O Hóquei em Patins na Suíça

Por David Barbosa

O Hóquei em Patins na Suíça

#ABOUT Natural de Braga, David Barbosa é um atento adepto de hóquei em patins radicado em Montreux que faz para o HóqueiPT uma "fotografia" da modalidade em terras helvéticas.

O campeonato suíço de hóquei em patins é composto de duas divisões: a LNA (Liga Nacional A) e LNB (Liga Nacional B). Depois também há uma LNC que é para as equipas de reservas, ou seja, o vencedor desse campeonato não sobe para a LNB.

A LNA (a primeira divisão, o patamar superior) é composta por 10 equipas. Até ao mês de Março as equipas jogam um campeonato normal (jogo em casa e fora contra cada equipa). A seguir, temos um play-off com eliminação directa (1° joga contra o 8°, 2° contra o 7° etc…) para definir o vencedor e a classificação final.

Cada jogo do Play-Off é feito com a regra do “Best-of-3” ou seja, o primeiro com duas vitórias vence a eliminatória. Mas na época que agora vai começar (2015/16), a final deverá ser jogada num só jogo, uma “SuperFinal” inspirada no floorball, como é disputado na Suíça. O 9° e o 10° da fase regular jogam a manutenção contra os dois primeiros da LNB.

A Suíça terminou o último Mundial em 10º
A Suíça terminou o último Mundial em 10º

O Campeão “português”

O último vencedor do campeonato suíço foi o RHC Basel, que venceu na final o RHC Genève. Foi um campeão “português” na Suíça, já que no RHC Basel alinhavam o Tiago Sousa (ex-Cucujães em Portugal e ex-Montreux na Suíça), Rui Ribeiro, André Pereira e Carlos Silva na baliza, todos ex-Paço de Arcos. De realçar também a chegada do argentino Mariano Velazquez na segunda metade da época, sendo que o mercado de transferências acaba a 31 de Dezembro.

Como facto curioso, na próxima época nenhum dos jogadores citados vai jogar pelo RHC Basel. Tiago Sousa vai regressar ao Montreux HC (4º em 2015 e vencedor da Taça), da cidade onde mora. Rui Ribeiro e André Pereira vão reforçar o RHC Uttigen, de uma pequena localidade perto da cidade de Thun. Carlos Silva vai defender a baliza do RHC Diessbach (3° em 2015), clube que protagonizou uma surpresa na Taça CERS ao eliminar o Candelária nos oitavos-de-final.

Rui Ribeiro festeja com André Pereira golo “português” do Basel
Rui Ribeiro festeja com André Pereira golo “português” do Basel

Quanto a Mariano Velazquez, regressa à Argentina. A equipa do RHC Basel ficou desfalcada, mas já se trabalha muito na próxima época, sobretudo na Argentina. Um dos reforços já conhecido é Simon von Allmen, internacional suíço, que jogou a última época no Petroleros, no país das pampas. O guarda-redes Rafa Abalos, do Impsa de Mendoza, e Guido Pellizzari - internacional Sub-20 que jogava no Andes Talleres – são dois argentinos que chegam, juntando-se ao espanhol Alberto Gómez, do CP Mieres.

É de sublinhar que as três contratações na Argentina não são um acaso, dado que o presidente do RHC Basel, Roger Ehrler, é um declarado apreciador do hóquei e dois jogadores argentinos. Antes do Basel e de Mariano Velazquez, Roger tinha um clube, o Friedlingen, que venceu o campeonato e onde jogavam David Paez e Fabrizio Marimont. O clube acabou por ter sido impedido de jogar a Liga Europeia porque estava sediado na Alemanha, ainda que perto da fronteira suíça.

Na próxima edição da Liga Europeia, é certo que um clube português jogará duas vezes contra o RHC Basel na fase de grupos. Na última época, o clube de Basileia foi eliminado pelo Sporting CP nos oitavos-de-final da Taça CERS mas criou muitas dificuldades à formação lusa.

O campeão helvético Carlos Silva vai defender as cores do Diessbach na próxima época
O campeão helvético Carlos Silva vai defender as cores do Diessbach na próxima época

Outro protagonista, numa final “portuguesa”

O outro grande clube suíço é o finalista derrotado de 2015, o RHC Genève, onde jogam dois antigos internacionais portugueses: Sebastian Silva e Pedro Alves. Pedro Alves, um dos ícones do hóquei em patins português e Mundial, deve aos 45 anos deixar os patins e ser apenas treinador (foi jogador-treinador na temporada finda). No clube de Genève também joga o português Luis Coelho e a própria estrutura do clube é portuguesa, com Pedro Antunes como director-desportivo e José Soares (ex-seccionista do FC Porto) como presidente. O RHC Genève pode ser uma das surpresas da Taça CERS 2015/16, depois de na última época ter conseguido um grande feito ao empatar a cinco na Liga Europeia em Valongo. João Souto empatou o jogo já no último minuto.

