Um modelo alternativo de competição
José Pedro Silva
Este fim-de-semana, termina a fase regular do Campeonato Placard. E, para seis equipas, termina a temporada, seguindo-se um longo período de inactividade lamentado época após época. Porque não outro modelo? Sugiro um.

Com o aproximar do mês de maio, conclui-se a fase regular do Campeonato Placard de Hóquei em Patins, momento que define não apenas os candidatos ao título nacional, como também os clubes que enfrentarão o infortúnio da descida à II Divisão.
A atual estrutura competitiva consagra aos oito primeiros classificados o acesso ao playoff, etapa em que a competição atinge níveis máximos de exigência e emoção. No entanto, esta mesma configuração encerra precocemente a época desportiva para as restantes seis equipas, que ficam privadas de competição oficial por um período que pode estender-se por quatro ou mais meses.
Ainda que o modelo de playoff recompense a consistência e o rendimento sustentado ao longo da fase regular, importa reconhecer que deixa de fora equipas que, por escassa margem pontual, não logram alcançar os oito primeiros lugares. Esta exclusão precoce levanta legítimas questões de justiça desportiva, sobretudo quando uma das consequências é a paragem prolongada da atividade competitiva.
A inatividade forçada tem repercussões negativas a diversos níveis: compromete o desenvolvimento técnico-tático dos atletas, reduz a sua motivação, bem como das equipas técnicas e dirigentes, e limita a visibilidade mediática e as receitas associadas a transmissões, bilheteira e patrocinadores. A ausência de jogos compromete ainda a cultura de exigência e competição que deve nortear qualquer clube da modalidade.
Neste contexto, importa analisar modelos alternativos já implementados noutros países. Um exemplo relevante é o caso do campeonato italiano de Hóquei em Patins. Tal como em Portugal, os seis primeiros classificados asseguram automaticamente a presença no playoff. No entanto, as vagas remanescentes são atribuídas através de um modelo “play-in”, que envolve as equipas classificadas entre o 7º e o 10º lugar. Inspirado na estrutura da NBA, este formato prolonga a luta pelo acesso ao playoff até às últimas jornadas da fase regular, contribuindo para uma maior justiça competitiva e para a valorização do esforço das equipas que terminam a época em crescendo.
No que respeita à manutenção e promoção entre divisões, propõe-se uma solução híbrida entre o modelo atualmente em vigor em Portugal e o que nos é apresentado em Itália. Os dois últimos classificados do Campeonato Placard (13º e 14º) seriam automaticamente despromovidos, sendo substituídos pelos vencedores das Zona Norte e Zona Sul da II Divisão.
Por sua vez, os clubes que terminarem em 11º e 12º lugar disputariam uma fase de manutenção, a duas voltas, com os 2º classificados de cada uma das Zonas da II Divisão. Esta "mini liga", composta por seis jornadas, garantiria competição real até ao final da época, com consequências desportivas significativas, reforçando o mérito das equipas que conseguissem assegurar presença na principal divisão da modalidade.
Este modelo alternativo exigiria, naturalmente, uma reorganização do calendário competitivo nacional, e certamente carece do parecer dos clubes e atletas, pois a vontade por eles manifestada deve ser sempre ouvida e valorizada. Contudo, os benefícios parecem evidentes:
• Reforço do valor desportivo da fase regular, ao garantir objetivos para todas as equipas até à última jornada;
• Inclusão do modelo play-in como via de acesso ao playoff, promovendo justiça e equidade;
• Promoções e descidas definidas em contexto competitivo;
• Eliminação de longos períodos de inatividade para clubes fora do "Top 8";
• Maior dinamismo competitivo, com reflexo tanto no Campeonato Placard como na II Divisão.
E porque uma imagem vale mais do que mil palavras, fica como nota final um esquema ilustrativo do modelo proposto, que resume de forma visual a sugestão aqui defendida.

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José Pedro Silva
Sábado, 3 de Maio de 2025, 12h03