Silva, o Monza voltou a sair vencedor, triunfando por 3-6, naquela que foi a sua primeira vitória em solo espanhol e logo num palco que, por exemplo, recebeu o último Campeonato da Europa.
As duas vitórias do Monza sobre o Noia tiveram arbitragem portuguesa. Carlos Correia, Paulo Almeida, Joaquim Pinto e Pedro Silva dirigiram as partidas.
Galimberti deu o mote. Aleix Esteller igualou. Com uma defesa sólida e um "Pippo" Fongaro inspirado entre os postes, o Monza continha as iniciativas do Noia. No ataque, era letal. Matteo Zucchetti, Alessandro Uva e Tamborindegui marcavam, aumentando golo a golo a inquietude dos locais, até um 1-4 ao intervalo.
Na segunda parte, Xavi Costa reduziu, mas Zucchetti repôs a diferença de pronto. No passar dos minutos, o Noia resignava-se. A cinco minutos do fim, Tamborindegui assinou o 2-6 que "matava" definitivamente a eliminatória. Ivan Morales ainda fez o terceiro para os locais, mas já era tarde para os catalães.
Nos quartos-de-final, o Monza joga em Sarzana a 17 de Fevereiro e recebe os "diabos vermelhos" a 16 de Março.
A heróica "squaddra"
Entre os heróis desta histórica eliminatória, o destaque tem de ser necessariamente para a figura maior deste Monza. Indubitavelmente, Tommaso Colamaria. Campeão do Mundo e da Europa por Itália como jogador e um dos integrantes da selecção olímpica de 1992, Colamaria foi seleccionador italiano de Sub-17 (campeão europeu em 2014) e é o treinador do "novo" Monza desde 2013, ano da "refundação", com uma a aposta nos jovens reiterada e renovada todas as épocas.
Só dois jogadores às ordens de Tommaso Colamaria não são Sub-23. Tamborindegui, em tempos associado ao Tomar, é o mais velho, com 29 anos.
Julian Tamborindegui, de 29 anos, é o mais velho do plantel. Em 2020, chegou a ser anunciado pelo Tomar, mas, em ano de pandemia, ficou a um visto de distância de reforçar os tomarenses. Matteo Zucchetti tem 26.
Os restantes são, pelo menos, Sub-23. Matteo Galimberti, Gabriele Gavioli e Francisco Bielsa que chegou este ano da Argentina, têm 22 anos. Elia Petrocchi tem 21 e Alessandro Uva e o menos utilizado Carlo Riva têm 17. Marco Gariboldi, que esta época já foi a jogo - mas não frente ao Noia - também já foi, tem apenas 15. Os guarda-redes Filippo Fongaro e Luca Borgonovo, naquela posição em que mais se diz que "a idade é um posto", têm, respectivamente, 20 e 16 anos.
HRC Monza, herdeiro de campeões
Este Monza (houve outros), foi fundado em 2007 como Hockey Monza e Brianza (Monza e Brianza é o nome da província), mas foi dissolvido judicialmente em 2013 por problemas financeiros, apesar de nunca ter saído da Serie B, uma terceira divisão. Surge então o Hockey Roller Club Monza.
O refundado clube só esteve uma temporada na Serie B e uma outra na Serie A2, chegando à categoria máxima em 2015. Logo na primeira temporada entre os maiores do Hóquei em Patins italiano, o Monza foi 8º, tal como seria em 2017/18, nas melhores classificações conseguidas na fase regular. Em ambas, caiu nos quartos-de-final do play-off.
Numa cautela e caminhada de passos firmes contrastante com a vertiginosa velocidade no autódromo cujas provas de Fórmula 1 deram fama mundial à localidade, a luta do Monza é pela manutenção, que, com maior ou menor dificuldade, vai garantindo. E, na ausência de outras equipas, até tem protagonizado presenças europeias.
O refundado Monza está na sua 11ª época de existência, a 9ª na Serie A1.
Em 2016/17, na Taça CERS, passou os suíços do Uri, mas caiu nos "oitavos" frente ao Sarzana, que agora volta a encontrar. Em 2018/19 e 2019/20, esteve na fase de grupos da máxima Liga Europeia, curiosamente encontrando - e desafiando - o Noia. Na primeira temporada, somou nove pontos, três deles de uma surpreendente vitória por 4-0 sobre os catalães, mas perdendo por 7-2 na Catalunha. Na segunda participação, somava sete pontos em quatro jogos quando a pandemia interrompeu a prova. Vencera duas vezes o Biasca e empatara, a três, com o Noia que tão cedo não quererá voltar a encontrar-se com estes italianos.
O Monza tem como cores o vermelho e azul, evocativos de duas equipas referentes da cidade.
O Hockey Club Monza (1933-2004) foi finalista nas duas primeiras edições da Taça dos Campeões Europeus. Na Taça CERS, foi finalista em 1982 e vencedor em 1989. Campeão em 1951, 1953, 1956, 1961, 1965, 1966 e 1968, os seus sete títulos só são superados pelos 19 do Triestina e os 32 do Novara.
O Roller Monza (1980-1997) foi finalista da Taça dos Campeões Europeus em 1991, no título do Óquei de Barcelos, tendo conhecido a glória europeia em três edições da extinta Taça dos Vencedores das Taças: em 1989 frente ao Porto, e em 1992 e 1995. Foi campeão italiano em 1989, 1990, 1992 e 1996.
Terça-feira, 23 de Janeiro de 2024, 21h46