O sonho da Académica da Amadora não tem casa, mas não falta ambição
Há uma nova Académica a tentar devolver o Hóquei em Patins à Amadora, mas, sem possibilidade de utilizar o pavilhão da AAA, os passos têm de ser firmes. Desde já, este sábado, apresenta a sua equipa de 'Masters +35', em Vale de Lobos.
Foto de capa: Académica da AmadoraPrimodivisionária de 1981 a 1986 e de 1989 a 1995 e campeã nacional feminina em 1996 e 1998, a Associação Académica da Amadora (AAA) marcou uma era no Hóquei em Patins nacional, mas acabaria por entrar numa espiral negativa até à insolvência.
Das “cinzas”, emerge a Académica da Amadora. Ou tenta.
“O objectivo foi refundar o clube e trazer de novo o Hóquei em Patins de volta à cidade da Amadora e à Académica. Foi uma modalidade que se perdeu na cidade depois da insolvência e do fecho da Académica da Amadora e que nós queremos trazer de volta e fazemos tudo para que isso aconteça”, conta-nos Bruno Catambas, um dos mentores e sócios fundadores neste “regresso”.
De facto, o clube que agora surge apenas tem uma ligação afectiva (ainda que forte) com a “extinta” AAA. “Nós abrimos uma nova atividade, não comprámos nenhuma dívida, por assim dizer, da Associação Académica da Amadora”, esclarece.
No processo de insolvência, a Câmara Municipal ficou com o pavilhão.
“A Câmara Municipal da Amadora é proprietária dos dois pavilhões no espaço desportivo da AAA. O que era o pavilhão do Andebol e da Ginástica, hoje é um ginásio do Académica Fitness. E o pavilhão que sempre foi do Hóquei em Patins está contratado com a Associação Académica de Patinagem de Portugal Rollersky, que desenvolve lá os seus treinos apesar de ter os seus atletas inscrito na Associação de Patinagem de Setúbal”, explica-nos Bruno Catambas.
Sem casa
A Académica da Amadora ainda usou o pavilhão, mas, agora, não é possível, o que condiciona de sobremaneira os planos para o presente e futuro. É o “andar de casa às costas”.
“A Rollersky faz a exploração do espaço do pavilhão. De Setembro de 2022 até Junho deste ano, fazíamos um aluguer semanal para manter a prática do Hóquei com alguns atletas Masters +35 que integravam a equipa do Nafarros e outros seniores que eram da Académica da Amadora. Infelizmente, a partir de Junho, foi-nos negada a possibilidade de continuar a fazer qualquer aluguer semanal no pavilhão e tivemos de procurar outras alternativas. Encontrámos o pavilhão d’Os Lobinhos, mas estivemos também no pavilhão do CACO e até no pavilhão do Sintra. O importante vai sendo mantermos a actividade, independentemente de onde consigamos, mas seria também importante conseguir essa actividade na nossa casa. Isso, sem dúvida, é o nosso ‘ponto de honra’, digamos assim: ter a Académica da Amadora naquilo que é o pavilhão da Académica da Amadora”, expõe.
Neste momento, na cidade, não há alternativas.
“Dentro da cidade da Amadora existem vários pavilhões escolares. O pavilhão que nos poderia ser disponibilizado, o Pavilhão Rita Borralho, é um pavilhão que, à semelhança dos outros, não tem essas tabelas que permitam a prática do Hóquei em Patins. Efetivamente, o único pavilhão camarário da cidade da Amadora que permite a prática do Hóquei em Patins é o Pavilhão da Associação Académica da Amadora. Não há outra alternativa, por muito que nós tentemos aqui procurar, não há”, constata, afirmando que não faltaram ideias para conseguir essa alternativa.
“Apresentámos diferentes projetos à Câmara da Amadora para que pudéssemos fazer a reabilitação, quer do pavilhão da Académica da Amadora, quer do Pavilhão Rita Borralho, para que fossem transformados para a prática do Hóquei em Patins. Mas, neste momento, não conseguimos ter essa concordância e ter esse apoio da parte da Câmara, infelizmente”, lastima. “Para mim é lamentável, é triste, ter um pavilhão com essas condições na cidade da Amadora, que tem 175 mil habitantes, que tem pessoas que querem desenvolver essa prática, que querem voltar a fazer Hóquei na cidade, e que infelizmente não podem”, aponta.
Os Masters como bandeira
Condicionados pela falta de pavilhão próprio, a aposta é numa equipa de “Masters +35” que devolva o nome da nova Académica da Amadora aos meandros da modalidade.
“Estou muito confiante na equipa que conseguimos reunir, quase na totalidade com atletas que passaram pela AAA, alguns deles com quem eu partilhei o balneário desde há 35 anos. Temos outros atletas que estavam envolvidos connosco também na equipa do Nafarros, que decidimos convidar a fazer parte deste projecto e vestirem pela primeira vez a camisola da Académica. E já o fizeram”, refere.
