«É importante valorizar aquilo que se vai conseguindo»
Orlando Panza, chairman do Comité-Técnico de Hóquei em Patins da WSE, fez um balanço do Europeu, da sua organização e modelo. Destacou o que tem sido conseguido e que os modelos das provas, de selecções e clubes, são vencedores e para manter.
Faltavam cerca de 30 minutos para a stickada de saída da final ibérica do 55º Campeonato da Europa quando Orlando Panza, chairman do Comité-Técnico de Hóquei em Patins da World Skate Europe, gentilmente aceitou o convite do HóqueiPT para um breve balanço de uma prova que estava já muito perto de chegar a bom porto. No final, não deixaria de ser visado por questões de arbitragem, mas as primordiais questões organizativas tinham sido respondidas com sucesso.
"É importante valorizar aquilo que foi feito nesta edição. Uma edição muito positiva, com um modelo competitivo diferenciado, em que foi tida em conta a capacidade competitiva das equipas que, além de incrementar a competição, incrementou a disputa e a evolução das próprias equipas, como foi bem notório, já nalguns aspectos, nalgumas selecções, e isso sim, é o que me deixa principalmente satisfeito", referiu sobre uma edição sob condições complicadas.
Presentes estiveram oito selecções. "Quem conseguiu estar, quem esteve e esteve de corpo e alma nesta semana, uma semana difícil, num pico de calor, com condições extraordinariamente difíceis, e também o reconhecemos. Isso é que é de valorizar e, principalmente, valorizar aquilo que foi feito, aquilo que já se conseguiu fazer e aquilo que se trouxe de novo, de positivo para o Hóquei em Patins e não perspectivar já aquilo que poderá ser no futuro", apontou. "Pessoalmente, sou um eterno insatisfeito. Portanto, ficaria satisfeito se tivéssemos aqui 35 equipas, mas isso não vai acontecer. Pelo menos, não acredito que isso aconteça no meu tempo de vida. E, se calhar, nem nas gerações vindouras. O objetivo é sempre termos mais, fazer mais, melhor e com maior capacidade", definiu, com os pés bem assentes no chão.
Esta edição esteve inicialmente apontada a França. Como já tinha estado em 2020, adiada devido à pandemia, e depois em 2021, acabando por ser "transferida" para Paredes. "Essas são as realidades do Hóquei em Patins. Muita gente fala e não sabe quais são as principais dificuldades e as principais dificuldades de algumas federações. Tivemos durante muito tempo o Europeu apontado a França, mas as questões de não ter sido em França, vou deixar a federação francesa", remeteu, explicando o evento possível.
"Tivemos de encontrar soluções, E a solução foi encontrada com a federação espanhola, que nos indicou Sant Sadurní, e a partir daí há que trabalhar naquilo que é realisticamente possível e capaz de ser feito para não acontecer como aconteceu com o Europeu feminino [adiado, sem sede definida]. E é isso que é importante. E, mais uma vez digo, é importante valorizar aquilo que se vai conseguindo e aquilo que conseguimos apesar das situações, das dificuldades que foram sendo apresentadas. Estas são as dificuldades com que trabalhamos e são as dificuldades que enfrentamos e as dificuldades que vamos ultrapassando no dia a dia", sublinhou.
Organização acessível e para descentralizar
Os valores associados à realização de uma competição europeia, de clubes ou selecções, são muitas vezes apontados como entrave à organização dos mesmos, mas Orlando Panza considera as exigências acessíveis. "Não estamos a falar de valores extraordinários, que não sejam capazes de ser conseguidos em qualquer região da Europa em que se pratica Hóquei em Patins", explicou, não se escusando a detalhar.
"Os cadernos de encargos, muitas das vezes, variamos de acordo com o espaço, com a capacidade. Há muito que fica com as federações e com a parte logística das próprias federações. E isto sabendo que os calendários do Hóquei em Patins nos dificultam muito por vezes, sendo importante não esquecer que tivemos um Mundial também esta época, que cortou a época a meio, e que nos empurrou para o mês de Julho a realização do Europeu", recordou, retomando. "E toda essa logística, toda essa dificuldade de alojamentos, hotéis, de épocas altas, criam maiores dificuldades. Os cadernos de encargos acabam por ser variáveis de acordo com esse timing. Mas isto são valores que devem andar, na sua globalidade, na ordem dos 50 mil euros", estimou.
