As lições da eterna Adri
'Maestra' de profissão, maestrina na pista, Adriana Gutiérrez é um exemplo. Em 2022, aos 37 anos, campeã mundial pela quinta vez, teve uma emotiva despedida da albiceleste. No domingo, ergueu a sua quarta Liga Europeia, a primeira do Fraga.
O Fraga tornou-se no passado fim-de-semana campeão da Europa ao vencer a Champions League Women na sua primeira participação europeia, no seu terceiro ano de existência. A capitã Adriana Gutiérrez ergueu o seu quarto troféu máximo europeu.
"Maestra" (professora em castelhano) de profissão, leccionando inglês, Adriana Gutiérrez sempre apontou o Hóquei em Patins como um passatempo. Levado a sério, de forma profissional, mas sem remuneração à altura. Em pista, Adri sempre foi uma maestrina, serena, inteligente, com uma leitura de jogo como poucas, conduziu autênticas orquestras na arte de bem jogar e de conquistar títulos.
Formada no Centro Valenciano de San Juan, Adriana chegou ao campeonato espanhol em 2007, para representar o Sant Feliu, ainda não havia OK Liga que só ganharia força - depois de um ano de boicote catalão em 2008/09 - a partir de 2009. O Cerdanyola chamou Adri. Sagrou-se campeão e vencedor da Taça da Rainha. E a jogador argentina ainda juntou a um 2010 de sonho o seu terceiro título mundial pela albiceleste.
Adriana Gutiérrez representou a selecção da Argentina de 2002 a 2022. Sagrou-se campeão do Mundo em 2002 (Paços de Ferreira, Portugal), 2004 (Wuppertal, Alemanha), 2010 (Alcobendas, Espanha) e 2014 (Tourcoing, França) e em 2022, na sua San Juan natal. Perante um Aldo Cantoni repleto, teve uma despedida à altura, emotiva, de reconhecimento por uma carreira longa e de excelência.
Aos 37 anos, na imprensa do país das pampas, anunciava-se o fim da carreira, o pendurar dos patins, mas, de facto, a atleta já estava comprometida com o projecto do Fraga, tendo sido o primeiro reforço anunciado para a temporada de estreia das aragonesas na OK Liga. Uma aposta sem risco.
Depois do Sant Feliu e do Cerdanyola, Adri reforçou o Girona em 2011, levando a equipa a duas finais europeias em duas temporadas. Rumou a França e ao Noisy, para uma época coroada com o título gaulês e a presença - a primeira de sempre de uma equipa francesa - na final da Liga Europeia.
Com três finais europeias consecutivas perdidas, Adri regressava à Catalunha e ao Cerdanyola, que disputava a Nacional Catalana. Uma espécie de segunda divisão, um "desmame" do Hóquei em Patins antes de se retirar em 2015. Definitivamente, não correu como planeado.
O Cerdanyola alcançou a manutenção e, ao invés do fim da carreira, Adriana tinha à sua espera o convite do campeoníssimo Voltregà. Venceu a OK Liga e alcançou, enfim, a glória europeia. Em 2016, depois de ganhar a sua primeira Liga Europeia, contava ao Regió7 que o objectivo era jogar pelo menos mais uma época. Voltou a correr "mal".
No final dessa tal (outra) derradeira temporada, "só" venceu a Taça da Rainha em 2017. E continuou em Sant Hipólit, voltando a vencer a Liga Europeia em 2018 e 2019.
Consagrada, já uma das maiores de sempre do Hóquei em Patins, foi escolhida para liderar em pista, do alto dos seus 34 anos, o estreante projecto do Sporting, mas foi "tramada" pela pandemia, que interrompeu a temporada.
Regressou ao Cerdanyola, então modesto no panorama da competitiva OK Liga, mas até chegaria à final da primeira Supercopa feminina realizada em 2021. E, na subida do Fraga à OK Liga, a experiência de Adriana foi vista como fundamental.
Na primeira temporada, a equipa do lado aragonês da fronteira de Aragão com a Catalunha (a cerca de 30 km de Lleida) terminou a fase regular em 6º. Falhou o play-off, que foi disputado a quatro, mas garantiu um lugar europeu.
No grupo de Vila-Sana, vice-campeão europeu, e de Benfica, hegemónico em Portugal, o Fraga era apontado como o teoricamente "menos forte", mas deu logo conta ao que ia na primeira partida, quando venceu as águias por 2-0. Nova vitória em Vila-Sana e um empate na Luz valeram o passaporte para os quartos-de-final. Perderam em Itália frente ao Roller Matera, mas, com um golo de Adri, viraram em casa. Na Final Four, venceram o anfitrião Coruña nas meias-finais.
Na final, frente ao Vila-Sana de "Luchi", companheira de quase sempre na albiceleste, Adri voltou a marcar, no único tento do Fraga no tempo regulamentar, e marcou também no desempate por grandes penalidades, no fecho da primeira série de cinco, quando tinha de marcar para manter a sua equipa viva. E ergueu o troféu.
Com 39 anos feitos em Março, a história de Adriana ainda não estará toda escrita. O Fraga está entre as quatro equipas que vão ao play-off da OK Liga (com Palau, Gijón e Vila-Sana) e, depois da vitória na Champions League, as jogadoras de Jordi Capdevilla acreditam que tudo é possível.
Sábado, 4 de Maio de 2024, 10h45