Quadros competitivos dos escalões de formação
Joao Pedro Vaz

#ABOUTJoão Pedro Vaz deu os primeiros passos no hóquei em patins aos seis anos. Patinou até aos 27, representando Paço de Arcos, Benfica e Sintra. Dois anos depois tirou o curso de nível I de treinador, possuindo actualmente o nível II. Já orientou o Paço de Arcos (como monitor de iniciação), Sintra (todos os escalões entre 1988 e 1998) e a equipa sénior do Nafarros, entre 1999 e 2005.
Tiveram inicio no passado mês de Fevereiro os campeonatos nacionais dos escalões de formação (masculinos) de hóquei em patins.
Em termos históricos, depois duma fase inicial em que a prova só existia para o escalão de Juniores, desde a temporada de 1981/82 que passou a ser disputada de forma regular e ininterrupta para os escalões etários de Infantis, Iniciados, Juvenis e Juniores.
Ao longo destes mais de 30 anos, estas competições já tiveram diversos formatos quer quanto ao apuramento para as mesmas que na disputa destas provas nas suas fases iniciais, finais e apuramento do campeão nacional. Nos últimos oito anos essa multiplicidade intensificou-se e quase de época para época ou de dois em dois anos tem havido alterações o que tem permitido ser possível avaliar os diversos modelos e conseguir chegar à melhor fórmula possível.
Façamos então uma pequena retrospectiva da evolução cronológica dos quadros competitivos do hóquei em patins nos seus escalões de formação.
Nos anos 80 do séc. XX, o apuramento para os campeonatos nacionais era efectuado através da classificação obtida nos diversos campeonatos distritais / regionais realizados na própria época desportiva. Uma fase inicial em que apuravam duas equipas em cada uma das duas zonas (Norte e Sul) para disputarem a fase final. Esta fase de apuramento de campeão era disputada a duas voltas no sistema de todos contra todos num total de seis jornadas. As jornadas que opunham as equipas de diferentes zonas eram realizadas em jornada dupla no mesmo fim-de-semana em cada volta.
Nos anos 90 do século passado foi introduzida uma alteração profunda e importante ao nível dos escalões de competição (Juvenis e Juniores) tendo os escalões de pré-competição (Infantis e Iniciados) mantido basicamente a mesma estrutura. E em que consistiu essa alteração afinal?
O apuramento para os campeonatos nacionais dos referidos escalões de competição passou a ser estabelecido com base na classificação obtida no campeonato nacional da época anterior.
Sensivelmente no virar do século outra alteração significativa, com a fase de apuramento do campeão nacional a ser disputada no sistema de "Final-Four" nos diversos escalões.
Conforme referido anteriormente nos últimos oito anos assistimos a diversas mudanças quanto ao tipo de apuramento, a forma como são disputadas as finais de cada escalão e quanto ao tipo de organização dessas mesmas finais. Vejamos o seguinte quadro:
#IMAGE2
Podemos verificar que relativamente ao cenário que tínhamos em 2006,a saber: finais conjuntas por escalões etários sequenciais na mesma localidade e pavilhão e num sistema de dois dias de competição, com apuramento para a final obtido através de meias-finais, verificaram-se as seguintes alterações:
- Em 2007 As "Final-Four" passaram a ser disputadas num sistema de "Poule", final onde os dois classificados de cada uma das zonas (Norte e Sul) se defrontam todos numa classificação final por pontos.
- Em 2008, cada escalão disputa a respectiva "Final-Four" em localidades distintas.
- Em 2009, o apuramento para os campeonatos nacionais dos escalões de competição (Juvenis e Juniores) deixa de ser estabelecido pela classificação obtida na prova disputada na época anterior e tal como sucede nos escalões de pré-competição passa a ser efectuada consoante as classificações obtidas nos diversos campeonatos distritais / regionais realizadas na mesma época desportiva.
- Em 2011 volta a haver duas alterações. As finais voltam a ser agregadas em dois escalões por localidade / pavilhão mas de forma interpolada (Infantis e Juvenis; Iniciados e Juniores) por um lado e também é retomada a fórmula de dois dias de competição, com a "Final-Four" a ter meias-finais seguida de jogo de final, situação que se mantém até hoje.
Com este enquadramento é altura então de se fazer uma reflexão e emitir opiniões e avançar com sugestões.
Penso que as fórmulas e os modelos têm todos aspectos mais positivos e menos positivos e estão globalmente todos em cima da mesa e não sugerimos nada que não tenha sido já colocado em prática. Contudo há situações que podem ser revistas e melhoradas na minha óptica.
