A final, vista pelo capitão e o seleccionador português
Após a final do 55º Campeonato da Europa, João Rodrigues e Renato Garrido, capitão e seleccionador de Portugal, analisaram a partida que ditou a conquista do título pela Espanha.
João Rodrigues, capitão da Selecção Nacional
"Acho que relativamente à entrega dos jogadores não se pode apontar nada. Demos tudo na pista, assim tinha de ser. Desde o primeiro dia dos estágios para este campeonato da Europa, acho que a entrega foi total. O foco era estar nesta final para ganhar. Não foi possível. Faltou-nos eficácia. Acho que, na primeira parte, tivemos oportunidades para nos pôr na frente do marcador e faltou isso. Não se podem falhar um para o guarda-redes. Nestas finais são muito importantes. Depois, na segunda parte, o momento do 2-0 e 3-0 da Espanha, seguidos, acho que também marcam definitivamente a final. Tentámos reagir e fizemo-lo, a meu ver, bem, apesar de ser mais com o coração do que com a cabeça. Mas acho que ali encostámos de certa maneira a Espanha, às cordas. Não há muito mais a dizer. Acho que foi uma oportunidade perdida. Sentíamos que este ano podíamos ser felizes. São muitos anos sem ganhar e dói muito. Dói muito."
Momento decisivo e fraca arbitragem
"Acho que aqueles dois golos seguidos, quando eles tinham acabado o tempo de superioridade foi... Tinham acabado de cumprir os dois minutos. Nós arriscámos, não quisemos fazer a falta. Agora, analisando, devíamos ter feito a 10ª falta. Acabámos por ter dois golos ali seguidos. Marcou muito o jogo, a meu ver, acho que a Espanha não tinha feito também... Apesar de eu achar que a Espanha ao longo do jogo foi colectivamente superior a nós, acho que não tinha feito méritos suficientes para nos estar a ganhar 3-0. É difícil, a quente, fazer uma análise ao jogo. Só sei que a arbitragem também foi fraca. Já sabíamos que é difícil apitar uma final destas. Uma final europeia é sempre difícil. Não estou a dizer com isto que foi por causa da arbitragem que perdemos. Atenção, acho que foi fraca, mas errou para os dois lados. Talvez tenha errado mais para a seleção da casa, mas isso também já era expectável, pressionados também pelo público. Sabíamos que ia ser assim. Tínhamos de ser superiores a isso tudo. Ser perfeitos. Não fomos."
Tristeza
"Saio triste. Vão ser dias difíceis agora, porque não temos uma oportunidade rápida de corrigir isto. Vão ser dias difíceis, mas temos que levantar a cabeça e tentar numa próxima oportunidade, independentemente de quem sejam os jogadores que vierem representar Portugal."
"É difícil digerir e só queremos agradecer o apoio dos portugueses ao longo desta competição. Sentimos à distância e os que marcaram presença. As famílias, os amigos, são fundamentais para nós. A imprensa que esteve presente, acho que a cobertura que fizeram foi fantástica e, em nome do Hóquei português e da Selecção, só temos a agradecer."
"Muito triste, porque sentíamos que íamos fazer a festa na Catalunha e íamos devolver os títulos europeus a Portugal. Não foi possível. Individualmente, estou muito frustrado também. Acho que não consegui ajudar a seleção da maneira que queria. É aprender e tentar a próxima vez."
Renato Garrido, Seleccionador Nacional
"Como o João disse, estamos tristes. E eu, primeiro, assumo logo as minhas responsabilidades, porque sou eu que tenho que assumir as responsabilidades por não termos conseguido ganhar este Europeu, que era uma ambição que tínhamos."
"Não nos sentimos em nada inferiores à Espanha, mas um jogo que nós já sabíamos que ia ser difícil, que ia ser numa pista complicada, com o apoio da seleção espanhola. E aquilo que eu fui dizendo durante a semana é que aquilo que controlamos, controlamos, aquilo que não controlamos, mais uma vez não pudemos controlar. E não vou falar de arbitragem, porque estou farto. Muitas vezes, quando eu sinto que estou mais ???, saio, e portanto, não tenho que responsabilizar a arbitragem de nada, porque quer a nível nacional, quer a nível internacional, está tudo bem."
"Portanto, fomos nós que não conseguimos realmente superar isso tudo, sempre atrás do resultado, de uma forma bastante complicada, porque a Espanha, como o João também referiu, nada fez para estar com dois golos de vantagem e depois até três. Não conseguimos nunca estar confortáveis no jogo. Tivemos que ir sempre buscar uma equipa que não era aquela base que nós sempre tínhamos, queríamos ser cada vez mais ofensivos. E eles foram dominando o jogo como quiseram e as faltas foram aparecendo consoante houve interesse no jogo para elas aparecerem."
A não utilização de Nuno Santos
"Grupo fantástico. Por acaso disse-lhes isso antes de começar de jogo. Que sou um privilegiado de eles terem acreditado em mim e os ter trazido, não só até aqui, mas um grupo já vem de algum tempo com a entrada de um ou outro jogador. Um orgulho imenso neles, que realmente orgulham, acho eu, que orgulham Portugal e o Hóquei português. São jogadores de nível altíssimo, mas estão tristes, muito tristes alguns no balneário, porque se sentem frustrados, porque queriam mais e não foi possível."
Mantém-se como seleccionador para o Mundial?
"Mantém-se o Mundial. Depois, o resto, vamos conversar."
A não utilização de Nuno Santos
"O Nuno Santos, numa situação normal de jogo, seria utilizado, mas nós, como estivemos sempre atrás do resultado, fomos arriscando com jogadores que nem na posição deles às vezes jogam. Disse-lhes sempre que não ia arriscar com cinco para quatro, e também o resultado não permitia isso. E acho que há ali uma fase do jogo que nós fizemos o 3-2 e imediatamente aparece outra falta para a Espanha e eles fazem o 4-2. E para mim esse é o grande momento do jogo, porque nunca nos deixam aproximar. Mérito da Espanha. Um mérito fantástico, porque conseguiu concretizar alguns dos livres diretos."
Mudanças na arbitragem
"Eu esforço-me e respeito muito o meu trabalho, e não admito que ninguém nunca na vida, nunca, ainda deve estar para nascer quem vai pôr em causa a minha dignidade. A minha. Eu sou responsável pela minha, pela dos outros, não sou. Só lamento muito - lamento muito - esse facto do Hóquei. Agora, a mim, a mim e o meu trabalho, a minha responsabilidade... Eu não admitia que me pusessem em causa, como se põe em causa todos os fins-de-semana e... Enfim. Eu, se fosse árbitro, queria ter brio em tudo aquilo que fizesse. Queria ser o melhor árbitro do Mundo sempre. Eu, se fosse árbitro. Não sou árbitro, sou treinador. Esforço-me dentro das minhas limitações, para ser o melhor. Sobre isso, não sei o que hei-de responder. Só tristeza."
Segunda-feira, 24 de Julho de 2023, 15h43