Há 69 anos, Portugal conquistava o Mundo
Foto da equipa portuguesa: Folha SecaFoto Pav. Carlos Lopes: IdealistaFoto de capa: Mundo DeportivoFoto da cerimónia de abertura: Museu Virtual do Desporto Português"Los portugueses ya son campeones", lia-se no Mundo Deportivo de 23 de Maio de 1947. Esta segunda-feira, completam-se 69 anos sobre o primeiro título Mundial de Hóquei em Patins conquistado por Portugal.
O dia que marca a última jornada do III Campeonato do Mundo (simultaneamente XIII Campeonato da Europa) foi de consagração. O inédito título fora garantido na véspera, a 22 de Maio de 1947... sem jogar. No dia de folga dos portugueses, a Inglaterra, vigente campeã do Mundo, perdia com a então vice Itália por 4-3 e a matemática ditava um Portugal campeão pela primeira vez na história da modalidade.
A competição terminaria então a 23 de Maio, com os portugueses a selarem o título com uma vitória por 3-0 sobre uma Inglaterra que perdia no primeiro campeonato do pós-guerra - e para sempre - a hegemonia do Hóquei em Patins. Antes da II Grande Guerra (1939/45), os ingleses tinham dominado por completo, tendo conquistado as primeiras 12 edições do Europeu, entre as quais as primeiras duas (1936 e 1939) que definiram também um Campeão do Mundo.
O fim da hegemonia inglesa começou com um pesado 6-0... frente à Bélgica. Noutros tempos, os belgas terminariam vice-campeões, atrás de Portugal.
A competição seria solenemente encerrada no dia 24 (sábado), com um jogo entre Portugal e uma selecção dos restantes países. Portugal perderia 4-0… mas o ceptro já ninguém lho tirava. A conquista surgia depois de dois bronzes nas duas primeiras edições do Mundial, sendo que, nos Europeus, Portugal também nunca fora além do lugar mais baixo do pódio.
Inquestionável
Portugal terminou este terceiro campeonato do Mundo apenas com vitórias. Foram seis triunfos em outros tantos jogos num campeonato que foi pautado pelo equilíbrio.
Numa pontuação de 3 pontos por vitória, 2 pontos por empate e 1 por derrota, atrás de Portugal (com 18 pontos), classificaram-se Bélgica (13), Espanha (13), Itália (12), Inglaterra (12) e França (10). Apenas a Suíça, só com derrotas (6 pontos), esteve longe de qualquer discussão.
Os portugueses apontaram 27 golos e sofreram apenas oito, logrando o melhor ataque e melhor defesa da prova. Em termos individuais, o destaque irá necessariamente para os homens-golo, Correia dos Santos e Jesus Correia, a assinarem respectivamente 12 e 11 golos. Os restantes golos foram da autoria de Olivério e Sidónio Serpa, que dividiram irmãmente - em todos os sentidos - quatro golos.
Os goleadores Correia dos Santos e Jesus Correia, primos, jogavam também juntos no Paço de Arcos.
Sob a batuta do treinador José Prazeres, alinharam ainda de quinas ao peito os guarda-redes Cipriano dos Santos e Emídio Pinto e os jogadores de pista Álvaro Lopes, António Manuel Soares.
O início de uma epopeia vitoriosa
O Mundial de 1947 seria no plano político uma manifestação do Estado Novo, mas o valor dos jogadores portugueses estava muito para lá de qualquer arranjo político. Em 1948, Portugal sagrou-se bicampeão em Montreux, em 1949 voltou a brilhar em Lisboa, e o tetra foi selado em 1950, em Milão. Entre 1947 e 2003, Portugal conquistaria 15 Campeonatos do Mundo, assumindo-se como a grande potência da modalidade. Com o passar dos anos, surgiu uma Espanha cada vez mais forte, a dar provas primeiro a nível de clubes, e no novo século a dominar a nível de selecção. Em 2013, em Angola, a Espanha ultrapassaria Portugal no número de Mundiais conquistados...
Para já, o número de Europeus ganhos por Portugal continua sem rival, pese a última conquista datar de 1998. Dos 20 de Portugal, aproxima-se a Espanha, já com 16. mas apesar de ter ganho sete das últimas oito edições, a Armada Espanhola parece perder fulgor.
A Itália conquistou o Europeu de 2014 e a Argentina o Mundial de 2015. O resto está nas mãos de Portugal: Campeão da Europa de Sub-17, Campeão da Europa de Sub-20, Campeão do Mundo de Sub-20, detentor da Taça Latina e do Torneio de Montreux/Taça das Nações. E neste último mês, a nível de clubes, o Óquei de Barcelos venceu a Taça CERS e o Benfica venceu a Liga Europeia.
Este ano há Campeonato da Europa e, a jogar em casa, Portugal parece ter tudo para recuperar o ceptro continental.
Um palco de luxo, perdido no tempo
Construído originalmente no Brasil em 1921 e depois reconstruído em Lisboa, o Pavilhão do Parque Eduardo VII, seria remodelado para acolher eventos desportivos em 1946, dando origem ao Pavilhão dos Desportos, inaugurado a 17 de Maio de 1947, para o Mundial. Com capacidade para 6000 espectadores, encheu sempre, numa demonstração clara da paixão dos portugueses pela modalidade.
De Pavilhão do Parque Eduardo VII de Inglaterra a Pavilhão dos Desportos e, mais tarde, a Pavilhão Carlos Lopes, o palco do primeiro título Mundial português foi vetado ao abandono.
Em 2003, seria encerrado ao público, por questões de segurança dado o estado avançado de degradação das estruturas.
Depois de alguns avanços e recuos, foi decidido no final de 2015 atribuir o espaço à Associação de Turismo de Lisboa por 50 anos e 3.5 milhões de euros. As obras de recuperação e remodelação já foram iniciadas e têm conclusão prevista para Dezembro deste ano.
O novo espaço funcionará como centro de convenções e exposições, mas o espaço para eventos desportivos não deverá ser esquecido.
Quiçá possa albergar no futuro, que se deseja não muito distante, um grande campeonato de Hóquei em Patins.
Segunda-feira, 23 de Maio de 2016, 16h22