O regresso do Candelária

Depois de estar na I Divisão de 2005 a 2017, embalado por forte investimento, o Candelária quase 'morreu'. Reergueu-se com outros valores, dedicação e muito suor. As lágrimas são enfim de alegria pelo regresso à categoria máxima.

O regresso do Candelária

No passado fim-de-semana, o Candelária - líder da Zona Sul da II Divisão - festejou o regresso à I Divisão "no sofá", com o empate a quatro entre Alenquer e Paço de Arcos. Houve festa no Pico, mas a equipa estava no continente para defrontar a Física no domingo, já com a subida confirmada.

No final da partida, ganha por 1-3, Pedro Afonso destacou a coesão do seu grupo, em quem será reiterada a confiança. Em princípio, sairá apenas Lucas Vicente (para o Turquel), chegando dois reforços para complementar um plantel em que Pedro acredita, frisando que ninguém sabe se serão bons na I Divisão porque nunca tiveram essa oportunidade.

O técnico do Candelária reiterou a capacidade defensiva da equipa, recusando no entanto ser uma equipa defensiva e destacando a eficácia a defender.

Sete anos depois, o principal campeonato português volta a contar com uma equipa das ilhas. O regresso do Candelária à categoria máxima é o culminar de um árduo e longo caminho, muito para além dos óbvios 1700 km que separam o Pico dos aeroportos Humberto Delgado (Lisboa) ou Francisco Sá Carneiro (Porto) na necessidade de voos de duas em duas semanas.

Fundado em 1990 na "remota" (para quem vê do continente) ilha açoriana do Pico, o Candelária chegou à I Divisão em 2005. "Alimentado" por fundos insulares, o Candelária era um chamariz para grandes nomes, ombreando com os principais emblemas nacionais. E chegaria a uma final da Taça CERS em 2007, às meias da Liga Europeia em 2011 e aos quartos-de-final, em Final Eight, da mesma Liga Europeia, prova máxima de clubes, em 2012.

Em particular a partir de 2015, o clube mergulhou em crise. Sobreviveria, com muita dificuldade, mais duas temporadas na I Divisão, mas a descida era uma questão de tempo. O plantel estava saturado, as dívidas acumulavam-se.

A primeira época no regresso à II Divisão foi complicada, terminando em 10º, apenas sete pontos acima da linha de água. Mas, o Candelária recompôs-se com o crescente envolvimento de, principalmente, Tiago Resende e Pedro Afonso, mas também Mauro Fernandez. Três figuras que chegaram do continente e se apaixonaram pela Ilha. Três figuras que se apaixonaram na Ilha, mas isso é outra história.

Pedro Afonso é uma das figuras do
Pedro Afonso é uma das figuras do "novo" Candelária. Agora como treinador, sempre como empreendedor na reestruturação do clube.

Mauro foi o primeiro argentino a representar o Benfica, em 1999, mas depressa perdeu o lugar com a chegada de uns tais de Mariano e Panchito Velázquez numa altura em que só podia haver dois estrangeiros. Representou outras equipas no continente e chegou ao Pico com o Candelária ainda na II Divisão, em 2004.

Tiago, campeão do Mundo de Sub-20 em 2003, partiu do Paço de Arcos em 2006 para ser uma das grandes figuras das grandes equipas do Candelária. Era um pouco mais novo que Pedro Afonso, mas parte da geração do clube da Linha a quem o Benfica "ceifou" cinco jogadores de uma assentada.

Pedro já tinha estado entre 2007 e 2009 no Pico. Deu um salto "ali" à Corunha para se sagrar campeão europeu em 2011 e voltou para vestir novamente, e em definitivo, a camisola do Candelária.