Os “Masters +35” da Académica da Amadora estiveram no passado sábado na apresentação dos Masters do Vasco da Gama. “Foi uma experiência riquíssima. O pavilhão do Vasco da Gama é sempre um pavilhão ao rubro e eles tinham tido lá uma apresentação com a Patinagem Artística, portanto, havia muitas crianças, famílias e toda a gente ficou depois a ver o nosso jogo. Foi espetacular poder voltar a jogar com a camisola da Académica e integrar também esses atletas, que a vestiram pela primeira vez”, regozija-se Bruno Catambas.
Este sábado, há apresentação própria, frente ao Sporting Clube de Torres, a partir das 19h30, no palco “emprestado” d’Os Lobinhos, em Vale de Lobos.
A equipa da Académica da Amadora conta com os guarda-redes João Martins, João Pedro Gouveia e Pedro Duarte e os jogadores de pista André Alves, Bruno Catambas, Bruno Tavares, Edgar Morais, Gonçalo Lages, João Abrantes, Luís Paixão, Mauro Abrantes, Micael Barreto, Pedro Novalio, Ricardo Faísca e Ruben Moreira. Um plantel alargado para fazer face a inevitáveis ausências forçadas pelo dia-a-dia.
“Masters +35” são bandeira da Académica da Amadora. E um “ariete” na promoção do novo clube.
“É um plantel um bocadinho vasto. Temos praticamente três equipas titulares, digamos assim”, sublinha, justificando. “Nas equipas de Masters há sempre muitas condicionantes, porque toda a gente tem de compreender a vida familiar e a vida profissional. Muitas vezes, os turnos sobrepõem-se e, obviamente que aqui o compromisso é sério, mas há coisas mais importantes do que o Hóquei. De todas as formas, ninguém joga para não ganhar. É um espírito muito competitivo, que eu não estava à espera de encontrar quando o ano passado participei pela equipa do Nafarros”, reconhece.
“O objetivo é levar a equipa de Masters o mais longe possível. Eu acredito muito na Taça de Portugal. O campeonato aqui na zona de Lisboa é muito competitivo. Temos equipas como o Benfica e Sporting. E temos uma equipa espetacular da Stuart. Mas, ainda assim, estou confiante. O objetivo é levar os Masters o mais longe possível e, no campeonato, chegar à fase final. E à Final Four da Taça de Portugal também”, ambiciona.
Um brilharete poderia reforçar as pretensões junto da Câmara Municipal da Amadora.
Apresentação da equipa tem lugar este sábado, em Vale de Lobos, a partir das 19h30, frente ao Sporting de Torres.
“Creio que é um bocadinho por aí, mostrar o que conseguimos fazer, mas que, se tivéssemos ainda mais condições, conseguimos fazer ainda melhor. É óbvio que as pessoas sabem que nós existimos. A Câmara tem noção que nós existimos e já chegamos à conversa com eles, naturalmente, mas também percebemos que há coisas que não podem ser ultrapassadas, como são contratos que estão em vigor. Não é isso que nós queremos de todo. Queremos o nosso espaço, sim, mas sem nos sobrepormos a ninguém. Isto não é uma afronta, nem é um desaforo ninguém. É um projeto que nós acreditamos que pode, inclusive, partilhar o espaço, como referi anteriormente. Assim haja vontade de todas as partes e, se a Câmara entender servir de mediador, poderia servir perfeitamente”, reforça.
Promoção da Patinagem
Pese os constrangimentos, não falta vontade ao novo clube de promover, acima de tudo, a Patinagem. “Nós tentámos que houvesse a possibilidade de escalões de formação. Com pavilhão, teríamos outras condições para oferecer a outras equipas de outros escalões, e mesmo até Iniciação à Patinagem. Estamos neste momento dependentes do apoio da escola, que nos disponibilize um pavilhão escolar para que nós possamos fazer essa aposta na formação e na divulgação do Hóquei em Patins e da Patinagem, sobretudo, junto das crianças. Se fosse no pavilhão da Académica, aí sim, era o ideal”, reitera.
Entretanto, mesmo que Maomé não possa ir à montanha (ou a Iniciação não possa ir ao pavilhão), nada abala a fé de quem move esta Académica. Já está estabelecida uma parceria com a Santa Casa da Misericórdia da Amadora para se desenvolver em três ATL - Alfragide, Mina e Vila Chã - a modalidade de Iniciação à Patinagem.
Um passo firme e convicto da Académica da Amadora. Um passo de gigante para os jovens da quarta maior cidade portuguesa.
Sexta-feira, 29 de Setembro de 2023, 19h02