«Desde os 11 anos que fazia pré-época; não era um predestinado, tinha de trabalhar muito»

«Desde os 11 anos que fazia pré-época; não era um predestinado, tinha de trabalhar muito»

Tó Neves é uma figura incontornável do Hóquei em Patins nacional e internacional.

Começou no Sport Club Rio Tinto, onde jogava com umas "batotitas" por não ter idade para competir, mas não tardou a rumar ao Porto, onde cumpriria todos os escalões até aos seniores.

Os primeiros anos no Porto, com uma patinagem que deixava muito a desejar, não foram fáceis. Apesar disso, sem saber cruzar as pernas ou patinar para trás - "mas sabia patinar muito bem para a frente" - mereceria a chamada à selecção de Juvenis em 1982, para o primeiro Europeu do escalão que se realizou, na localidade holandesa de Zaandam. Tó Neves seria internacional até 2001, despedindo-se no Mundial de San Juan, sagrando-se

duas vezes campeão do Mundo (1991 e 1993) e quatro vezes campeão da Europa (consecutivamente em 1992, 1994, 1996 e 1998).

No Porto, viveu o despertar de um Dragão conquistador. O primeiro título de campeão dos azuis-e-brancos foi em 1983 e Tó Neves integrou definitivamente a equipa prinicipal em 1985, às ordens de Cristiano Pereira, conquistando nessa temporada uma inesquecível Taça dos Campeões Europeus. Na final, depois de um triunfo na primeira mão por 5-3, os dragões venciam em Novara por 5-7 quando, por falta de condições, o jogo foi dado como terminado a oito minutos do final. A taça foi recebida no hall dos balneários por uma equipa que contava ainda com António Alves, António Vale, Carlos Realista, Domingos Carvalho, Luís Alma, Vítor Bruno e Vítor Hugo e os guarda-redes Domingos Guimarães e Franklim Pais,

Em 1992 seguiria o sonho do profissionalismo no Benfica, mas Ilídio Pinto "entalou-o". Falando na comunicação social dos valores que Tó Neves iria ganhar, criou desconforto e - confessando que os jogadores condenaram o "dream team" das águias - regressaria ao Porto, onde fez parte da reafirmação, com os três primeiros títulos do "deca".

Rumou à Oliveirense em 2004 e dois anos depois, com o apoio do Prof. João Araújo, abraçou o desafio de ser treinador. Mas sem tirar os patins. Fazendo da sinceridade a sua arma na relação com os jogadores, pendurou os patins em 2011 depois de um triunfo na Taça de Portugal. Um título com um sabor especial por o ano que ia deixar de jogar, numa decisão no início da temporada quando o sorteio ditou um embate entre Porto e Oliveirense na derradeira jornada. O Porto venceu 5-1, consumando o "deca", mas as equipas voltariam a encontrar-se nas meias da Taça, duas semanas depois. Com um golo de Tó Neves, a Oliveirense venceu por 5-4 e chegou à final, derrotando depois o Candelária de Carlos Dantas - que orientou Tó na Selecção e no Benfica - por 5-2, para aquela que foi a segunda conquista da Oliveirense na prova-rainha.

Arrumou os patins - com 45 anos feitos - e regressou ao "seu" Porto, determinado a dar continuidade à senda vitoriosa, embora muitos não o recomendassem. Em quatro temporadas, conquistou vários títulos, mas aquela derrota na final da Liga Europeia em 2013 em pleno Dragão Caixa ficou como "uma facada que é difícil de digerir". De resto, essa seria a primeira de cinco presenças consecutivas na Final Four da Liga Europeia, três com o Porto e duas com a Oliveirense. Esteve quatro vezes na final, mas não venceu. "Essa taça não quis nada comigo", brinca.

No regresso à Oliveirense faltaram argumentos para lutar pelo título. Relembra que na altura frisava que "gostava de ser candidato ao título", mas não era, ainda que para a história fique o maior título da equipa de Oliveira de Azeméis. A Taça Continental, em 2017, vencendo o Reus numa final em Itália.

Em Março de 2018 abandonou o comando técnico da Oliveirense, mas segue espectador atento.

Para o desfecho desta temporada, só espera que não haja jogos à porta fechada. Afinal, sem público, não há espectáculo. E Tó Neves defende que o campeonato português pode não ser o melhor, mas é certamente o mais espectacular. E a decisão em playoff só ajudaria.

Orgulha-se de ter estado na génese da Elite Cup e das experiÊncias regulamentares que vão sendo feitas. No novo modelo de descontos de tempos, as instâncias lá chegaram às vantagens dos 30 segundos, mas "esqueceram-se" de que deviam ser permitidos sempre que a equipa tem a posse de bola. Tal poderia mudar o jogo. Como os penaltis em que os guarda-redes se podem mexer ao apito e, porque não, voltar a deixar o atacante progredir em vez de rematar directo?

Apesar de ideias bem fundamentadas, não se vê como dirigente. "Eu só conheço o sim ou o não, e reconheço que um dirigente tem de ter outras qualidades... não ia conseguir", sugerindo os nomes de Pedro Alves ou Franklim Pais como figuras mais consensuais. Que também não faltariam no desafio para uma Dream Team. Tó Neves, de uma assentada, escalou umas quatro... Não faltam astros ao Hóquei em Patins português, e Tó foi dos que brilhou com mais intensidade, durante mais anos.

• Veja ou reveja todas as emissões do “Vamos Falar de Hóquei em Patins” aqui ou ouça nas diferentes plataformas de podcast.

AMGRoller Compozito

Partilhe

Facebook Twitter AddToAny
Outros artigos do dia