Vieram e ficaram
José Pedro Silva
Murches, Famalicense e Riba d'Ave que, na época passada, subiram à I Divisão, atingiram o seu principal objetivo desta temporada: a manutenção. É a primeira vez, no século XXI, que todos os promovidos conseguem terminar acima da 'linha de água'.
Desde a temporada 2014/2015 que a I Divisão de Hóquei em Patins engloba um total de 14 equipas, existindo uma permuta entre os três emblemas mais mal posicionados por outras três equipas, estas provenientes de uma duríssima e competitiva II Divisão.
O que se tem verificado, com alguma regularidade, é que a competição é madrasta para algumas das equipas que conquistam a promoção. Exemplos não faltam que comprovam que, tão depressa as equipas sobem, como voltam a descer, vivendo neste limbo de felicidade e insucesso.
Este ano, pela primeira vez nos últimos anos, e dada a confirmação da descida do Parede, todos os recém-promovidos têm razões para sorrir no final do campeonato, já que confirmam a presença entre os melhores do Mundo por mais um ano.
Murches
O Murches, equipa brilhantemente liderada por Hugo Lourenço, é constituída, na sua grande maioria, por jovens com uma enorme margem de evolução e talento. Talento este já firmemente evidenciado por vários dos atletas aquando das conquistas dos Campeonatos Nacionais da II Divisão, pela equipa “B” do Benfica em 2017/2018, e na época transata ao serviço da equipa do concelho de Cascais.
Ao virar da primeira volta, o Murches ocupava um “injusto” lugar de despromoção, dado que, pelo hóquei apresentado nas pistas, mereceria melhor sorte em algumas partidas em que averbaram derrotas.
No entanto, com o desenrolar do Campeonato, a equipa conseguiu aliar resultados positivos a boas exibições. E o facto de, agora, se encontrar na luta por um lugar de play-off é um justo prémio, nesta que é a época de estreia no principal escalão de Hóquei em Patins.
Destaque para Zé Miranda, jogador cedido pelas águias, que tem revelado uma qualidade acima da média em todos os momentos do jogo, apresentando excelentes argumentos do ponto de vista técnico e tático. Será, seguramente, um nome de destaque dos próximos anos do Hóquei português.
Famalicense
De Famalicão, e após uma passagem breve em tempos de pandemia, surge o Famalicense, com um projeto sólido e a dar os seus primeiros frutos. A equipa registou a entrada de um novo treinador no início da temporada e, desde cedo, o foco e a ambição de fazer uma boa época ecoou como uma mensagem forte.
O conjunto famalicense, recheado de valores seguros e experientes, reforçou-se bem com as entradas de jogadores de qualidade indiscutível como João Lima e Joca Guimarães. E nem mesmo a mexida registada na baliza a meio da época, beliscou as intenções dos comandados de Jorge Ferreira.
Até ao momento, o Famalicense, em confronto com os seus diretos opositores, apenas perdeu com Murches e Braga jogando fora de portas, e com um já “condenado” Paço de Arcos em casa, deixando bem patente que o seu lugar é na I Divisão e com ambições redobradas para a próxima temporada.
Riba d’Ave
Tradicionalmente conhecido por ter uma das pistas mais difíceis, o Riba d’Ave foi a última das três equipas a garantir a promoção na época passada. A equipa minhota não entrou bem no campeonato, averbando três derrotas nos três primeiros jogos.
No entanto, Raúl Meca “reuniu as tropas” e encontrou a fórmula para dar a volta a essa fase menos positiva. Após a 4ª jornada, o Riba d’Ave não mais esteve em posição de descida e foi amealhando os pontos necessários para viver uma época tranquila.
Os ribadavenses têm pautado a época por consistência no setor defensivo, com uma grande entreajuda de todos os seus jogadores. Para além disso, Pedro Silva, capitão de equipa, tem revelado um nível exibicional de qualidade, apresentando uma veia goleadora muito proveitosa para o sucesso do clube. De notar ainda, o contributo inegável do guarda-redes Álvaro Shehda.
Histórico
Sendo certa a presença de Murches, Famalicense e Riba d’Ave na próxima edição do Campeonato Placard, regista-se, com curiosidade, o facto de todos os promovidos no final de 2021/22 garantirem a manutenção, algo nunca antes observado no decorrer deste século. Ou nos últimos 40 anos.
Aliás, depois de, em 1982, o Campeonato Nacional da I Divisão ter sido “unificado”, tendo deixado de haver uma primeira fase com Zonas Norte e Sul, feito idêntico só ocorreu em 1985, quando subiu apenas uma equipa (o Ferpinta, mantendo-se até 1988) e em 1994, quando Tomar e Gulpilhares subiram, numa altura em que eram duas as equipas promovidas.
Com a subida de três equipas, esta é mesmo a primeira vez que este feito aconteces na história do principal Campeonato português.
Veremos, no decorrer das próximas semanas, quais os clubes que festejam a subida à I Divisão, e se, na próxima temporada, conseguem repetir a (difícil e inédita) proeza verificada nesta.
José Pedro Silva
Terça-feira, 18 de Abril de 2023, 22h12