Penalização para o espectáculo
Pedro Alves dos Santos
Nas novas regras, a inferioridade numérica é para cumprir na íntegra, independentemente de haver golos sofridos. Na GoldenCat, em oito partidas disputadas, houve 20 azuis mostrados. Naquela espécie de 'rabia', com o jogo descaracterizado, houve 18 golos.

Num jogo de Hóquei em Patins, dificilmente haverá algo tão "feio" como uma equipa a jogar em inferioridade, com um jogo - que se destaca por ser de transições e desequilíbrios - a ficar descaracterizado.
Por regra, a equipa em inferioridade remete os seus três jogadores de pista à sua área, enquanto a bola é trocada num ataque em quadrado à procura de uma nesga para rematar ou que o jogador "livre" possa atacar a baliza.
Não é bonito. Mas vai passar a acontecer durante mais tempo.
Antes da entrada em vigor das novas regras, a amostragem do cartão azul com o jogo a decorrer redundava, para além da inferioridade, sempre em livre directo. Mesmo que a falta fosse a 40 metros da baliza adversária.
Agora, numa mudança que se saúda, só haverá livre directo se for uma clara ocasião de golo. No entanto, se antes a inferioridade terminava com um golo sofrido, agora será sempre cumprida na íntegra. Dois minutos no caso dos recorrentes azuis, quatro nos vermelhos. Sofra a equipa um, dois, três... ou os golos que os dois minutos permitirem.
Aplicação prática na GoldenCat
A primeira aplicação prática - ou a primeira com visibilidade mediática - das novas regras aconteceu na GoldenCat, torneio de selecções que decorreu de 21 a 24 de Agosto em Cerdanyola del Vallès. E ficou patente que, se se dizia que os jogos se decidiam nas bolas paradas, agora decidir-se-ão nas superioridades, não criadas pela movimentação dos jogadores, mas pelas sanções disciplinares.
Atente-se ao caso da França. Em inferioridade, deixou escapar uma vantagem de três golos frente à Catalunha na 2ª jornada, passou de um 3-2 para 3-4 frente a Portugal na 3ª jornada e, na final, o que era uma igualdade a dois, passou para um comprometedor 2-4.
Como em tudo, caberá às equipas arranjarem formas de defender e atacar essa situação, tentando tirar proveito da superioridade numérica, ou tentando tapar os caminhos para a sua baliza, num xadrez que, para os adeptos da modalidade e para um espectáculo que se desejaria atractivo, será penoso de acompanhar.
Da GoldenCat, ficam os números, a merecerem atenção de França, mas também de Itália. Os gauleses viram seis azuis que redundaram em sete golos sofridos. Metade dos 14 que a equipa de Nuno Lopes sofreu em toda a competição. A Itália sofreu 29 golos em toda a prova, 11 deles (quase 40%) com um jogador a menos em pista, de nove azuis vistos pelos pupilos de Alex Bertolucci.
Menos penalizados, foram Catalunha (três azuis) e Portugal (dois azuis), não tendo sofrido qualquer golo em inferioridade. E também se saíram melhor no ataque à inferioridade.
Os catalães tiveram três jogadores pela frente em sete ocasiões e marcaram, nesses 14 minutos, nove golos (cerca de 43% dos 21 golos que conseguiram no total), ao passo que os portugueses marcaram cinco golos em quatro superioridades numéricas.
A França também teve sete ocasiões, mas só aproveitou para marcar quatro golos, e todos registados na vitória por 0-9 sobre Itália. Os italianos, claramente avessos a esta nova regra, atacaram apenas duas vezes uma defesa a três, e não conseguiram marcar qualquer golo.
Pedro Alves dos Santos
Quarta-feira, 27 de Agosto de 2025, 18h17