Boas Festas!
Há 2017 anos e mais uns meses, desceu o anjo Gabriel à oficina do carpinteiro José.
- "Boas, José. Desconto de tempo!", gracejou enquanto se sentava de um salto na banca cheia de bases, rodas e rolamentos.
- "O que queres agora Gabriel?", suspirou José com uma bota numa mão e atacadores na outra.
- "Preciso de um stick", atalhou Gabriel.
- "Já te disse que temos poucos sticks, e ainda nem sabemos se o campeonato vai a segunda fase ou a playoffs. O Galileia não joga no campeonato português...", lamentou José, com uma ponta de inveja a roçar o pecado.
- "Não, preciso de algo diferente", disse Gabriel. "Tentei ali uma picadinha no dérbi da terceira nuvem e a bola fugiu. Imbuído de uma ira pela qual já me penitenciei, parti-o na barra da baliza. Não me arranjas aí um que faça o milagre dos golos?", questionou. "Mas regulamentar, ok?", ressalvou.
- "Isso é complicado", sussurrou José, refreando o entusiasmo do anjo.
- "Ser regulamentar?", contrapôs Gabriel.
- "Também...", sorriu José, justificando-se. "Mas olha... Tens um jogo em que não vos chegava só andar de patins, nem vos chegava só ter de conduzir uma bola minúscula com um cajado. Nããã... isso é para o comum dos mortais, né? Nós somos os eleitos e temos de fazer tudo ao mesmo tempo, bem, e quanto mais depressa melhor...", ironizava a esbracejar, "Ah, e tal, porque o cajado do Moisés tinha ali qualquer coisa... mas ele subiu ao monte de patins? Subiu, Gabriel?!", perguntou exaltado.
Dois minutos depois de ver o azul, o carpinteiro - e mecânico, seccionista, delegado ao jogo e treinador da iniciação - regressou à argumentação. "Este jogo é mágico, Gabriel. E por vezes há quem o jogue como se tivesse uma varinha mágica em vez de um stick. Mas é treino. Com frio, fora de horas, a sobreviver ao cansaço de um longo dia. É sacrifício. É abnegação. É dedicação. É responder àquele gancho maldoso com um golo daqueles que arranca um palavrão ao mais católico! É voltar mais forte quando não concordaste com uma decisão do árbitro. É voltar ainda mais forte quando o treinador te deu poucos minutos. Yah, houve alguém que levou uma bolada nos dentes... mas tu querias que fossem os teus dentes! É jogar nos limites, estejas no Céu ou num pavilhão que seja um Inferno...!", clamava.
- "Calma, José, que ainda te abrem um processo por blasfémia", apaziguou-o Gabriel. "Olha, então, e se fores o pai do Salvador, do filho de Deus?", questionou.
- "Bem, isso já me parece mais fácil", retorquiu José.
O resto é história. Continuará sempre a haver quem, nem por milagre, marque golo, e os sticks continuarão sempre a partir.
Boas Festas e um Excelente 2018.
Fiquem com os votos, que fazemos nossos, de alguns dos verdadeiros protagonistas deste desporto.
Domingo, 24 de Dezembro de 2017, 12h46