O impasse no intervalo da Elite Cup

Houve a hipótese do Benfica não regressar para a segunda parte na final da Elite Cup. E, no longo impasse, os árbitros - que, antes, até podem ter incorrido num erro técnico - deveriam ter mesmo declarado o abandono das águias.

O impasse no intervalo da Elite Cup

Foram mais de duas horas de Hóquei em Patins. Bem, mais de duas horas de forma genérica, com 50 minutos de jogo e quase 20 minutos de intervalo. Os outros 55 minutos foram de paragem de jogo, mormente para revisão de lances pelos árbitros Pedro Figueiredo e Rui Leitão, no estreante Sistema de Revisão de Vídeo.

A primeira parte demorou uma hora e 12 minutos até que a dupla de arbitragem deu como terminada a primeira parte. O Benfica demorou mais de 18 minutos a regressar, começando a etapa complementar já mais de 19 minutos para lá do apito (definitivo) para o descanso.

Temeu-se o abandono das águias. Na pista, vários jogadores do Porto já davam como certo que o adversário não regressaria. "Nós pensávamos que eram cinco minutos que tinham para chegar à segunda parte e, passado os cinco minutos, como não apareciam, que não vinham a jogo. Mas eu não quero acreditar que o Benfica, como clube tão grande que é, com a enorme estrutura que tem, fosse fazer isso", afirmaria Gonçalo Alves no final da partida. "Porque isso é manchar o Hóquei em Patins", opinou. E os jogadores do Benfica terão concordado.

Ao intervalo, Fernando Tavares, vice-presidente para as modalidades do Benfica, deixou a bancada do Municipal Cidade de Tomar e, no balneário, terá mesmo sido colocada a hipótese de abandono da partida. Mas os jogadores quiseram ir a jogo. Com um intervalo longo, faltaria no entanto foco para a etapa complementar, e os encarnados - a perder por 3-1 no final da primeira parte - já não conseguiriam evitar a derrota e a perda do troféu.

Na conferência de imprensa, questionado, Nuno Resende não confirmou que a hipótese de abandono tivesse estado na mesa. Mas, no silêncio a que se remeteu, também não a desmentiu...

Árbitros aguardaram

Ainda que os jogadores tivessem querido regressar a pista para terminar a partida, tal acabaria por só ser possível pela complacência dos árbitros.

À luz das regras, no artigo 35º ("Falta de comparência – abandono do jogo"), pode ler-se no ponto 3 que "no que diz respeito ao intervalo de um jogo, qualquer equipa tem uma margem de cinco (5) minutos adicionais para comparecer em pista em condições de continuar o jogo", confirmando-se a afirmação de Gonçalo Alves.

Ora, as águias, para lá dos 10 minutos de intervalo, demoraram mais oito a regressar. E o que se pode ler na alínea "a" do mesmo ponto 3 é que "uma vez esgotada a margem de cinco (5) minutos e qualquer uma das equipas não estar em pista ou não estiver presente com o número mínimo de jogadores para que se possa iniciar o jogo, os Árbitros Principais têm de dar por concluído o jogo, devido ao abandono do mesmo pela equipa em questão".

Motivo para protesto?

Os protestos dos encarnados foram particularmente incisivos na "reversão" que anulou o 2-2, logrado por Carlos Nicolía de grande penalidade. Lance em que os árbitros podem ter incorrido num erro técnico que teria mais viabilidade para ser aceite do que o erro apontado na final da Taça de Portugal que, como se esperava, foi declarado improcedente.

No momento mais badalado - e de maior paragem - da primeira parte, com o resultado em 2-1 para o Porto, o Benfica "ganha" uma grande penalidade no SRV por falta de Reinaldo Garcia sobre o compatriota Pablo Álvarez. Nicolía bate o castigo máximo e Malián defende. Mas o contestado Pedro Figueiredo manda repetir, por, alegadamente, o guardião dos dragões se ter mexido antes de Nicolía tocar na bola.

Numa análise frame a frame, dificilmente não haverá movimento de um guarda-redes antes da marcação de uma grande penalidade. Noutra Elite Cup, em 2019, foi testado o movimento ao apito, com rasgados elogios de todos, mas não vingou.

Malián reclamou de imediato a ordem de repetição, mas, estrategicamente, a equipa técnica dos dragões aguardou pelo segundo remate. Nicolía marcou e avançou o pedido de revisão, supostamente baseado na reclamação anterior de Malián. No vídeo, é detectado que o guarda-redes do Porto não terá razão (até porque, ao milésimo de segundo, é praticamente inevitável que o guarda-redes se mexa), mas o golo é anulado e o jogo é retomado na área contrária. Alegadamente - porque uma das pechas do SRV foi a obscuridade do pedido e da análise para quase todos os agentes no pavilhão - por Gonçalo Pinto ter "saído" antes do tempo.

E é nesta análise alternativa que pode residir o erro técnico que fundamentaria um protesto, que só avançaria se tivesse sido apresentado durante a partida.

Pelo protocolo SRV divulgado para esta Elite Cup, os árbitros só deveriam rever o lance pedido pela equipa - o movimento de Maliàn? - ou, por sua decisão, apenas situações de linha de golo ou de conflito.

No caso de protesto, estaria certamente mais perto de ser aceite do que o erro em que se baseou o protesto dos encarnados na final da Taça de Portugal.

Contestação

De regresso para a segunda parte, as águias acabaria por reagir publicamente à arbitragem através da sua newsletter diária, com críticas à arbitragem e, em particular, a Pedro Figueiredo.

A tomada de uma posição de força, como seria o abandono, aconteceu em 2017 com a ausência na Final Four da Taça de Portugal, que se realizaria em Gondomar. Foi depois de uma "célebre" derradeira jornada em que o empate do Benfica em Alverca, frente ao Sporting e com um golo não validado nos últimos instante, valeu o título de campeão nacional ao Porto.

"Já aconteceu uma vez e é passado, não vale a pena estar a falar disso. E espero que eles para a semana estejam na Supertaça, porque o Hóquei tem que ser jogado dentro da pista", afirmou agora Gonçalo Alves quando questionado sobre algum receio do Benfica voltar a não comparecer.

Em 2017, a falta de comparência, acabou por ser um acto isolado. Marca no tempo a viragem de um Benfica vencedor, campeão em 2015 e 2016, para uma "seca" de títulos que já vai longa. Em provas oficiais nacionais, o Benfica só voltaria a vencer - em seis anos - a única edição realizada da Taça 1947, em Dezembro de 2020.

AMGRoller Compozito

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