A sequência de Rui Neto
Conquista da Supertaça, vitórias sobre o campeão nacional, triunfo em Murches, apuramento para a fase de grupos da Champions League afastando o campeão europeu. É uma sequência perfeita do Óquei de Barcelos e de Rui Neto.
Algumas pessoas fazem da sua pele uma tela, um álbum de memórias, de fragmentos da vida, de razões de ser. Rui Neto, treinador do Óquei de Barcelos, tem os filhos, alusões ao Hóquei em Patins, e, entre outras, à Matemática.
Professor da disciplina que inexplicavelmente causa suores frios a muitos estudantes, Rui tem, entre outras "contas à vida", talhada no braço esquerdo a representação gráfica da sequência de Fibonacci.
Matematicamente, a sequência de Fibonacci é uma sequência simples, em que cada número é a soma dos dois anteriores. Mas, na sua simplicidade, os termos da sequência de Fibonacci - e a sua representação em espiral - estabelecem entre si uma proporção usada ao longo dos séculos na arte, na arquitectura e no design. É uma proporção divina, uma razão áurea. Uma sequência perfeita. Muito como os recentes jogos do Óquei de Barcelos.
Rui Neto, agora com 56 anos, chegou ao Óquei de Barcelos em 2020, depois de duas temporadas no Braga (que defronta esta quarta-feira no fecho da 3ª jornada). Na primeira passagem pelos barcelenses, esteve no comando técnico duas épocas... e três jogos, acordando-se a rescisão após a Elite Cup, primeira prova oficial da temporada.
Regressou a meio da pretérita temporada, a tempo de ser finalista da Taça, semifinalista da Champions League, mas não indo além do 6º na fase regular do campeonato. Partiram Alvarinho, Dario Giménez e Leo Savreux e o guarda-redes Joka, que passou a adjunto. Chegou "apenas" Pedro Silva, do Riba d'Ave, e foram anunciadas as promoções dos jovens Luís Belchior, Gonçalo Silva e João Chaves. Apontou-se desinvestimento...
A época, em jogos oficiais de competições nacionais, começou com uma lição a reter. Na manhã de 11 de Outubro, nos quartos-de-final da Elite Cup, o Óquei de Barcelos até esteve a vencer o Porto, mas acabou por claudicar por 6-1. Desse jogo, ficou, mais do que o pesado resultado, um inusitado baixar de braços perante a adversidade, um total alheamento da partida nos minutos finais. Para recordar. Para não repetir.
Uma semana depois da Elite Cup, já com o reforço de última hora Pol Manrubia - "desertor" de um Benfica onde não tinha espaço -, Óquei de Barcelos e Porto regressavam ao mesmo palco, o Multiusos de Odivelas. Os barcelenses iniciavam uma série idílica.
O triunfo na Supertaça António Livramento a 19 de Outubro, por 2-3, valia um troféu, apenas o segundo nacional dos barcelenses em 20 anos, depois da conquista da Elite Cup em 2021. Também em final com o Porto, também com Rui Neto ao leme.
Apenas quatro dias depois, dragões e galos voltaram a encontrar-se, então para o Campeonato Nacional. No Municipal de Barcelos, o Porto começava a defesa do título, ferido da derrota na Supertaça. O Óquei de Barcelos soube festejar e, na "ressaca", focar-se para novo duelo, o terceiro em semana e meia, e venceu por claros 3-0.
Para o campeonato, seguiu-se deslocação a Murches, teoricamente com favoritismo barcelense, mas sem esquecer a derrota da pretérita temporada. Do 8-3 de Janeiro último, ao 3-9 deste 26 de Outubro, vai todo um mundo de distância, num ensaio geral para novo desafio maior.
Na viagem a La Roche-sur-Yon, em França, estava em jogo o apuramento para a fase de grupos da Champions League. Ao estilo de "Os Imortais", no fim, só poderia haver um... apurado. O Óquei de Barcelos venceu o La Vendéenne, anfitrião do Grupo 2, por 0-8 e, mesmo bastando o empate, venceu o Sporting, campeão europeu em título, por 3-2. Semifinalista na última edição, caindo apenas nas grandes penalidades frente à Oliveirense, a equipa de Rui Neto carimbava um lugar no Grupo A da fase de grupos da Champions League.
As 10 jornadas da reformulada (e mais exigente) prova máxima europeia arrancam a 21 de Novembro, com novo duelo com o Porto. Agora, no Dragão Arena, onde o Óquei de Barcelos não vence desde Outubro de 2003. No entanto, os últimos três jogos naquele palco entre dragões e galos - um deles com Paulo Freitas no comando dos barcelenses - deram empate nos regulamentares 50 minutos.
Até lá, o Óquei de Barcelos recebe, para o Campeonato Placard, o Braga (esta quarta-feira) e Juventude de Viana (sábado, dia 9) e joga fora de portas na Luz (dia 13) e em São João da Madeira (dia 16).
Quarta-feira, 6 de Novembro de 2024, 13h17
