Uma volta nos «Melhores Campeonatos do Mundo»

Uma volta nos «Melhores Campeonatos do Mundo»

Seja em que âmbito for, o epíteto de "Melhor" tem sempre muito de subjectivo. Mais ainda se for ligado ao desporto, a prestações individuais ou colectivas.

O Campeonato máximo português reclama para si esta época o título de "Melhor Campeonato do Mundo", numa avaliação que vai necessariamente muito para além da frieza dos números.

Mas, num pequeno exercício, comparemos as cifras dos três principais campeonatos - Nacional da I Divisão, OK Liga e Legahockey - no final da primeira volta, salvaguardando as diferenças entre eles. Em Espanha - num campeonato a 16 - há mais um jogo por jornada e em Itália - com 14 equipas tal como em Portugal - a primeira fase é o prelúdio de um playoff que, esse sim, assume carácter decisivo.

#FACT Nota: Neste exercício, tirando a questão de comparação pontual, o badalado encontro entre Sporting e Paço de Arcos, o único "resolvido" na secretaria, foi tratado como um triunfo leonino caseiro por 6-4.

Golos, esse condimento

O que define um grande jogo de Hóquei em Patins? É melhor um jogo que acaba 9-8 ou um que acaba 1-0?

Os fãs dos golos têm mais razões para sorrir em Portugal. Na primeira volta, o campeonato português registou uma média de 8.1 golos por jogo, superando os 7.4 em Itália ou os 6.2 em Espanha.

Foi no entanto em Itália que aconteceu o jogo com mais golos, com um total de 20 na vitória do Sandrigo por 12-8 sobre o Giovinazzo. Ironicamente, seria a única vitória do lanterna vermelha italiano Sandrigo em toda a primeira volta... E, pese em Espanha a média ser a mais baixa, o número de golos mais provável no fim das partidas é sete, contra "apenas" seis em Itália ou em Portugal.

Por outro lado, não houve entre os três campeonatos qualquer jogo - e foram 302 partidas - sem golos. Houve quatro jogos resolvidos com um golo solitário, três deles com um protagonista comum. Ao Vic, segundo classificado em Espanha, apenas um golo bastou para vencer três dos seus oito jogos em casa.

O factor casa

O público português é conhecido por ser entusiasta e o ambiente de alguns palcos é invejado além-fronteiras. No último fim-de-semana, que marcou o arranque da segunda volta em Portugal, o Municipal de Barcelos encheu. O Municipal de Valongo também. Tal como o pavilhão do Valença. E os de Riba d'Ave e Turquel ficaram próximos disso...

Municipal de Barcelos é recorrente em grandes manifestações de apoio à equipa da casa, e - felizmente - não é o único
Municipal de Barcelos é recorrente em grandes manifestações de apoio à equipa da casa, e - felizmente - não é o único

Tal será um dos factores determinantes no sucesso das equipas quando jogam na sua casa. Em Portugal, 58% dos jogos terminam com vitória da equipa da casa, assumindo-se a condição de visitado muito mais determinante do que em Itália (46%) ou em Espanha (43%).

Curiosamente, nos golos obtidos perante o próprio público há maior equilíbrio entre os campeonatos. Em Portugal, as equipas conseguiram 55% dos seus golos em casa, contra 54% em Itália e 53% em Espanha.

Jogos com equilíbrio

Para lá do número de golos, a denotarem por ventura um jogo de maior risco ou menor qualidade defensiva, há o equilíbrio entre os intervenientes em cada partida.

Em Portugal, os empates são raros. Apenas 8% dos jogos do Nacional da I Divisão terminaram sem vencedor, enquanto em Itália (21%) e em Espanha (20%) se regista um empate a cada cinco jogos.

É, de facto, no país vizinho que o equilíbrio nas partidas é mais latente. Com 28% dos jogos a terminarem pela margem mínima, são praticamente metade das partidas com incerteza no vencedor até ao apito final. Será esse um sinónimo da subjectiva "qualidade" que se pode argumentar?

Em território luso, o desfecho mais comum acabam por ser as vitórias por dois golos (24% dos jogos), ou três ou quatro golos (outros 24%). Mas os portugueses destacam-se claramente nas grandes goleadas, por cinco ou mais golos. Tal aconteceu em 16% dos jogos, o dobro das vezes que aconteceu em Itália (7%) ou em Espanha (8%).

Assimetria

As goleadas portuguesas acabam por ser o reflexo de um investimento muito forte das equipas do topo da tabela, a partirem um pouco a classificação entre "ricos" e, vá, "menos ricos".

Tendo como base os pontos que estarão em disputa na segunda volta, será curioso verificar que, apesar do maior número de pontos para amealhar (e perder), é em Espanha que a diferença entre líder e lanterna-vermelha é menor, representando 64% dos pontos possíveis de conquistar. E o último em Espanha era o Vilafranca, que na Taça CERS já afastou a Juventude de Viana (7º em Portugal) e venceu a primeira mão dos quartos-de-final ao Barcelos (5º). Em Itália, a diferença entre primeiro e último - um Sandrigo distante até do penúltimo - é de 72%, enquanto em Portugal é de 74%.

Disputado por 16 equipas, a OK Liga (Espanha) era no final da primeira volta o campeonato mais equilibrado no global, mas na luta pela liderança a proximidade era maior em Itália
Disputado por 16 equipas, a OK Liga (Espanha) era no final da primeira volta o campeonato mais equilibrado no global, mas na luta pela liderança a proximidade era maior em Itália

Mas, ainda que o fosso entre primeiro e último seja menor em Espanha, já na luta pela liderança a situação inverte-se. Na OK Liga, a distância entre o primeiro e o quarto é de 24% dos pontos em disputa, enquanto em Portugal baixa para 21%. Em Itália, onde a liderança nem decide o título, é de apenas 15%. Imediatamente a seguir aos quatro primeiros, às portas de um lugar na Liga Europeia (garantido com o 4º lugar, ainda que em Itália tal esteja dependente da habitual renúncia britânica), em Espanha havia os mesmos pontos, em Itália e Portugal havia uma vitória a separar.

Vantagem média sobre o perseguidor mais directo ronda os dois pontos: 1.9 em Espanha, 2.2 em Itália e Portugal.

Todas estas contas são directamente influenciadas pelo aproveitamento de primeiros e últimos de cada campeonato. Entre os líderes, os que procuram mais razões para sorrir no final, estavam no final da primeira volta os campeões da pretérita temporada. O Benfica somou 92% dos pontos possíveis, o Barcelona 89% e o Forte dei Marmi 82%. Já no aproveitamento de quem se tenta agarrar à divisão maior dos seus países, o Sandrigo logrou apenas 10% dos pontos que poderia conquistar em Itália, a Sanjoanense 18% e o Vilafranca 24%.

Não faltam
Não faltam "aspectos", "teorias" e "ângulos" para argumentar sobre o "Melhor Campeonato", mas o jogo em si fica à margem dessa discussão

Qual é afinal "O Melhor Campeonato do Mundo"? Não é uma conclusão que se possa extrair da frieza dos números. É do foro da paixão, da emoção. É o que nos fizer saltar da cadeira, seja por um grande golo ou por uma grande defesa. É o que arrancar um bruaá numa finta arriscada ou o que cumprir tacticamente de régua e esquadro. O "Melhor Campeonato", o "Melhor Jogo", é o próximo que se possa ir ver.

AMGRoller

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