Mais uma oportunidade perdida

Por Pedro Alves dos Santos

Esta é uma visão do futuro próximo. Acontece uma Assembleia-Geral da FPP, um momento que devia ser fulcral na partilha de visões, de ideias, de salto qualitativo. Mas, na inércia dos participantes, meros espectadores, nada mudará.

Mais uma oportunidade perdida

Repete-se ciclicamente, algum tempo volvido sobre uma conquista do Hóquei em Patins, que foi mais uma oportunidade perdida para capitalizar algum fulgor mediático para dar outra dimensão à modalidade. Mas, não abundando assim tanto esses momentos de conquista, há mais oportunidades perdidas.

As Assembleias-Gerais são os momentos mais importantes de uma federação desportiva. A assembleia electiva acontece, agora em ciclo olímpico, de quatro em quatro anos, mas há anualmente uma Assembleia-Geral para Apresentação e aprovação do Plano de Actividades e Orçamento para o ano seguinte (ali em Outubro, Novembro) e outra para Apresentação e aprovação de Relatório e Contas do ano anterior (em Março). E estas têm sempre um ponto sobre "Outros assuntos de interesse para a Patinagem".

Estragando desde já a "surpresa", o Relatório e Contas de 2022, independentemente do valor de prejuízo apresentado, será aprovado por unanimidade. Talvez com uma ou outra abstenção. Mas dificilmente com algum voto contra. Não será, por si só, estranho. Provavelmente merece aprovação, mas não lhe dei a atenção devida. A questão é que a maioria dos delegados presentes a Assembleia-Geral para votação, representantes das diferentes associações, também não terão dado...

No que ao Hóquei em Patins diz respeito, as Associações territoriais (35% dos votos) estarão preocupadas com o seu "quintal", a pensar em quanto recebem ou receberão em contrato-programa com a Federação. A (in)acção da Associação de Clubes (35%) está agora limitada à bandeira de uma Elite Cup que até está sob a asa federativa, sendo omissa no resto do ano. Tal como a Associação de Atletas (representando 15% dos votos) ou a Associação de Treinadores (7.5%), cuja existência até se questiona, tamanha a inércia (quantos atletas, verdadeiros protagonistas, estão a par da sua Associação?), parecendo existir apenas para aparecerem em dia de Assembleia-Geral para dar o seu voto favorável. A que pergunta? Não interessa, será favorável.

E os árbitros, sempre atacados, raiz de todos os males, culpados em todas as derrotas? Bem, esses teriam também 7.5% dos votos, mas não têm constituída uma Associação com legitimidade legal para os representar em Assembleia-Geral.

Pese a crítica - declarada, assumida e objectiva - à inércia das associações de classe como meros espectadores de uma morte lenta e anunciada por muitos aos quatro ventos, é fácil entender os constrangimentos em "AG" no assumir de uma posição crítica. Porque uma posição crítica é sempre vista como um ataque, não o sendo necessariamente, e quem está do outro lado, os órgãos federativos, têm todo o poder.

Imagine-se um árbitro com uma posição discordante sobre um tema. Bem, felizmente, esses serão todos, por isso corrijo. Imagine-se um árbitro que assume a sua posição discordante. E que, por mera coincidência, deixa de ser nomeado pelo Conselho de Arbitragem para jogos. Ou seja, deixa de receber, de ser chamado a actividades internacionais, deixa de progredir na sua carreira.

Ou que um treinador é abertamente critico. E que, por coincidência, por dar instruções quando estava castigado e na bancada, como todos fazem, é condenado com, suponhamos, inusitados dois meses de suspensão pelo Conselho de Disciplina.

Ou que um atleta tenha opinião, e por coincidências várias da vida, não é considerado para a Selecção ou tem um castigo mais pesado por agressão ou uma sanção que sai quando era mesmo inconveniente. É que, pese as participações disciplinares serem obrigatórias pelos agentes quando delas tenham conhecimento (mas podendo ser apresentadas por qualquer um), poucas, bem escolhidas, chegam a ser apresentadas.

Regressando ao "momento Maya" de vidência, nesta Assembleia-Geral de Março para Apresentação e aprovação de Relatório e Contas, não se questionarão estruturas técnicas apesar dos resultados desportivos ou de como "o Hóquei vai mal". Ou como se mantém um Conselho de Disciplina que falha redondamente no jogo disciplinarmente mais mediático de 2022, um dérbi de Lisboa em que cinco castigos são indevidamente aplicados. Ou como há uma prova que desaparece do calendário sem ser dada qualquer justificação. Ou a gritante disparidade de pesos e medidas entre as equipas ditas 'mais pequenas' e as 'maiores'.

E aceitar-se-ão os argumentos do amadorismo das estruturas e dirigentes quando, na verdade, se exige profissionalismo às equipas, e não faltarão loas a um campeonato que, com pouca concorrência para esse título, é apontado como "o Melhor Campeonato do Mundo". "Também graças aos clubes", alguém disse. Errado. É o melhor apenas graças aos clubes, e ao investimento desmedido de alguns.

E, à margem de tudo isto, a modalidade, o Hóquei em Patins continua grande. Sim, o Hóquei em Patins é grande, imenso, em cada um dos seus adeptos. Daqueles que são patrocinadores, em tempo e dinheiro, dos atletas em formação, daqueles que choram vitórias e derrotas, daqueles que vivem as rivalidades, daqueles cuja voz não tem eco.

Ir à Assembleia-Geral é um privilégio. E, também por isso, ser interventivo devia ser uma obrigação.

AMGRoller

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