O Hóquei em Patins também pode ser um jogo de números

Xavier Terra

O Hóquei em Patins em Portugal e no Mundo ainda pratica uma abordagem física, tática e técnica, já com nutricionistas, preparadores físicos, análise de vídeo. Mas com pouca atenção aos números e estatística.

O Hóquei em Patins também pode ser um jogo de números
Texto: Xavier Terra

Há alguns anos, uma equipa B de Hóquei em Patins estava no primeiro ano na III Divisão portuguesa a competir no play-off de promoção à II Divisão. Diante da escassez de conteúdo audiovisual sobre as três equipas concorrentes e da falta de histórico de confrontos, como poderia a equipa preparar-se para os três confrontos com informações limitadas?

As fichas de jogo disponibilizadas pela Federação de Patinagem de Portugal tornaram-se uma fonte valiosa: dados como faltas, golos marcados e sofridos, advertências e ocorrências importantes, permitiram uma análise prévia dos adversários. Essas informações foram colocadas num Excel, devidamente organizadas para especular os perfis das equipas e jogadores.

Uma dessas equipas marcava imensos golos e os principais responsáveis eram dois goleadores que também tinham bastantes advertências e cartões azuis. Esses dados revelavam que, ou simulavam bastante e reclamavam com o árbitro, ou faziam muitas faltas. Ao assistir ao jogo os dados foram comprovando a assunção feita antes: jogadores mais efusivos que reclamavam e simulavam faltas.

Nas duas épocas seguintes, analisei jogos ao vivo e as suas repetições quando disponíveis, e recolhi os dados de todas as fichas de jogo da Zona Norte da II Divisão. Essa abordagem permitiu-me ter uma compreensão mais profunda das dinâmicas individuais e coletivas, incluindo faltas, recuperações de bola, assistências e remates.

Uma análise minuciosa revelou padrões da equipa de que recolhi mais informação ao assistir aos jogos. Por exemplo, uma grande proporção das faltas cometidas pela equipa ocorria nas tabelas de fundo, consistentemente atribuídas ao mesmo jogador, jogo após jogo. Essa observação sugere uma possível área de melhoria no jogo defensivo, destacando a necessidade de uma abordagem mais disciplinada por parte do jogador em questão.

No entanto, é importante reconhecer que os dados por si só podem não ser suficientes para corrigir esse comportamento; pode ser que o jogador e equipa técnica não estejam cientes destas estatísticas ou simplesmente não reconheçam a necessidade de mudança na sua abordagem aos lances e estilo de jogo.

Outro facto foi o desempenho de um jogador específico, que apresentava uma média impressionante de mais de 15 remates por jogo, resultando numa média de três golos por jogo. Teriam o jogador e equipa técnica consciência desses dados?

Recordo-me de assistir a um jogo onde o comentador especulava sobre a eficácia de 100% de outro jogador numa determinada zona do campo. Embora esses comentários possam ter sido feitos de forma especulativa, a realidade é que esse jogador demonstrou consistentemente uma eficácia notável naquela área específica. Seria esse movimento trabalhado por parte da equipa?

Além disso, ao examinar o panorama da II Divisão do Hóquei em Patins, identifiquei tendências significativas: a maior parte dos golos era marcado ou sofrido nos minutos finais das partes, refletindo a importância da concentração e resistência física.

Também observei que os principais goleadores muitas vezes eram especialistas em bolas paradas, embora poucos conseguissem superar uma eficácia de 40%. Numa das épocas analisadas um jogador apresentou 26% de eficácia na conversão de bolas paradas e não foi o melhor marcador pela diferença de um golo! Treinaria ele as bolas paradas? Continuaria a assumir as bolas paradas por estatuto na equipa? Fariam os guarda-redes uma análise e preparação mais incisiva nesses lances?

No entanto, o desafio persistente reside na falta de infraestrutura e recursos para uma análise mais aprofundada. A interpretação dos dados também é importante e crucial, mas de nada serve recolher dados se não existir um seguimento do trabalho.

O Hóquei em Patins em Portugal e no Mundo ainda pratica uma abordagem física, tática e técnica, já com nutricionistas, preparadores físicos, análise de vídeo, mas com pouca atenção aos números e estatística. Na busca por um software que permitisse a recolha de dados durante os jogos tal como na NHL, que é uma indústria multimilionária, deparei-me com sites que já vendiam as estatísticas detalhadas de todos os jogadores e equipas.

Em suma, a análise estatística não se limita apenas a preparar uma equipa para jogos individuais; ela desempenha um papel fundamental no desenvolvimento a longo prazo da equipa.

Ao recolher e analisar dados consistentemente ao longo das temporadas, os treinadores e equipa técnica podem identificar padrões de desempenho, pontos fortes e áreas de melhoria tanto a nível individual como coletivo. Tal permite ajustar estratégias táticas, melhorar a preparação física e desenvolver novos sistemas de jogo. Além disso, a análise estatística pode influenciar decisões de recrutamento e motivar os jogadores ao dar feedback baseado em dados sobre o seu desempenho.

Integrar a análise estatística com a tática de jogo pode garantir melhores resultados - tanto no curto como no longo prazo - para as equipas de Hóquei em Patins.

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