Desconfiar da 'porca miseria' italiana
A prestação da Itália na GoldenCat foi decepcionante, com derrotas pesadíssimas frente a França e Portugal, o que não augura nada de bom na tentativa de repetir o título de 2014, conquistado em Alcobendas. Mas atenção. A Itália não perdia por nove desde 1997, e nesse ano acabou campeã do Mundo.

Na preparação para o Campeonato da Europa que se disputa a partir de dia 1 em Setembro, a Itália trocou o seu "quartel-general" em Recoaro pela Catalunha, indo a jogo na Catalunha, na GoldenCat.
"Ir a jogo" pode ser um exagero. Muito condicionados fisicamente, sem ligação e permissivos defensivamente, os italianos perderam 0-9 com a França e 0-8 com Portugal. No fecho da primeira fase, perderam 4-6 com a Catalunha, voltando a perder com os catalães na luta pelo bronze, por 5-6.
Foram quatro derrotas em quatro jogos, com 29 golos sofridos e apenas 10 marcados. Uma autêntica "porca miseria" para qualquer adepto italiano.
Esta geração italiana tem muito talento, um treinador que tem aura de conquista e vem de um bronze no Campeonato do Mundo que se realizou em Novara. Não será muito para mostrar, mas não havia, num Mundial, uma medalha sobre "azzurro" desde 2003, quando a Itália foi vice-campeã em Oliveira de Azeméis.
Para já, fica o conforto de que "o que conta é a partir de 1 de Setembro". E a memória de um inesquecível ano de 1997.
Campeões do Mundo
Apesar de ser um histórico da modalidade, a Itália tem um palmarés que está longe de ser rico, somando, em intromissões pontuais no domínio ibérico, "apenas" quatro títulos mundiais e três títulos europeus, sendo que em 1953 reclamou os dois ceptros na mesma competição, em Genève.
Depois desse título de 1953, a Itália voltou a ser campeã do Mundo - consecutivamente - em 1986 e 1988. E, pela última vez, em 1997. Apesar de um "miserável" ensaio.
Para encontrar uma desaire italiano por nove golos como o que aconteceu frente à França em Cerdanyola del Vallés, é preciso recuar até... 1997. Num torneio internacional disputado em Paris, a Itália perdeu 2-11 frente à selecção espanhola.
Era ano de Mundial em Wuppertall, na Alemanha, e a Itália estava longe de ser favorita. Venceu a Espanha (5-2), mas perdeu com a Argentina (2-7). Nas meias-finais, derrotou Portugal (4-2), que era vice-campeão mundial. E na final reencontrou a albiceleste, que defendia o título. E os italianos venceram por claros 5-0.
Orientados por Raul Micheli, sagravam-se campeões do Mundo os guarda-redes Luca Ventra e Massimo Cunegatti, e Alberto Orlandi, os irmãos Alberto e Alessandro Michielon, Dario Rigo, Francesco Amato, Franco Polverini, Pierluigi Bresciani e... Alessandro Bertolucci, o actual seleccionador nacional.
O Europeu de 2014
Em Paredes, a Itália procurará repetir o feito de 2014.
Campeã europeia no tal ano de 1953 e em 1990, em Lodi, a Itália, às ordens de Massimo Mariotti, estava longe de ser candidata em Alcobendas. Espanha e Portugal dividiam o favoritismo, mas os italianos voltariam a erguer o "caneco" continental.
Num campeonato a seis, num modelo de todos-contra-todos, a Itália estreou-se com uma vitória por 7-3 sobre a Suíça, com Massimo Tataranni - que acabou a competição nos calabouços da polícia local - a assinar um póquer. Seguiu-se uma vitória tangencial por 3-2 sobre a Alemanha dos irmãos Karschau.
Depois, os duelos com os ibéricos. Frente à anfitrã Espanha, então heptacampeã europeia, um empate a dois, com bis de Federico Ambrosio, fazia perigar a história da "Armada Invencível" por a deixar à mercê de Portugal, mas, no dia seguinte, a Itália vencia a selecção das quinas, orientada pelo agora presidente federativo Luís Sénica, por 3-2, com Ambrosio a voltar a marcar e Mattia Cocco, irmão mais velho de Giulio, a bisar.
Espanha e Itália entravam no último dia a par, com clara vantagem na diferença de golos para os espanhóis. No primeiro jogo dessa derradeira ronda, os italianos, a custo, por tangencial 5-4, cumpriram, vencendo uma França em que despontava Carlo Di Benedetto. Com apenas 18 anos, bisou, mas foi insuficiente para impedir que os "ragazzi" começassem desde logo a celebrar. Mesmo que o prémio final pudesse ser apenas a prata, que já não conseguiam há 10 anos.
A Espanha "apenas" tinha de vencer Portugal para ser octacampeã, mas, no espírito de uma secular rivalidade que já dividiu o Mundo, os portugueses impuseram um empate a seis. E a festa italiana foi completa.
Receberam o ouro os guarda-redes Leonardo Barozzi e Riccardo Gnata, e Alessandro Verona, Davide Motaran, Domenico Illuzzi, Federico Ambrosio, Leonardo Squeo, Marco Pagnini e Mattia Cocco. E, mais tarde, quando foi resgatado da prisão, numa das anedotas que perdurarão nos anais da modalidade, Massimo Tataranni.
Desse grupo campeão, sobra agora nos seleccionados, 11 anos depois, apenas Alessandro Verona, que era o "benjamim" da "squaddra azzurra", com apenas 18 anos. Jogava no Forte, da sua natal Forte dei Marmi, e, em 2015, mudou-se para o Lodi, tendo estado quatro temporadas ao serviço dos "giallorossi".
Em 2019, foi aposta do Sporting e de Paulo Freitas. O impacto não foi imediato, com uma adaptação demorada, mas, depois de se sagrar campeão nacional em 2021 e vencedor da Champions League em 2021 e 2024, deu um salto qualitativo e de influência às ordens de Edo Bosch. Completou 30 anos neste mês de Agosto.
Terça-feira, 26 de Agosto de 2025, 14h10