«Estamos todos fartos (...) é mau demais para ser real»
No rescaldo do jogo com o Valongo, Reinaldo Ventura não conteve o seu desagrado quanto à arbitragem da partida e no campeonato em geral, lamentando o ingrato trabalho desenvolvido durante toda a semana na preparação dos jogos.
A Juventude de Viana perdeu no passado sábado por 1-4 na recepção ao Valongo e está abaixo da linha de água, com sete pontos somados em 11 jogos, apenas à frente de Paço de Arcos e Murches.
Tendo vencido Riba d'Ave e Murches e empatado com o Braga, os vianenses sofreram a sua 8ª derrota num jogo em que viram um vermelho, ao preparador-físico José Braga, e mais dois azuis, ascendendo já a 21 vistos no campeonato. Isto apesar de não registarem muitas faltas de equipa. A Juventude de Viana não chegou às 15 faltas em qualquer partida e em quatro nem às 10 chegou.
No final do jogo frente ao Valongo, o treinador Reinaldo Ventura não conteve a sua revolta aos microfones da vianense Rádio Geice. "Apesar de termos sofrido um golo cedo, não saímos do jogo. Tentámos não sair do jogo até um determinado período, apesar de estarem a tentar fazer tudo para a minha equipa sair do jogo. Nós tentámos ser o mais calmo possível. Agora, lutar contra estes factores externos acaba por ser extremamente complicado", começou por referir.
"Chega a um ponto que é demasiado"
"Nós damos o nosso melhor. Tentamos trabalhar todos os dias para melhorar e para conquistar pontos e já sabíamos que ia ser um campeonato muito difícil. E assim ainda mais. Porque nós trabalhamos todos os dias para depois virem para aqui pessoas ao fim-de-semana fazer o que lhes apetece a bem não sei de quê, mas não é do Hóquei, com certeza. A mim custa-me. Pode soar a desculpa, mas é uma realidade dura e crua, porque tem sido jogo atrás de jogo a mesma situação e chega a um ponto em que a equipa explode. As pessoas que trabalham diariamente explodem e acaba por ser ingrato nós estarmos a trabalhar em prol de um objetivo e depois tirarem-nos o tapete e dificultarem a este ponto, é demasiado. Chega a um ponto que é demasiado", lamentou.
"É uma falta a nosso favor, transformada num penálti a favor deles"
A partida frente ao Valongo foi arbitrada por Manuel Fernandes (Porto) e Fernando Vasconcelos (Minho) na terceira vez que cada um dos árbitros apitou os vianenses esta época para o Campeonato PLACARD, tendo já arbitrado juntos na deslocação à Parede, então com três azuis mostrados à Juventude de Viana.
Agora, um lance perto do intervalo marcou mais do que os outros, quando Remi Herman terá afastado intencionalmente a sua baliza. "Esse é o mais visível. É uma falta a nosso favor, transformada num penálti a favor deles. O meu preparador-físico pergunta porque é que marcou um penálti quando não tem que marcar e ele [ndr: Manuel Fernandes] dá-lhe vermelho. Não insultou, não foi agressivo, não foi nada de extraordinário - e quem disser o contrário está a mentir - e leva vermelho. E nós ficamos com um penálti contra e seis minutos com um jogador a menos", explicou o internacional português, lamentando também os castigos disciplinares aos seus jogadores.
"Vêm aqui e tomam café, recebem umas bolas de berlim e é maravilhoso para eles"
"Acabamos por levar azuis sem perceber muito bem porquê. E eu levo azul porque estou a dar indicações a um jogador e o árbitro, vá-se lá perceber porquê... porque eu também gostava de perceber o que é que se passa, se é o delegado que dá indicações aos árbitros para nos prejudicar, e eu acredito que seja isso. Mas mas quem sou eu? É o que eu digo... Eu ando no Hóquei há relativamente muito pouco tempo", ironizou.
"Eu só trabalho ao sábado e ao domingo, quando me convocam para vir fazer de treinador, que é o papel que eles fazem. Durante a semana, estão nos seus trabalhos, tranquilos da vida e com a sua família, enquanto outros estão a analisar vídeos, estão a analisar as equipas adversárias, a organizar treinos, preocupados com os jogadores, com a parte física, com a parte mental, todo um trabalho que é uma envolvência enorme para uma equipa deste nível", observou "Rei" sobre o trabalho de preparação das equipas.
Próximo jogo da Juventude de Viana é em Oliveira de Azeméis, esta quarta-feira, com arbitragem dos lisboetas João Duarte e Bruno Henriques. Nenhum dos dois apitam esta época os vianenses para o campeonato.
"E depois vêm essas pessoas que estão durante a semana toda tranquilos em casa e vêm aqui apitar um jogo. Se calhar, foram jantar antes, tranquilos da vida, vêm aqui e tomam café, recebem umas bolas de berlim e é maravilhoso para eles. Vão embora, recebem o deles e vão todos contentes como se nada fosse. E, se calhar, ainda vão gozar com aquilo que fizeram, e nós amanhã já estamos a analisar outro jogo que é na próxima quarta-feira, a trabalhar, se calhar para outra situação idêntica. Mas cabe-nos não desistir disto e continuar a dignificar a camisola deste clube, que é aquilo que temos feito, independentemente do lugar que estamos a ocupar", apontou.
"Estamos todos fartos"
Ressalvando o mérito do triunfo da equipa de Edo Bosch, seu companheiro no histórico "deca" do Porto, Reinaldo Ventura sublinhou que, em Viana, estão "fartos".
"Todas estas minhas palavras não põem minimamente em causa a qualidade do Valongo e a justiça da vitória do Valongo. Longe de mim querer chegar a esse ponto. Aquilo que eu digo é que cheguei a um ponto em que estamos todos fartos. Estamos todos. A equipa técnica, o presidente, o diretor desportivo, os próprios jogadores estão fartos disto, estão fartos desta... E não quero utilizar termos demasiado agressivos, mas isto é realmente mau demais para ser real", apontou, vincando que não é uma questão deste jogo ou dos últimos. "Isto já vem desde o jogo do Riba d'Ave [ndr: 3ª jornada] aqui em casa, em que sofremos 12 livres diretos se não estou em erro", hiperbolizou. Sendo que os oito que de facto aconteceram não deixam de ser dignos de realce.
"Aquilo que eu disse no balneário no fim do jogo foi que quero que eles estejam tristes porque perderam e chateados porque perderam, mas dei-lhes os parabéns porque realmente foram uma equipa que nunca deitaram a toalha ao chão e lutaram até ao fim. E eu, como treinador, tenho que, apesar do resultado ser negativo e não gostar de perder, ficar contente com a atitude dos meus atletas, que é sinal que estão a fazer aquilo que eu lhes peço, que é lutar até ao último segundo. Independentemente do resultado, temos que dignificar a camisola que estamos a vestir", reiterou o técnico vianense, há pouco mais de um ano no cargo.
Terça-feira, 10 de Janeiro de 2023, 9h20