No entanto, por exemplo, o último Europeu de Seniores Masculinos realizado em Portugal teve um custo para a Câmara Municipal de Paredes estimado em 90 mil euros e que viria depois a ultrapassar a centena. A contribuição de Sant Sadurní d'Anoia, monetariamente, não foi além dos 10 mil euros. "O que nós trabalhamos é com as federações", esclareceu Orlando Panza. "Obviamente que as realidades de cada espaço e de cada sítio e os apoios que têm, são diferenciados. Em Portugal pode haver um apoio maioritariamente camarário e aqui um apoio mais de empresas, de patrocínios, de outro tipo de situações, não sei", afirmou.
E este ano haverá provas na Suíça e em Itália, fugindo ao "centralismo" ibérico.
"Existem outras dificuldades organizativas dos próprios países, que nos vão limitando a ir a outros sítios. Estamos a colaborar, a tentar que se ultrapasse essa situação. Já foi possível enviarmos um Europeu para a Suíça este ano [Sub-19], depois de muitos anos, voltarmos a Itália para o Europeu de Sub-17 e ter um Europeu Feminino de Sub-17 pela primeira vez. É este trabalho positivo no Hóquei em Patins que estamos a fazer, estamos a diferenciar. Nunca foi nosso objetivo encontrar situações que nos proporcionem mais dinheiro ou mais condições, é somente conseguirmos atingir patamares organizativos que nos garantam qualidade organizativa. Só isso", apontou.
Modelos para manter
Este Europeu de Sant Sadurní trouxe um novo modelo, com um grupo de mais bem classificados da última edição e outro com os restantes. Um modelo, para Orlando Panza, vencedor.
"Houve uma clara evolução competitiva e produziu os seus efeitos. Os jogos foram equilibrados desde o primeiro dia até ao último. Penso que só tivemos um jogo mais desequilibrado, nos quartos-de-final, tudo o resto foram jogos bastante competitivos, permitiu que todas as equipas conseguissem evoluir em competição, e isso para nós é fundamental. Os jogos mais desequilibrados não permitem a evolução em competição, não permitem desafiar os próprios limites de cada equipa e, portanto, acho que é um modelo altamente ganhador para esta realidade atual. Será para manter, obviamente", assegurou.
Também houve um modelo diferente nas competições europeias, e também será para manter.
"Será em tudo similar ao ano passado. Não há notícias, portanto é natural que não haja alterações. Se houver alterações no modelo, serão atempadamente informados de como é que vai ser o novo modelo. Não faz sentido andarmos a alterar todos os anos em cima do joelho", elucidou.
Privilegiar um melhor produto
No esforço organizativo, não deixam de ser apontados problemas. Alguns regulamentares, assumindo-se que uma organização que parte da World Skate Europe deveria ser exemplar a esse nível. Mas Panza privilegia outros factores.
"Acho que se queremos desenvolver alguma coisa, não é uma questão de sermos ou não exemplares. Tudo que venha incrementar e aportar qualidade e aportar imagem para a realização de jogos, acho que é extraordinariamente positivo. Até porque é uma falácia tremenda quando se diz que se valoriza outros aspectos e depois se faz inspecções a espaços com fitas isoladoras em cima. Quando trabalhamos nessa falácia, é completamente irrisório depois tudo o resto. O que é importante é termos uma boa imagem, uma boa capacidade, que seja vendável para termos o melhor produto no futuro. Menos um metro de linha ou mais um metro de linha, acho que não é isso que vai diferenciar a qualidade do Hóquei em Patins que é jogado, nem é isso que vai influenciar os resultados finais", observou, não descartando que tal tenha de ser reflectido no regulamento. "Os regulamentos também têm de ser orientados e flexibilizados nesse sentido e, se calhar, numa próxima redacção, terem uma capacidade também de ter essa forma mais permissiva que nos aporta outras condições e outra qualidade", sugeriu.
Outra crítica é dirigida à falta de informação, nomeadamente sobre castigos. Como os que ficaram pendentes do 54º Campeonato da Europa, em 2021, que, sem nunca terem sido tornadas públicas as sanções aplicadas, acabaram por ser cumpridos entretanto. Uma lacuna reconhecida e para rever. "Os castigos são para ser publicados, tudo isso vai ser publicado. É uma questão que estamos a gerir também ao nível do site da WSE e penso que muito em breve vamos ter essa situação também salvaguardada. Reconheço a lacuna que tem existido e vai ser salvaguardada dentro em breve", garantiu.
Sexta-feira, 28 de Julho de 2023, 13h35