«Não imaginas como estou feliz»
Uma frase, após o final da conferência de imprensa, resumia tudo. Com a imprensa, não se falou do jogo. Falou-se de sentimentos, de um trajecto de trabalho, de vencer títulos pelo Óquei de Barcelos como o pai. Agora é a vez de Luís.

"Zezinho, não imaginas como estou feliz". Um desabafo, enrolado num abraço a um jovem jogador, quando Luís Querido saiu da sala de imprensa após a conquista da Champions League pelo Óquei Clube de Barcelos, resumia tudo.
Antes, sob a mira das perguntas dos jornalistas, não se falou do jogo. Falou-se do sentimento inexplicável de ser campeão, de um sonho cumprido, do trabalho - muito trabalho - para chegar a este ponto, numa viagem do quarto em criança até ao Centro de Desportos e Congressos de Matosinhos.
Luís Querido vai completar 35 anos. Ainda não tinha um ano quando o Óquei de Barcelos, com Cristiano Pereira como treinador e José Querido, o pai, como adjunto, conquistou a Taça dos Campeões Europeus em 1991.
Viu depois o pai liderar os barcelenses à conquista do Campeonato Nacional e duas Taças de Portugal. Do campeonato, ganho em 2001, ficaram as imagens do jovem Luís a festejar. "Agora é a tua vez...", confessou o agora capitão do "Maior de Portugal", de voz embargada, quando desafiado a dizer algo àquele aspirante a jogador.
O trajecto de Luís não foi um conto cor-de-rosa. Não era um predestinado, não era o "futuro Livramento" como tantos... que acabam por se perder. "É preciso trabalhar muito. Tive de trabalhar muito e dedicar-me muito ao Hóquei em Patins. Estive para deixar aos meus 14 anos, porque não era opção e, de repente, tudo mudou", contou. Foi atrás dos seus sonhos.

Terminou a formação no Liceo e no Barcelona. Regressou a Portugal, para o Porto Santo, em 2010, e representou Os Tigres na temporada seguinte. Regrado, comia à hora certa, fosse onde fosse. Como a ver um jogo de juniores da equipa almeirinense em Sintra, em 2012, a impressionar e a dar o exemplo àquele "Zezinho", então com dois anos.
Em 2012, Luís regressava ao Óquei de Barcelos. Em cinco temporadas, conquistou duas vezes a então Taça CERS, agora WSE Cup. Foi "ali", a Itália, entre 2017 e 2019, e foi campeão pelo Lodi de Nuno Resende. Regressou - de vez? - a Barcelos, onde cumpre a sexta temporada consecutiva, a 11ª nos últimos 13 anos.
E o Óquei voltou aos títulos. Primeiro, a Elite Cup em 2021 e, já esta época, a Supertaça António Livramento. E, agora, a Champions League.

De pai para filho
José Querido não esteve nas meias-finais. Estava a garantir a manutenção do Alcobacense na II Divisão, sobrando agora apenas a recepção ao Oeiras e a deslocação ao Entroncamento antes de dar o seu trabalho ali como terminado.
Luis dedicaria esta conquista à família - e o pequeno Santi já andava na festa a recolher equipamento, quiçá a pensar na sua própria conquista daqui a uns anos -, mas, também pela relação com a modalidade, o pai, José, mereceu uma menção própria. Há 23 anos, Luis tinha visto a equipa barcelense, orientada por José, perder uma final da então Liga Europeia, de forma ingrata, sobre o final do prolongamento.
Antes da partida, o HóqueiPT tinha encontrado José Querido à porta. Mais do que a final ganha como adjunto, recordava a final perdida, como principal.
Secretamente, ansiava pela "vingativa" conquista do filho, mas, fosse qual fosse o resultado, o orgulho no trajecto de muito trabalho era indisfarçável.
Quarta-feira, 14 de Maio de 2025, 12h58