Taça sem tréguas

Por Quim Paüls

Taça sem tréguas

#ABOUT Quim Paüls, de 53 anos, é seleccionador espanhol desde Dezembro de 2013, substituindo no cargo Carlos Feriche. Treinou o Barcelona entre 2006 e 2009, conquistando duas Ligas Europeias, que juntou às seis conquistadas como jogador, também ao serviço dos blaugrana.

#IMAGE3981 Quim Paüls

As particularidades da Taça

A Taça continua a ser um torneio especial e essencial, pois conjuga, na medida certa, todos os ingredientes que a confirmam como a competição mais mediática do Hóquei espanhol. Quanto a mim, algumas das características que a distinguem da competição regular da OK Liga seriam enquadradas nestas categorias:

1º Os jogos com formato de eliminação têm uma componente emocional importante, e todos os jogadores estão particularmente motivados para dar tudo.

2º A Taça é um foco mediático de primeira ordem e é seguida por todos no mundo do hóquei em geral e os jogadores, treinadores e árbitros sabem-no, o que permite ver o melhor de cada um deles.

3º Os resultados da Taça, tendem a ser mais equilibrados do que numa partida da fase regular da OK Liga pois, normalmente, a equipa que está a perder assume riscos maiores e a equipa que está a ganhar gere a sua vantagem com maior prudência.

4º O formato de quinta a domingo põe à prova a condição física das equipas que chegam à final, uma vez que a exigência e o desgaste são máximos em cada jogo e pressupõe um desafio onde o jogador - às vezes - excede os seus próprios limites.

5º A Taça é o título a que têm acesso equipas que dificilmente podem lutar para conquistar a OK Liga ou as competições europeias e, esta possibilidade de ganhar um título apela ao melhor de cada equipa participante.

6º Nenhuma equipa joga em casa, criando-se um ambiente muito especial numa bancada plural, podendo-se acompanhar dois jogos por dia, durante três dias, entre as melhores equipas.

#IMAGE3984 Raul Marín, FC Barcelona

Dados

Antes de analisar as possibilidades de cada equipa, julgo ser necessário destacar um primeiro dado, - no mínimo -, pois nas últimas seis temporadas tivemos três vencedores que repetiram o triunfo no ano seguinte, Vic, Barcelona e Vendrell, e se é certo que esta é uma competição onde predomina o equilíbrio, também é certo que sempre – desde que é este o formato – ganharam sempre equipas classificadas entre os quatro primeiros da OK Liga. Este segundo dado tem particular interesse pois demonstra que os melhores planteis continuam a ter uma vantagem clara sobre os restantes. E o último dado a merecer destaque é que, pela primeira vez, se classificaram as três equipas não catalãs que podiam chegar à competição.

As equipas

FC Barcelona – É sempre favorito a ganhar a Taça do Rei. A seu favor tem a melhor defesa da OK Liga, um plantel vasto e a experiência de todos os seus jogadores na disputa daqueles jogos que te fazem ganhar títulos. Se somarmos uma temporada perfeita a jogadores de altíssimo nível, não podemos deixar de lhe dar um destacado papel de protagonista durante a competição.

HC Liceo - Nunca vi uma equipa que, apesar da saída constante de jogadores de alta qualidade, temporada após temporada, consegue disputar todos os títulos das provas em que participa e o faz com a excelência de um hóquei brilhante e atrevido. O treinador mais longevo da competição, com larga vantagem, é Carlos Gil, - que já treinou o Dominicos vencedor na Taça de 90 -, e é um daqueles expoentes de brilhantismo como técnico, com experiência e capacidade, que persuade os seus jogadores através da sua mestria. Com uma espinha dorsal muito sólida, o Liceo baseia a sua força na continuidade do jogo de ataque, na qualidade dos seus jogadores e só falta ver se esta equipa de contrastes, nas idades, sem um canhoto, com alguma irregularidade ao longo de um mesmo jogo, mas com uma trajectória muito regular na OK Liga, é capaz de conquistar um título que lhe tem fugido, pois temos de recuar até 2004 para ver o Liceo a levantar uma Taça do Rei.

#IMAGE3983 Mia Ordeig, CP Vic

CP Vic – Haverá uma equipa com maior impacto no panorama espanhol? Com quatro jogadores com enorme peso específico e antiguidade suficiente para liderar a equipa nos momentos importantes, com um guarda-redes jovem, talentoso e com números incontestáveis e mais cinco jogadores que têm sido e, em alguns casos, ainda são, jogadores da selecção de Sub-20.

Todos sabem que este Vic é uma mistura complexa de experiência, talento e compromisso, com cinco jogadores formados em casa e com um guião que todos os jogadores conhecem perfeitamente, nenhuma equipa cresceu tanto em tão pouco tempo. E estas são apenas parte das credenciais com que se apresenta na candidatura à conquista da Taça do Rei.

Reus Deportiu - No final da temporada 2010-11, o Reus proclamou-se campeão da OK Liga com um plantel curto mas de enorme potencial. Dessa equipa não sobra ninguém, apenas um treinador que teima em manter a equipa no lugar que é seu por direito, a Taça do Rei que, juntamente com a Taça CERS, são os títulos em que o Reus deposita as suas esperanças. Qualidade não lhes falta e depois da final que perdeu em Oviedo (2013) e da meia-final a penaltis de Lleida (2014) contra o mesmo rival, o Reus procura a sua oportunidade de se sagrar vencedor.

CE Vendrell – Volta o Campeão. Não queria falhar o encontro e conseguiu-o mesmo na última jornada da primeira volta, com a sua vitória em Igualada, depois de ter logrado cinco vitórias consecutivas neste sprint final antes de terminar a primeira volta, com um guarda-redes jovem e estreante entre os seniores e com o handicap de um jogador importante castigado, o Vendrell é o detentor do troféu e os cabeças de série preferiam certamente evitá-lo, devido à sua evolução e ao talento que grassa nas suas fileiras.

#IMAGE3982 Sergi Miras, CE Vendrell

CP Voltregà, CP Cerceda e Alcoy - São as três equipas que deram um passo em frente e que, em princípio, pensam e sentem esta competição como uma recompensa por uma excelente primeira volta. No entanto, se uma dessas equipas for capaz de competir sem se sentir inferior e surpreender no primeiro jogo, as características deste torneio dão-lhe a possibilidade de crescer exponencialmente, pois a sua auto-estima aumentará e sabem que estarão a um passo de jogar uma final.

Não há equipas fáceis e, da mesma maneira que uma equipa grande corre o risco de que a pressão excessiva a faça jogar de forma desconfortável, o risco de uma equipa mais modesta é o de que enfrente os jogos com a mentalidade de perdedor e que ao menor contratempo atire a toalha ao chão, sem explorar todas as opções…

A Taça está apresentada. O hóquei espanhol está de parabéns, tem as melhores equipas, dispostas a dar espectáculo, e o hóquei em patins sairá certamente vencedor, ainda que só uma equipa levante a Taça como vencedor.

AMGRoller Compozito

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