Uma nova casta de Porto

Uma nova casta de Porto

De um vinho do Porto diz-se que quanto mais velho melhor. Mas duas épocas consecutivas sem qualquer conquista – a última foi na Supertaça António Livramento em Outubro de 2013 - ditaram num Porto habituado a ganhar uma ruptura com o passado recente... e longínquo.

Marcado por uma derrota em Dezembro, no Dragão Caixa, frente ao Benfica e afastado da Taça de Portugal na primeira eliminatória pela Oliveirense, o Porto decidiu cedo o seu futuro e a próxima temporada, mesmo ainda na disputa da Liga Europeia.

A “desconstrução” começou no banco. Ao fim de quatro épocas a orientar a equipa, Tó Neves sai. Uma referência enquanto jogador, Tó Neves não convenceu a "estrutura" enquanto treinador pese a dobradinha de 2012/13 e a presença em três Final Four da Liga Europeia consecutivas.

Tó Neves não conseguiu levar o Porto à glória europeia
Tó Neves não conseguiu levar o Porto à glória europeia

O Porto também não renovou com o maior ícone da equipa. Reinaldo Ventura, 36 anos, 24 anos ao serviço do clube e um dos obreiros do "deca" a par de Edo Bosch (o único que resiste), Filipe Santos e Emanuel Garcia. Também formado no clube, Pedro Moreira, desde 2003 na equipa principal, viu a ligação com os azuis-e-brancos terminada ainda antes de completar 30 anos.

Caio também chegou à equipa principal do Porto em 2003. Mas vindo da formação do Gulpilhares. Tal não impediu que fosse um dos jogadores mais acarinhados pela massa associativa, mesmo com duas épocas no Barcelos (por empréstimo) e, mais tarde, duas épocas no Benfica. Voltou sempre ao Dragão e foi sempre recebido de braços abertos, não sendo alheio a tal o facto de ser um dos melhores jogadores mundiais em termos técnicos.

Passagem de testemunho? Reinaldo Ventura “passou” o protagonismo a Hélder Nunes na 2ª mão dos quartos-de-final da Liga Europeia
Passagem de testemunho? Reinaldo Ventura “passou” o protagonismo a Hélder Nunes na 2ª mão dos quartos-de-final da Liga Europeia

Com os mesmos 33 anos que Caio, o quarto jogador a sair é Ricardo Barreiros. "Só" esteve três anos nos dragões mas é um dos jogadores mais respeitados da sua geração, tendo conquistado também o respeito de "nuestros hermanos" na sua passagem pelo Liceo, onde, em três épocas, conquistou consecutivamente uma CERS e duas Ligas Europeias. Não foi o talismã europeu por quem o Porto ansiava…

"Rei" ruma a Barcelos. Os restantes seguem juntos, em Oliveira de Azeméis.

Treinador catalão

Para o banco do Porto chega Guillém Cabestany.

Não é comum o campeonato português "importar" treinadores e, da última vez que os azuis-e-brancos tiveram um técnico estrangeiro (Mário Aguero, temporada de 2001-02), tal só deu resultados quando... se foi embora. O técnico argentino saiu a meio da temporada e Franklim Pais ganhou o primeiro de 10 títulos consecutivos.

Aos 39 anos, Guillém Cabestany tem um carreira relativamente curta como treinador mas que tem granjeado elogios. Começou a carreira no banco em 2010 no Vendrell e em quatro anos projectou o clube para uma dimensão ímpar na história do modesto clube. Conquistou duas Taças do Rei, uma Taça CERS e, na primeira presença do clube na Liga Europeia, conduziu-o à Final Four das decisões. A epopeia terminou com uma derrota nas meias-finais no Palau Blaugrana... frente ao Porto.

Guillém Cabestany, na última época, no Breganze
Guillém Cabestany, na última época, no Breganze

O feito valeu-lhe o salto para os italianos do Breganze que, segundo o técnico, lhe permitiu dedicar ao hóquei em patins a tempo inteiro. Conquistou a Taça de Itália e regressou à Final Four da Liga Europeia, desta feita para cair frente ao Barcelona.

