Vira o disco do hino das conquistas e toca o fado
Pedro Alves dos Santos
A Federação de Patinagem de Portugal celebra o seu centenário. No Hóquei em Patins, é uma 'vida' no imaginário dos portugueses, com inúmeras conquistas sob o signo das quinas. Mas, cada vez mais, nem tudo o que reluz é ouro luso.
Ainda há quem lhe chame Federação Portuguesa de Patinagem, mas, sem alterar a sigla e ainda com muita gente a insistir no nome anterior, é Federação de Patinagem de Portugal desde 2005, mas com uma história bem longa. O organismo que tutela a patinagem em Portugal celebra em 2024 o seu centenário.
Pluridisciplinar, talvez como nenhuma outra federação, a FPP tem sob sua alçada o Hóquei em Patins e, ainda que a Patinagem Artística vá crescendo a olhos vistos, continua a ser o Hóquei sobre rodas que mais a projecta em termos mediáticos, até porque este vive um duradouro romance com os portugueses.
Em 1947, em Lisboa, Portugal sagrava-se pela primeira vez campeão do Mundo como equipa. No Hóquei em Patins. Já na terceira década de existência da FPP, e "aproveitando" o impacto da II Grande Guerra em Inglaterra e nos ingleses, a selecção das quinas, balanceada pelo campeonato nacional que se disputava desde 1938/39, conquistava o Mundo. E voltaria a conquistá-lo outras 15 vezes.
Venceu quatro vezes consecutivas entre 1947 e 1950, voltou a vencer em 1952, e venceu outras quatro vezes, já de dois em dois anos, entre 1956 e 1962. Os portugueses, em épicas peleias com os espanhóis como não se viam desde os tempos dos Descobrimentos, dominavam o Mundo. Mesmo que o Hóquei em Patins fosse - e seja - um Mundo pequenino.
O povo estava enamorado. Enchia pavilhões para ver a sua selecção, juntava-se em cafés para ouvir os relatos e, mais tarde, para ver as transmissões televisivas de cinzentos claros contra cinzentos escuros na era do preto e branco. Uma paixão assolapada que deu em casamento, com um amor jurado para a hora da vitória e da derrota, que vai triunfando perante muitas e cada vez mais adversidades.
Na afirmação de Portugal no Hóquei em Patins mundial, houve uma hegemonia na terceira década de existência da FPP, entre 1944 e 1953, com a conquista de seis das oito competições - entre Europeus e Mundiais - disputadas, que não voltou a ter paralelo.
Entre 1954 e 1963, Portugal ainda ganhou mais provas (oito) do que a Espanha (seis), mas tal só voltaria a acontecer numa (1984 a 1993) das seis décadas que se seguiram até ao fecho do centenário. E nessa sétima década de existência, os "outros" - Itália e Argentina, por exemplo - somaram 12 conquistas contra 10 de Portugal e "apenas" oito da Espanha.
Nas últimas três décadas, a Espanha somou sempre pelo menos duas dezenas de títulos. Não falta talento em terras espanholas, mormente catalãs, mas, sem a mesma magia individual dos lusitanos, os espanhóis vão apelando ao colectivo, a uma riqueza táctica que tornará o jogo menos atractivo, mas vai vingando como vencedor. E, mais do que uma fronteira de 1200 km, há todo um mundo - ou todo um universo - a separar a aposta no feminino dos dois lados da raia.
Em seniores, Portugal até teve tantos títulos (sete) como a Espanha entre 1994 e 2003, mas a selecção das quinas só venceria um título mundial (2019) e um título europeu (2016), ambos no masculino, nas últimas duas décadas contra 25 títulos espanhóis e 11 de "outros", sendo que os "outros", nomeadamente os argentinos, são injustiçados nestas contas que só contabilizam Mundiais e Europeus.
Pedro Alves dos Santos
Segunda-feira, 8 de Abril de 2024, 21h35