Em primeiro lugar há que voltar a distinguir o modelo dos quadros competitivos entre os escalões pré-competitivos (Infantis e Iniciados) e competitivos (Juvenis e Juniores).
Nos escalões etários superiores deve haver também como objectivo a preparação para um nível competitivo superior, não só pela proximidade com o escalão de competição sénior, onde alguns jogadores destes escalões já vão actuando de forma mais ou menos regular) mas também porque a nível internacional já existem competições a nível de Selecções.
Logo o modelo de provas deve privilegiar de forma mais acentuada a preparação para a competição.
Como primeira medida então a sugestão passa a voltar a utilizar um modelo que já foi usado. Acabar com a "Final-Four" nestes dois escalões e retomar a fórmula da última fase do campeonato nacional ser disputado como nos anos 80 e 90 do Séc. XX. Prova disputada a duas voltas, num sistema de todos contra todos com classificação por pontos.
Vantagens:
- Os jovens disputam os jogos quer no seu próprio pavilhão quer em ambientes adversos, preparando-os para os ambientes mais aproximados dos que vão encontrar no escalão sénior e num modelo de competição também mais compatível deste escalão.
- Assumindo a vertente competitiva um cariz preponderante, este figurino representa também uma forma mais justa de atribuição de um título nacional, no sentido em que confere uma maior importância à regularidade do desempenho das diversas equipas ao invés duma decisão de uma época ser definida num único fim-de-semana.
- Aumento do número de jogos de grau de competitividade superior, já que proporciona mais quatro jogos a cada uma das quatro melhores equipas nacionais, com consequente aumento do nível competitivo das mesmas e dos jogadores que normalmente compõem, na sua esmagadora maioria, as selecções nacionais dos respectivos escalões.
- Pelo menos nos jogos disputados em casa, os adeptos dos clubes que jogam em casa terão mais facilidade em presenciar os mesmos.
Objecções:
Financeiros:
- Em termos financeiros o modelo sugerido, com jornadas duplas, não teria qualquer acréscimo de encargos já que não existem mais deslocações ou estadias a mais do que face ao modelo "Final-Four".
Levar a modalidade a palcos com menor implantação da modalidade:
- Como se observa no quadro acima, as diversas "Final-Four" têm sido realizadas, na sua esmagadora maioria, em localidades onde o hóquei em patins esta bem implantado, nalgumas circunstância mesmo em locais míticos (Barcelos, Paço de Arcos, Turquel, etc.).
Esta vertente pode ser efectuada através das "Final-Four" de Infantis e Iniciados, Torneio Inter-Regiões, Supertaças Masculina e Feminina.
Prolongamento da época desportiva:
- Existe efectivamente um prolongamento da temporada por via da disputa de seis jornadas em vez de duas apenas. Contudo, com a existência de duas jornadas duplas e com a possibilidade das jornadas que opõem clubes da mesma zona poderem ser realizadas em dia de semana, este "handicap" é minimizado, podendo toda esta fase final ser disputada num prazo máximo de 11 dias.
Também defendo uma das fórmulas que já existiram num passado recente, nomeadamente que o apuramento para os campeonatos nacionais de Juvenis e Juniores seja efectuado com base na classificação obtida nas provas nacionais da época anterior.
Esta medida foi adoptada no passado por forma a incentivar os clubes a realizarem um trabalho de fundo, a médio prazo e de forma contínua nos escalões de formação. Os clubes, no intuito de poderem ter as suas equipas a participar de forma assídua nos campeonatos nacionais vêem-se forçados a manter não só a actividade época após época desses escalões de formação como também manter um nível de competência e trabalho contínuos para garantir o acesso a um nível competitivo superior.
Verifica-se aqui também uma aproximação ao modelo competitivo que vigora no escalão sénior, em que os clubes disputam as provas para as quais garantiram o apuramento na época anterior.
Para esta medida ser aplicada penso no entanto que deve ser feita uma revisão da lei de transferências, assunto que abordaremos noutra oportunidade.
No meu entender e numa visão global do interesse da modalidade e não numa visão mais redutora ou que interesses mais ao clube "A" ou clube "B" penso que são duas medidas que podem trazer um valor acrescentado aos quadros competitivos e consequentemente à evolução do nível competitivo dos escalões em causa.
Joao Pedro Vaz
Sexta-feira, 14 de Março de 2014, 11h53