Os meninos da Zambézia

Diz-se do hóquei em patins que é uma modalidade localizada, sem expressão a nível mundial.
Mas, de tempos a tempos e cada vez com mais regularidade, surge um projecto a levar a magia do hóquei sobre patins a novos lugares.
Quelimane é a capital da província moçambicana da Zambézia, que conta com perto de quatro milhões de habitantes. A mais de 1500 km de Maputo, onde estão concentrados os clubes mais representativos do hóquei em patins moçambicano, uma escola de patinagem encanta desde 2011 os jovens que a visitam no rinque do Sporting Clube de Quelimane.
“Praticávamos desde 2007 apenas Patinagem Artística até que a Federação Moçambicana de Patinagem, vendo o nosso esforço, se pronunciou, motivando-nos a criar uma equipe de Hóquei em Patins”, refere Djelma da Silva, responsável pelo projecto. “Pedimos ao Clube Sporting de Quelimane para nos disponibilizar o campo para a prática desta modalidade e passámos a realizar nossas actividades neste local”, conta, remetendo para as instalações onde a luta pela sobrevivência e desenvolvimento da modalidade é diária.

“Na Zambézia, o hóquei em patins já teve os seus bons momentos”, recorda com saudosismo. “Mas, a partir de 1975, os atletas acabaram por dispersar e esta modalidade ficou esquecida”, lamenta. “Mesmo com as dificuldades da falta de material, lutamos dia após dia para reerguer a modalidade na nossa província. Mas sem sucessos, nem avanços… Sonhamos no entanto que um dia este esforço resulte numa grande vitória”, deseja.
As dificuldades são muitas. “A falta do espaço fixo e adequado para a prática desta modalidade na província da Zambézia, a falta de parcerias, a falta de um empresário que apoie a modalidade…”, aponta Djelma.
“O número de crianças e jovens que querem fazer parte desta humilde equipa cresce diariamente mas a insuficiência do material oferecido pela Federação há 3 anos - e mesmo o adquirido pelos próprios atletas – leva a que muitos acabem por desistir, não só para outras modalidades mas também para maus caminhos como os vícios do álcool e da droga”, lastima.

Na Zambézia, e em Quelimane em particular, corre-se (patina-se) pelo sonho. “É triste ver atletas de hóquei em patins realizarem competições com equipamento inapropriado, com poucas condições favoráveis à sua própria protecção, mas mesmo assim aceitam jogar para não perderem a oportunidade de realizar o seu sonho, com esperança que um dia alguém perceba que o hóquei em patins em Quelimane existe de facto”, explica.
Djelma da Silva forma por paixão
Á frente do projecto da escola de patinagem do Quelimane está Djelma da Silva. Um formador autodidacta que tenta ensinar as crianças e jovens dos sete aos 15 anos que surgem na escola. “A Federação nunca me deu oportunidade de me formar nesta área. Formo e dou treinos por minha iniciativa”, explica. Mas não esconde o desejo de uma formação apropriada. “Corro atrás desse objectivo para formar os meus alunos com firmeza e clareza e para amanhã poder formar outros mais”, confidencia.

Clínicas solidárias
Com o objectivo de ajudar ao desenvolvimento do hóquei na Zambézia, as Clínicas de Verão – que decorrem entre 13 e 31 de Julho na Parede – vão proceder à recolha de material usado para envio. Os coordenadores Luís Duarte e Carlos Pires apelam aos participantes e demais interessados que levem o seu material – e podem fazê-lo desde já contactando os coordenadores - para que o hóquei em patins naquela região de Moçambique seja cada vez mais uma realidade.
Quinta-feira, 11 de Junho de 2015, 15h17