«Já estava fora do patamar»
Fotos: Pedro Alves - FacebookPedro Alves é o mais internacional jogador português de todos os tempos, totalizando 251 internacionalizações em todos os escalões.
Quando a selecção nacional de Sub-23 regressou da conquista da Taça Latina, eram poucas as pessoas que aguardavam os vencedores no aeroporto de Lisboa onde, por coincidência, outro campeão calcorreava a zona das chegadas. O HóqueiPT não perdeu a oportunidade de uma conversa com Pedro Alves que este domingo, 17 de Abril completa 46 anos. A conversa é publicada em duas partes, esta primeira sobre a aventura na Suíça.
A experiência na Suíça
Pedro Alves deixou Portugal – e o Braga – rumo à Suíça em 2011, naquela que foi a sua segunda aventura além-fronteiras (entre 2006 e 2008 representou o Liceo), a derradeira como jogador.
Chegou como jogador ao Genève, foi jogador-treinador, e esta época passou definitivamente para o lado de fora das tabelas.
“Tem sido uma experiência agradável”, refere sobre a aventura suíça. “É um país em que o hóquei é amador, mas também com alguma tradição”, frisa sobre a nação que de dois em dois anos acolhe a Taça das Nações. “Fui para um clube que está habituado a jogar sempre para os lugares cimeiros da tabela classificativa”, elogia.
O jogador que começou nas escolas do Vilafranquense e fez o seu percurso de formação no Sporting está apostado em revitalizar o hóquei do Genève e também da Suíça. “Temos muitos elementos jovens que estão a tentar chegar e integrar-se na equipa sénior e o objectivo é esse, pouco a pouco conseguirmos que os jovens possam ser integrados e manter o Genève com uma maioria suíça”, refere. “O hóquei suíço em termos de qualidade baixou nos últimos anos ao nível de selecção e esperemos que alguns elementos jovens possam recuperar esses grandes feitos”, deseja, lembrando que os suíços chegaram a ser vice-campeões do Mundo (em 2007).
Agora, como treinador…
Dois anos em fase de transição, como treinador-jogador, prepararam Pedro Alves para assumir a tempo inteiro as rédeas do Genève, numa experiência que lhe tem agradado… mas que dá trabalho. “Tem sido bastante enriquecedora, até porque tacticamente tenho de fazer de tudo um pouco”, afirma. “Somos capazes de ter um treino só com seis ou sete elementos, em que nem duas equipas podemos ter para fazer o treino de conjunto, como de um momento para o outro aparecem-nos 18 a 20 jogadores e temos de coordenar o treino para tanta gente”, explica.
Sobre os resultados, também considera a experiência positiva. “Acredito que houve uma boa evolução, independentemente de ser uma região em que o hóquei é amador”, apontando as boas exibições a nível europeu. “Temos batido um pouco o pé aos chamados grandes clubes da Europa. Tivemos bons resultados contra Vic, Breganze e Valongo, em que pela primeira vez uma equipa suíça veio a Portugal empatar com o campeão português. Tudo isso é motivador para nós e para os jovens que também aspiram chegar a esta equipa sénior”, regozija-se, lamentando, no entanto, a falta de…chama. “Faltam circunstâncias que não existem como em Portugal, Itália ou Espanha... não existe aquela paixão como o povo português tem pelo hóquei nacional”, lastima.
A vida complicada na Suíça
Nos últimos anos têm passado vários portugueses pelo Genève. Para Pedro Alves, a nacionalidade não é um posto. “Podem ser portugueses, como podem ser de outras nacionalidades. Todos os elementos de mais-valia, que tenham alguma experiência, que sejam bons tecnicamente, são elementos que são bem-vindos ao Genève”, esclarece.
A capacidade de trazer algo de novo, de enriquecedor é fundamental. “Costumo dizer que às vezes me aparece alguém que chegou recentemente a Genève que diz que joga hóquei e digo-lhe ‘eh pá, vem treinar’, porque nunca se sabe e às vezes são elementos que trazem mais-valia ao clube”, exemplifica.