Com o comando técnico de Tiago Resende e Pedro Afonso, a equipa verde-e-branca foi 4ª em 2018/19, a 12 pontos do 2º, e depois viveu quatro temporadas de "quase". Em 2019/20, o Candelária estava em 3º a um ponto do 2º quando o campeonato foi cancelado. Havia um protesto que poderia levar a novo jogo com o Oeiras e a mais três pontos, mas também a justiça foi cancelada. E, em tempo de pandemia, seria, de facto, uma "chatice" disputar a infame liguilha com viagens ao Pico.

Em 2020/21, foram 3º, a três pontos do 2º. Em 2021/22, foram novamente 3º, a dois pontos do 2º. Em 2022/23, foram 2º. Mas, no play-off de subida, perderam com o Carvalhos no prolongamento do segundo jogo. No Pico, para agravar a dor. Mexeu-se pouco no plantel, chegando apenas Rui Ramos e Lucas Vicente, dos também secundários Oeiras e Marrazes. Consolidaram-se os jogadores que ficaram.

Miguel Rocha, como guarda-redes, é a cara de um grupo que só sofreu 39 golos em 24 jogos.
Miguel Rocha, como guarda-redes, é a cara de um grupo que só sofreu 39 golos em 24 jogos.

Milton Jorge é o decano, com 42 anos, filho da Ilha e desde "sempre" no Candelária. Guarda-redes escudeiro de grandes nomes, vê agora brilhar entre os postes Miguel Rocha, que um dia defendeu tudo na Luz pelo Riba d'Ave, mas tem apenas 20 anos e uma técnica muito peculiar.

O irmão gémeo Pedro acompanhou, por mérito próprio, o irmão Miguel. Manuel Correia e Vasco Soares tinham chegado da Juventude Salesiana. E há os argentinos, Joel Martin e Damian Paez, ambos com 23 anos. Joel é o melhor marcador da equipa, Damian, há três anos no Pico, o capitão.

Damian será talvez, para lá do valor colectivo, a principal figura da equipa. Desde logo, tem um apelido imponente. Mas Paez não é dos tios "Rei" David ou "Negro" Jose Luis, antes de Carlos, que brilhou, numa relativa proporção, mais em França.

A duas jornadas do fim, são 10 os pontos de vantagem para o 2º classificado, na prova máxima que a defesa ganha campeonatos. Em 24 jogos, o Candelária marcou apenas 84 golos, menos que outras oito (!) equipas, mas sofreu apenas 39. Pouco mais do que golo e meio por jogo. Será muito interessante o duelo pelo título da II Divisão com a Sanjoanense, vencedora da Zona Norte com 172 golos marcados nos mesmos 24 jogos.

Este sábado, o Candelária recebe o Entroncamento em ambiente de festa conjunta entre adeptos e equipa. Uma festa merecida. O Candelária está de regresso à I Divisão.

Damian Paez, herdeiro de um histórico apelido, é o capitão do Candelária.
Damian Paez, herdeiro de um histórico apelido, é o capitão do Candelária.

Em busca do terceiro promovido

Com dois jogos por disputar, a luta será entre Paço de Arcos (49 pontos) e Parede (48), ambos em busca do regresso à I Divisão apenas um ano depois. O Paço de Arcos recebe a Física e joga no Entroncamento, ao passo que o Parede se desloca à pista do Vilafranquense e recebe a equipa "B" do Benfica.

A Norte, com a Sanjoanense já promovida, a luta - com os mesmos dois jogos por disputar - está entre Juventude de Viana (56 pontos) e Póvoa (55). Os vianenses vão receber o Valença e deslocam-se a Oliveira de Azeméis para defrontar a equipa "B" da Oliveirense, enquanto o Póvoa recebe o Sobreira e joga em Valença.

Os 2º classificados da Zona Sul e Zona Norte defrontam-se depois a duas mãos para se conhecer a derradeira equipa no principal campeonato português na próxima temporada. Certos são Porto, Benfica, Oliveirense, Sporting, Tomar, Óquei de Barcelos, Valongo, Riba d'Ave, Braga, Juventude Pacense, Murches e os promovidos Sanjoanense e Candelária.

AMGRoller Compozito

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