«O meu objectivo sempre foi jogar os grandes jogos nos grandes campeonatos»
Carlos Nicolía é um dos maiores nomes do Hóquei em Patins da actualidade.
No Benfica desde 2014, o argentino já ganhou tudo o que havia para ganhar e, apesar de manter a fome de títulos, concordou com o desfecho das provas nacionais. "Com o momento que estamos a passar e com sete jornadas para jogar, era o que tinha de acontecer", refere. "Eu gosto de ganhar em campo e, para se ganhar um campeonato, tem de se jogar um campeonato inteiro", reforça, afirmando-se surpreendido com a decisão em Espanha, onde, inclusivamente faltava disputar um playoff.
No "Vamos Falar de Hóquei em Patins" de 4 de Maio, Nicolía partilhou com o HóqueiPT memórias e momentos marcantes de uma carreira que idealizava desde pequeno.
Natural de San Juan, começou no Olímpia com três anos e meio. Sem cobertura na pista ou balneários, ia já equipado de casa, de patins calçados, tal como - por exemplo - o amigo de infância Pablo Alvarez.
Deixaria o Olímpia aos 15 anos, depois de uma discussão sobre o seu "passe", e já tinha convite para ir para o Liceo, que confessa admirar. A mãe, ainda que conhecesse o sonho do filho em se mudar para a Europa, "obrigou-o" a terminar a escola antes de o "deixar voar".
Quando chegou a hora de partir atrás do sonho, recebeu uma chamada de "Pancho". O ídolo Panchito Velazquez ligou-lhe e foi ter com ele para o convencer a ir para Itália, para o Bassano, onde o esperava Carlos Dantas. Não podia recusar.
No primeiro treino em Itália, com tenros 19 anos, equipou de pé porque não queria tirar o lugar a "monstros" como Dario Rigo, Alberto Orlandi ou Massimo Cunegatti. Volvidas duas épocas de "gialorrosso", teve vários convites, mas oi seduzido pelo projecto do Valdagno. Um clube que nunca tinha ganho nada, onde teria de se superar e ser cada vez melhor todos os dias.
Até o Barcelona o chamou. Mas não era desafiante. "O Barcelona não precisava de mais ninguém para continuar a ganhar. Prefiro perder dez campeonatos em pista, do que ganhar a jogar só cinco minutos", observa.
Conduziu o Valdagno a três títulos nacionais e a duas meias-finais da Liga Europeia. Mas, para uma equipa italiana era complicado ir mais além na Europa, porque - afirma - em Itália não se pensa nas competições europeias.
A Oliveirense já o contactara no ano anterior, mas reforçaria em 2014 um Benfica dominador, e sagrou-se campeão em 2015 e 2016, mas que "cairia" em Alverca na derradeira jornada de 2016/17. Sem apontar nomes, sente que esse título oi decidido "ora da pista", num momento que marcou e o mudou. "Houve um antes e um depois desse jogo", aponta.
"Não jogo para ganhar campeonatos, jogo para divertir-me... mas gosto de ganhar", conta-nos numa postura que reconhece polémica, num campeonato muito competitivo. E diverte-se em palcos apaixonados, como Turquel, Valongo ou Barcelos, mas com um que o conquistou particularmente: São João da Madeira. "Com aquela gente, aquele pavilhão, se a Sanjoanense tivesse uma potência económica atrás como tem a Oliveirense, eram campeões", vaticina. "É incrível. Desde que cá estou, subiu e desceu e o o pavilhão está sempre cheio", elogia.
Na próxima temporada, poderá ter um jovem argentino como companheiro - Danilo Rampulla - numa decisão que veria com bons olhos. Elogia os jovens talentos portugueses, como Lucas Honório, com quem treina, mas - da mesma forma que gostava de trazer jovens argentinos para o Benfica - gostava de levar os portugueses a San Juan para perceberem e valorizarem o que têm em Portugal. "Só ter pavilhão coberto e um balneário, já muda tudo", sublinha, já depois de nos contar o projecto de criar patins de baixo custo, mas de qualidade para enviar para a Argentina.
Para 2021 está previsto um Mundial em San Juan. E, como aponta, "não há Mundial como em San Juan". Nicolía esteve no Aldo Cantoni em 2001 como adepto e em 2011, já como jogador. Em 2021, seria um sonho realizar ali aquele que aponta como "certamente" o seu último Mundial.
A ligação com a albiceleste é especial para todos os argentinos. Mas Carlos Nicolía vai muito para além do seu posto de capitão. "Diziam que era o director desportivo", recorda dos últimos mundiais, numa realidade bem distinta daquela das selecções europeias. São jogadores de rivais como Benfica, Sporting, Porto ou Barcelona, mas são, acima de tudo, uma família.
Nicolía sempre gerou paixões e ódios. "As pessoas gostam de mim pelo que sou e também não gostam de mim pelo que sou", separando a sua sede competitiva em pista da postura fora dela. "A família do meu cunhado odiava-me quando jogava contra ele". Depois conheceram-no fora das "canchas"...
Numa conversa que transpareceu tranquilidade e a paixão do jogador pela modalidade, falou-se de sucessão. No entanto, com o filho Cristiano, benjamim no Paço de Arcos, só tenta que se divirta. Com uma única regra. "Tem de fazer o que o treinador pede", explica. "Coisa que eu não fazia...", desabafa.
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Domingo, 10 de Maio de 2020, 17h48