Mais equipas

O campeonato revela-se cada vez mais equilibrado e com cada vez mais surpresas. O Genève é um dos três clubes que se encontra na parte francesa. Também há o Pully da LNB, que vai organizar o Campeonato da Europa de Sub-20 no próximo ano, e o Montreux HC que organiza o conceituado Torneio de Montreux de dois em dois anos na Páscoa (o próximo será em 2017).

Mateo De Ramon é o seleccionador nacional, para além de estar à frente do Montreux
Mateo De Ramon é o seleccionador nacional, para além de estar à frente do Montreux

Ao contrário do RHC Genève, o Montreux Hockey Club é um clube à “moda” espanhola, tendo cinco jogadores com uma origem em Espanha. O clube começou a ter muitos espanhóis depois da chegada de Mateo de Ramon, vencedor da Taça CERS 2008/09 como treinador do Tenerife e actual seleccionador suíço. O objectivo do Montreux é vencer o campeonato. Já o conseguiu em 48 ocasiões, mas já não triunfa desde 1987!

Uma equipa que se pode dizer do mesmo nível do Montreux é o RHC Diessbach onde joga, para muitos, o melhor suíço. E Pascal Kissling será este ano jogador e treinador. Com Carlos Silva entre os postes, o clube vai querer vencer o campeonato e ir longe na Taça CERS, tal como na última época quando perdeu nos apenas nos quartos-de-final contra o Reus de Espanha.

Também é de salientar a particularidade de haver um clube alemão no campeonato, o RSV Weil, campeão suíço em 2009. Está sediado na fronteira e, competindo na Suíça, pode praticar hóquei sem ter de fazer grandes movimentações na Alemanha. Esta caso não é único. Há dois clubes da Áustria (Wolfurt e Dornbirn) que jogam na Suíça pela proximidade geográfica e por falta de clubes no país. Os dois estão no segundo escalão (LNB), havendo um terceiro clube austríaco - o Villach – que joga na Série B do campeonato italiano, por estar mais próximo da fronteira com a Itália (e a Eslovénia).

Pascal Kissling, capitão da selecção
Pascal Kissling, capitão da selecção

Um clube habituado à Taça CERS mas que perdeu dois jogadores importantes, é o Biasca, da parte italiana da Suíça. O seu jogador-treinador Andrea Perin e o internacional italiano Marco Motaran penduraram os patins. O único clube de língua italiana em actividade na Suíça deverá continuar a apostar numa equipa jovem como tem feito nos últimos anos.

O Wimmis é outro caso particular. Há anos que tem sempre jogadores da zona e não costuma apostar em “forasteiros”. Mas agora foi anunciada a contratação de um estrangeiro, possivelmente um dos primeiros ou o primeiro a jogar em Wimmis. Trata-se de Pedro Costa, guarda-redes ex-Póvoa, internacional Sub-17 e Sub-20 por Portugal. Será positivo para o clube que era um dos poucos sem jogadores estrangeiros para aportarem maior qualidade e/ou experiência.

Faltam infraestruturas

Os pavilhões de hóquei em patins são muito pequenos na Suíça. O melhor é o de Montreux, que tem capacidade para cerca de 2500 pessoas. Mas não pertence ao clube. Quase todos os outros são sem bancada e o público está junto às tabelas. No entanto, ao contrário do que acontece em Portugal, não se vê qualquer segurança em todo o pavilhão, mesmo que se vendam garrafas de vidro. É de frisar dado que foi um facto que inclusivamente mereceu a admiração do Óquei Clube de Barcelos numa das suas vindas europeias a Uttigen, há poucos anos.

Um campeonato mais forte, num país onde o hóquei é… no gelo

Pode-se dizer que os clubes suíços estão cada vez mais fortes, com a vinda de muitos jogadores estrangeiros. Mas há o ponto negativo de tirar lugar aos jogadores formados na Suíça e tal pode prejudicar a selecção suíça.

Em 2007 não havia estrangeiros nos clubes suíços e o país helvético surpreendeu toda gente ao eliminar, num campeonato do Mundo disputado em casa, Portugal e a Argentina, acabando por ser apenas derrotada na final.

Será muito difícil o hóquei em patins evoluir porque “desporto nacional” na Suíça é o hóquei… no gelo. Que até consegue rivalizar com o futebol! Por exemplo, acontece não haver transmissão televisiva da Liga dos Campeões de futebol para ser transmitido um jogo do campeonato de hóquei em gelo…

AMGRoller

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