A importância do treinador ser perito a comunicar
Rui Lança
#ABOUT Rui Lança é autor dos livros "Coach to Coach" e "Como formar equipas de elevado desempenho", com contributos de treinadores como Luís Sénica (hóquei em patins), Rui Vitória, Paulo Bento ou Mónica Jorge (futebol, Jorge Braz (futsal), Carlos Resende (andebol), José Jardim (voleibol), Mário Palma (basquetebol) ou Tomaz Morais (râguebi).
Todos os dias somos confrontados com pequenos episódios em que o conhecimento de um treinador se perde pelo caminho, uma acção que fica mais difícil de compreender ou orientações que parecem ser mal cumpridas pelos atletas. Muitos mais exemplos se poderiam enunciar, mas na verdade, todas estas situações podem ter um denominador comum: a acção de comunicar.
A comunicação, juntamente com as relações interpessoais entre um treinador e os atletas, são a base da liderança da ligação do treinador com os seus atletas e equipas. A verdade é que o treinador não joga, mas participa directamente e é através da comunicação, seja ela postural, oral ou até pelo tom de voz, que consegue exercer a sua influência sobre os seus atletas!
E a sua comunicação tem um peso preponderante na acção dos seus atletas. Participa activamente durante os treinos e nas conferências, lidera os atletas, gesticula, fala com os atletas individual ou colectivamente, aponta, dá o exemplo, mas não pode ser ele a executar os movimentos técnicos ou tácticos durante a competição. Logo exige-se que consiga transmitir o que deseja de forma muito eficiente.
Porque os atletas, de forma consciente ou inconsciente, também podem estar sempre a observar e a tirar as suas conclusões. E isto passa pela gestão do próprio treinador do seu impacto comunicacional e pela importância que o mesmo assume.
A comunicação é o que as pessoas realizam para trocarem informação entre si, utilizando sistemas simbólicos e processos para alcançarem esse objectivo. O treinador que até possa saber muito de táctica, se não conseguir transmitir essa informação que recolhe para os seus atletas ou adjuntos, de nada vale, porque essa informação só será útil para uma pessoa, que não joga, o treinador. Necessita de transformar essa informação em acções e para isso, tem de explicar aos outros o que é necessário que se faça. Não como ele entenderia mas como os atletas entenderão!
Os treinadores procuram potenciar os denominados "mindgames". Phil Jackson ex-treinador da NBA dos Chigaco Bulls e LA Lakers, era um perito. Mais recentemente José Mourinho utiliza muito a sua comunicação como modo de influenciar o que os outros pensam ou interpretam de algumas das suas atitudes e comportamentos. Mesmo existindo sempre uma distância entre o que o treinador português de facto pensa mas que pretende explicitamente comunicar aos outros. Condiciona, motiva, estimula, amedronta, avalia…só com as suas palavras ou gestos.
Também em Portugal assistimos a uma maior exigência ao nível da comunicação. Observa-se que um conjunto de treinadores são mais eloquentes a comunicar. Procuram ser mais empáticos de forma que a sua mensagem chegue mais clara e rápida aos seus atletas. Por outro lado também é interessante verificar que alguns treinadores não mudam a sua forma de comunicar e ainda obrigam que sejam todos os outros a adaptar-se a ele.
Acrescenta-se que numa equipa e num jogo é importante ter presente que todo e qualquer comportamento é comunicação. Qualquer comportamento ou ausência de comportamento irá proporcionar um outro comportamento que bem interpretados são ferramentas muito importantes para quem lidera e também para os próprios atletas no seio das equipas.
Rui Lança
Quarta-feira, 7 de Setembro de 2016, 23h01