«Entrar com o máximo empenho, mas desinibidos e para desfrutar»

Entre os jogadores da Final Four, ninguém conta tantas presenças no palco da decisão como Caio, agora no Tomar. Na 10ª presença, procura um segundo título que seria a chave de ouro no já anunciado fim de carreira.

«Entrar com o máximo empenho, mas desinibidos e para desfrutar»

Ricardo Oliveira. Caio. Aos 40 anos, um dos mais reconhecidos jogadores deste século chega pela 10ª vez ao palco da decisão da mais importante prova de clubes. A reputação e a veterania é um posto, mas não acresce peso à responsabilidade.

"Estes são aqueles jogos que, desde sempre, encarei para desfrutar o jogo, mais para me divertir - com responsabilidade, como é lógico - do que com responsabilidade acrescida, porque são aqueles jogos em que ninguém tem nada a perder. Só o facto de cá estar, nas Final Four, já é uma vitória, porque só quatro equipas é que conseguem chegar e por isso o pode vir de acréscimo será só o título, porque de resto a experiência já vamos contar com ela", explica-nos.

Caio esteve em nove eventos de decisão - oito Final Four e uma Final Eight - ao serviço de Porto, Oliveirense e Sporting. Formado no Gulpilhares, representou ainda Óquei de Barcelos (tendo jogado uma Liga Europeia pelos "galos"), Benfica (chegando a duas Final Four, mas da Taça CERS) e Trissino, na pretérita temporada, antes de reforçar o Tomar.

Pelo emblema nabantino, esta é uma Final Four diferente. Mas, para a História, ficará como mais uma.

"Temos de ser honestos e dizer que é uma Final For com moldes diferentes, digamos assim, porque as principais equipas abdicaram da competição. Para nós, não é questão que se coloque, porque está cá quem quer estar e por mérito também, porque para estarem cá quatro, outras tiveram de ficar de fora", refere.

"Para nós, jogadores, é uma Final Four igual a tantas outras, e o título é o mesmo. É igual à que eu ganhei, que foi contra as melhores equipas, numa das melhores equipas", aponta, recordando o título de 2019, ao serviço do Sporting.

Antes de erguer o troféu, Caio estivera nas decisões da mais importante prova de clubes em Viareggio (2004), Reus (2005), Bassano (2009, em Final Eight, e 2015), Dragão Caixa (2013) e Barcelona (2014), sempre de dragão ao peito, chegando às finais de 2004, 2005 e 2014. Voltou à final em 2016, na Luz, ao serviço da Oliveirense, e teve outra Final Four no Dragão Caixa, em 2018, mas já pelo Sporting.

Caio conquistou a Liga Europeia em 2019, pelo Sporting. Foi preterido na final, mas ajudara a derrotar o Benfica nas
Caio conquistou a Liga Europeia em 2019, pelo Sporting. Foi preterido na final, mas ajudara a derrotar o Benfica nas "meias".

"Quando o jogo começa, quando o árbitro apita, tudo o que é extra-hóquei fica fora da pista e eu espero é que a gente se divirta e desfrute de uma grande competição como esta, porque, no contexto em que estamos, tão cedo poderá não voltar a acontecer. Só temos a ganhar. É entrar com o máximo empenho, como é lógico, mas também desinibidos e para desfrutar", aconselha.

O internacional português é o mais experiente numa equipa polvilhada com alguma juventude, para um grupo bem "temperado". "Os miúdos que nós temos têm valor e já são miúdos habituados às seleções jovens. O Lucas é campeão europeu, o Beirante há-de lá chegar, se Deus quiser", destaca. "Um dos pontos fortes desta equipa é esta mistura da irreverência dos mais novos, da irresponsabilidade se calhar, conjugado com a maturidade de alguns jogadores, em que me incluo, e de outros que já têm muita experiência de Tomar. Sabem passar os valores daquilo que é o clube, em relação à cidade e aos adeptos. Temos todas as condições, juntando esses ingredientes todos, para fazer uma boa Final Four e, se possível, trazer esta alegria para Tomar", deseja.

De resto, uma Final Four em Torres Novas não é novidade para Caio, mas agora espera ser mais feliz. Esteve ali numa decisão europeia em 2010, pelo Benfica, para a secundária Taça CERS e até marcou o golo que abriu a meia-final frente ao Blanes. Mas não evitou a reviravolta dos catalães, falhando as águias a presença na final.

Ponto final, parágrafo.

Em Abril, já com o Tomar apurado para a Final Four, Caio anunciou a sua despedida das pistas.

"É uma frase clichê, mas eu não queria que fosse o Hóquei a deixar-me, queria eu deixar o Hóquei. Queria deixar de jogar ainda em boas condições e sair por cima, como se costuma dizer", começa por explicar. "Este ano, ao aceitar a proposta do Tomar, sinceramente, não achava que ia ser o último, mas dadas as circunstâncias... fizemos uma boa fase regular, ganhamos pontos aos chamados grandes, conseguimos qualificar-nos para a Final Four... se calhar foi um chamamento, um 'olha, acaba agora porque dificilmente para o ano consegues ter uma época tão recheada de tantos objetivos cumpridos'", justifica.

"Foi um bocado de tudo. Foi também já sentir-me um pouco cansado, mais psicologicamente. São já quarenta anos, vinte e tal épocas de I Divisão, e conjugando isso com o facto de poder sair por cima, com a possibilidade de ganhar uma Liga Europeia... Acho que se juntou tudo e estou certo da decisão que tomei. Se calhar, também ainda não me caiu a ficha, mas estou certo que vai revelar-se a melhor opção", observa.

E o futuro a partir de Setembro? "Ainda não sei a 100%. Há ai vários projetos que me aliciam. Desde logo há um, que está mais no meu horizonte, que estará ligado ao desporto, mas mais na parte organizacional. Também ainda não posso falar muito, porque ainda não está concretizado. Mas vai passar por Lisboa, quase certamente. E será assim... vou estar longe, mas sempre perto, porque foram muitos anos ligados ao Hóquei, ligado às pessoas, e as pessoas e amizades que eu fiz no Hóquei vão ser as minhas amizades daqui para frente. Vou andar sempre aqui perto, sempre a chatear a cabeça a alguns", graceja.

Voltar, mas como director

Nesta Final Four, o caminho de Caio cruza-se com o de Edo Bosch. Juntos estiveram em seis momentos de decisão pelo Porto e não venceram nenhum. "É verdade, o Edo esteve em doze, nunca ganhou nenhuma. E merecia, merecia ter ganho. Algumas delas também as perdeu comigo. Ou perdeu por minha causa, porque há aquela coincidência - ou não -, de que as finais que eu joguei, perdi-as todas, e a que ganhei, não joguei", recorda em jeito de brincadeira.

Edo Bosch tem agora mais uma oportunidade de erguer o troféu, mas como treinador. "Ele vai fazer-se um grande treinador, pelo que eu conheço dele enquanto pessoa e do caráter dele, e da ambição que ele tem, mas também pelo que vou ouvindo de algumas pessoas que já trabalharam com ele, pela qualidade que ele tem, técnica e táctica. Seguramente, esta vai ser a primeira de algumas que ele irá disputar como treinador", garante Caio.

Regressar à decisão como timoneiro, não está nos planos de Caio. "A responder agora, acho que não. Para já, nunca tive o chamamento de treinador, nem a ambição de um dia vir a ser treinador. Nem sei se tinha qualidades ou competências, ou características para isso. Se calhar, vejo-me mais, daqui a uns anos, a ser diretor de uma equipa que chega a uma Final Four", perspectiva.

AMGRoller Compozito

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