Todavia, a vida na Suíça não é fácil para os jogadores estrangeiros. “Já recebemos também espanhóis e argentinos, mas tudo depende da vida que a própria cidade lhes vai proporcionar, porque se não lhes dá condições para viver lá, não podem continuar. A Suíça é um país de facto muito caro. A estadia e o seguro de saúde obrigatório envolvem só por si verbas avultadas que os clubes, quando são amadores, não conseguem suportar. Por isso mesmo, há muita gente que acaba por ir embora porque não consegue trabalho e não pode dar continuidade ao hóquei em patins”, lamenta.
O investimento pontual
O ano passado, o Basel surgiu com um investimento muito forte e conquistou o título. Mas no final desta época, o Basel vai terminar com a sua equipa de hóquei. A situação não passa ao lado de Pedro Alves. “Aparece um presidente que é tipo um mecenas e, de um momento para o outro, pode cansar-se quando não tem ajuda de mais ninguém ou por outro conjunto de situações”, expõe. “Quando as coisas são dirigidas dentro de um clube com mais diversidade, em que o trabalho é dividido por várias pessoas, se uma pessoa sai, as outras acabam por pegar e levar o clube para a frente”, constata, referindo-se depois ao caso particular do Basel.
“Penso que o Basel é uma equipa a viver muito à base do presidente que, pelo que eu vejo, não tem muitas pessoas a ajudar. Por isso mesmo, é bem provável que, quando uma pessoa se encarrega de tudo, acaba por se cansar, e o investimento acaba por ir ao ar”, conforma-se.
O desafio antes de terminar a carreira
Pedro Alves passou em Portugal pelas equipas principais de Sporting, Barcelos, Porto, Candelária, Juventude de Viana e Braga. Em 2011, ao ponderar a época seguinte, decidiu-se pela Suíça, sem mágoa por não terminar a carreira em Portugal.
“Fui para a Suíça e sabia que ia para um clube que estava nas competições europeias, onde podia viver uma experiência nova. Como jogador, conquistei no Genève as competições mais importantes, Campeonato, Taça e Supertaça”, revela, com o orgulho próprio da ambição que marcou a sua carreira.
E detalha mais a sua decisão, em função dessa mesma ambição. “Em Portugal, normalmente são Porto e Benfica, recentemente também o Valongo, mas será sempre entre estas duas equipas que surge o campeão”, introduz. “Como já tinha uma certa idade, já estava fora desse patamar, e é normal que uma experiência fora do país fosse mais enriquecedora para mim do que estar a jogar numa equipa do meio da tabela”, esclarece.
“Dadas essas circunstâncias, creio que tomei uma boa opção. Podia ter tomado outras, até porque tive convites de outras equipas da Europa, mas na altura pensei um pouco no meu futuro fora do hóquei em patins. Como pude conciliar estar numa equipa que joga nas competições europeias com um bom trabalho, não pensei duas vezes e optei pelo Genève”, aclara.
Regresso a Portugal é, para já, difícil
As palavras sobre o que a Suíça e o Genève lhe proporcionaram, deixam no ar que o regresso a Portugal não estará no horizonte. “Acho muito difícil voltar a Portugal nos próximos tempos, até porque as circunstâncias não são muito animadoras no país. Neste momento, o meu futuro passa pela Suíça”, refere, sem fechar definitivamente a porta… “Se um dia surgir um projecto que seja agradável, em que possa sentir que tenho todas as condições para ter sucesso, então aí poderei pensar em tomar essa decisão de regressar a Portugal”, promete.
Na segunda parte da conversa com Pedro Alves, a visão do histórico jogador sobre o campeonato português e a geração que agora emerge…
Domingo, 17 de Abril de 2016, 23h48