Reconhecido por tirar o melhor dos seus jogadores em prol do colectivo, com um grande rigor táctico, não lhe faltará matéria-prima no Dragão.

Só regressos

Para colmatar as quatro saídas, o Porto apostou num consagrado e em três jovens. Mas todos com o azul-e-branco a colorir o seu passado.

O profícuo avançado Gonçalo Alves começou a patinar no Dragão mas saiu com apenas 10 anos. Ficou o desejo de regressar, agora concretizado aos 22 anos, depois de três anos em que ganhou experiência de I Divisão na competitiva Oliveirense. Telmo Pinto, também com 22 anos, fez grande parte da formação no Porto mas integrou em 2012 o projecto do Valongo, sendo um dos pilares do título valonguense de 2014.

Gonçalo Alves promete golos no Dragão
Gonçalo Alves promete golos no Dragão

O regresso de Álvaro Morais (“Alvarinho”) é… meia-surpresa. Não pela sua inegável qualidade mas por, ainda com idade júnior, integrar já os 10 às ordens de Cabestany. Também ele saiu do Porto para o Valongo (em 2011, como juvenil de primeiro ano) e também foi campeão da I Divisão em 2014, mas por presenças esporádicas. Seria no entanto decisivo noutro título inédito nessa época de ouro-sobre-verde, o Nacional de sub-20. Já esta época, no seu segundo ano de júnior, foi o segundo melhor marcador da equipa principal do Valongo, com 23 golos na I Divisão.

A estes três jovens junta-se outro jogador que chegou jovem aos dragões. O argentino Reinaldo Garcia chegou à Invicta em 2001 com 18 anos, rumando seis épocas depois à Ok Liga e ao Liceo, onde atingiu o patamar de melhor do Mundo. O Barcelona chamou-o em 2009 para seis épocas de "blaugrana" em que ganhou tudo. Várias vezes. Faltava-lhe o título mundial. Mas deixou de faltar em La Roche...

Mundialistas

O Mundial 2015 contou com seis dos jogadores que em 2015/16 vão representar os dragões.

Os agora reforços Gonçalo Alves e Telmo Pinto representaram Portugal ao lado de Jorge Silva, Rafa e Hélder Nunes e não foi raro ver quatro deles em simultâneo em rinque... Para além destes, também Reinaldo Garcia esteve no Mundial. E ganhou.

Reinaldo Garcia, no Mundial
Reinaldo Garcia, no Mundial

Numa selecção argentina em que faltaram - por lesão - os seus companheiros do Barcelona (Pascual e Alvarez), “Nalo” foi o jogador mais completo, a defender bem mas também a atacar a preceito, mostrando que aos 33 anos ainda será uma enorme mais-valia para qualquer equipa, um líder e um exemplo a seguir.

Para ganhar já?

Exceptuando talvez o caso de Edo Bosch a curto prazo e Reinaldo a médio, o Porto construiu um plantel para muitos anos.

Poder-se-á desde já exigirem-se conquistas? Claro. Qualidade não falta e, se deste rejuvenescido plantel só Gonçalo Alves ainda não foi campeão nacional de seniores na I Divisão, porque não se pode pedir ao grupo que repita as conquistas no Dragão?

Telmo Pinto, com Gonçalo e Rafa numa selecção de largo futuro
Telmo Pinto, com Gonçalo e Rafa numa selecção de largo futuro

O plantel 2015/16

Guillém Cabestany em estreia no hóquei em patins português e ao leme do FC Porto contará no seu plantel com os guarda-redes Edo Bosch e Nélson Filipe e os jogadores de pista Álvaro Morais ("Alvarinho", ex-Valongo), Gonçalo Alves (ex-Oliveirense), Hélder Nunes, Jorge Silva, José Rafael Costa ("Rafa"), Reinaldo Garcia (ex-Barcelona), Telmo Pinto (ex-Valongo) e Vítor Hugo.

AMGRoller Compozito

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