Diz que é uma espécie de Hóquei em Patins
Pedro Alves dos Santos
Os jogos das meias-finais do play-off do Campeonato Placard têm sido (des)caracterizados por um critério arbitral diferente, mais permissivo, em que os duelos são ganhos pelo atleta mais forte, não pelo melhor jogador.
O Hóquei em Patins tem mudado. Talvez ao ritmo de outras modalidades. Mais do que as qualidades técnicas ou tácticas, impera a preparação física. Ganha o mais forte, o mais intenso, o mais rápido. O atleta ganha ao jogador, relegando para segundo plano no palco desportivo quem melhor maneja o stick, quem melhor controla a bola, quem melhor desliza sobre a pista.
Nestes play-offs, os jogos ficaram ainda mais descaracterizados. Houve uma mudança de regras global - e no papel - no início da temporada, e parece que houve nova mudança para a fase a eliminar. De repente, muito do que é leccionado principalmente a nível de contactos no curso de árbitros estagiários que está a ser promovido pela Associação de Patinagem de Lisboa, não faz sentido.
Depois de quatro duelos nos quartos-de-finais em que só houve maior intensidade entre Oliveirense e Óquei de Barcelos, as meias-finais têm sido discutidas palmo-a-palmo e ambas serão decididas na "negra". Entre Porto e Sporting tem predominado a eficácia das equipas da casa e, no desequilíbrio do marcador, o "metro quadrado" desvaloriza. Entre Benfica e Oliveirense, houve quatro jogos sem espaço para respirar.
"Há menos paragens, o jogo é mais fluído", argumenta-se enquanto vários jogadores trocam agarrões, empurrões, rasteiras em cada bloqueio, há um autêntico "royal rumble" nas áreas de baliza e vai-se promovendo a intimidade do homem com o parquet. Para a generalidade dos adeptos de Hóquei em Patins, assumindo o desconhecimento e a descrição intencionalmente jocosa, será uma apresentação do Roller Derby. Anda-se às voltas, dá-se uns encontrões e celebra-se não se sabe muito bem o quê. "Espectacular". Mas no Roller Derby não há stick. Não há bola. Há Patins, mas não há Hóquei.
Com os jogos mais intensos, entre o "critério" e a dificuldade de o manter face à devida aplicação das regras, surgem - naturalmente - os protestos e a contestação. Os árbitros, peões num esquema maior, são sempre os visados, vítimas silenciosas que, nas suas decisões em pista, dão a cara pelas decisões que outros tomaram no gabinete.
No sentimento de dever cumprido, de trabalho bem feito, afinal estão a (não) apitar bem agora ou apitaram bem durante a fase regular? Porque, não tendo havido mudança de regras - ainda que não seja de descurar que tenha havido e seja segredo -, ou estiveram errados ao longo de 26 jornadas, com todas as vicissitudes de 182 jogos, ou estão errados agora.
Árbitros na "negra"
Aos decisivos jogos das meias-finais, as "negras", foram chamados Joaquim Pinto e Pedro Figueiredo, para arbitrarem esta quarta-feira no Dragão Arena, e Rui Torres e Rui Leitão, que conduzirão o jogo de quinta-feira na Luz.
Joaquim Pinto e Pedro Figueiredo arbitraram dois jogos cada neste play-off.
Por "deixar jogar" como lhe pediram, Joaquim Pinto "ouviu" de Edo Bosch após um jogo em Barcelos com apenas seis faltas para cada lado em que o técnico catalão se referiu à permissividade como uma "guerra" que estava aberta. E voltaria a ouvir de Nuno Resende, após o primeiro jogo entre Benfica e Oliveirense, quando o técnico encarnado constatou a mudança de critério.
Rui Torres já apitou quatro jogos e Rui Leitão três. Estiveram juntos no terceiro jogo na Luz, com tarefa facilitada pelo visível desgaste da equipa de Oliveira de Azeméis, e no quarto jogo no João Rocha, num jogo "morno" que terminou com nove faltas de equipa do Sporting e apenas três do Porto e não mais que duas advertências verbais aos leões.
Em dois dias, em dois jogos, decidem-se os lugares na final. Pedir-se-á aos jogadores que facilitem a tarefa dos árbitros. Mas, porque é o que os clubes e os adeptos legitimamente lhes exigem, os jogadores entrarão em pista, e farão tudo o que puderem (e lhes for permitido), para cumprirem a sua própria tarefa: ganhar.
Pedro Alves dos Santos
Quarta-feira, 12 de Junho de 2024, 13h47