Barcelona tenta ‘virar’ como em 82 e 83
Disputa-se este sábado no Palau Blaugrana, em Barcelona, a segunda e decisiva mão da Taça Continental.
A primeira mão deixou o Sporting com uma vantagem de dois golos para gerir em casa do adversário. É verdade que, das duas vezes que os “blaugrana” partiram em desvantagem para o jogo de “volta” no Palau, conseguiram dar a volta. Mas em nenhuma dessas ocasiões tiveram uma desvantagem de dois golos para recuperar. Este foi, de facto, o maior revés dos catalães numa primeira mão em impressionantes 18 participações na prova.
Precisar de "remontar" só frente a portugueses
Nas suas 18 presenças, o Barcelona discutiu a vitória a duas mãos em 12 ocasiões. Dessas, jogou oito fora de portas na primeira mão. E regressou ao Palau apenas com dois resultados para virar, ambos depois de deslocações à cidade do Porto onde, em 1982 e 1983, o FC Porto venceu por, respectivamente, 3-2 e 4-3. No segundo e decisivo jogo, o Barcelona deu a volta em ambas as ocasiões, com vitórias claras por 7-1 e 11-5.
O Barça de 1982 e 1983 atravessava um excelente período. Sob o comando técnico de Josep Lorente, dominavam em Espanha e na Europa. Uma das estrelas da constelação era Quim Paüls, actual seleccionador espanhol.
“O Porto era o mais forte rival português que podíamos defrontar e já mostraba que uns anos mais tarde estaría no topo”, recorda Quim Paüls, que sublinha que o Barcelona atravessava uma reestruturação. “Nós estábamos a fazer uma mudança profunda no plantel. A saída do nosso guarda-redes, Carlos Trullols, lançava-nos um desafio e, ainda que ambas as vitórias no Palau demonstrem o poder daquele Barcelona, sobretudo a segunda ajudava a consolidar un novo projecto, com uma equipa jovem e renovada, apesar de continuarem jogadores importantes, como Vila Puig e Centell”, explica.
Para além de Paüls, Vila Puig e Centell, estavam Jordi Vilacorta, Josep Enric Torner e, no segundo ano, Joan Torner. Os Torner foram determinantes em 1983, com sete dos 11 golos da reviravolta. Paüls marcou dois.
Um Palau demasiado grande
Em 1983 o Palau Blaugrana encheu – com mais de 6000 pessoas – para receber o Porto na segunda mão da outrora Supertaça Europeia. Mas o cenário povoado de um pavilhão imponente tem-se perdido com o passar dos anos, ainda que as conquistas se sucedam. Para o treinador que lidera os destinos da selecção do país vizinho, é um mal generalizado.
“O hóquei em Espanha perdeu parte da sua capacidade para chamar tantos espectadores”, lamenta, apontando algumas razões. “Por um lado, terá sido certamente pela variedade de desportos importantes que agora têm presença nos meios de comunicação e na TV. Por outro, o hóquei não foi capaz de sobrepor-se às novas dinâmicas dos desportos emergentes, não tem presença nos ‘media’, não está nos Jogos Olímpicos, etc… Tudo isto acabou por prejudicar o nosso desporto. Continua a juntar muita gente nas grandes ocasiões mas perdeu o peso específico que sempre teve em Espanha”, medita.
Para este jogo com o Sporting, os receios dos leões não deverão passar por um ambiente hostil, ainda que se possa registar uma boa casa. Será necessário notar que meia casa do Palau encheria qualquer pavilhão de hóquei em patins em Portugal.
Outras derrotas
Antes da derrota no Livramento, o Barcelona tinha perdido para a Taça Continental em cinco partidas, ainda que o triunfo na competição só lhe tivesse escapado por duas vezes (1987 e 2014), sendo que na última, no ano passado, só perdeu efectivamente nas grandes penalidades, depois de empate nos dois jogos.
As derrotas mais pesadas aconteceram em 1987, com o Liceo (4-1), e em 2005, frente ao Follonica (7-4).Mas se os “verdes” da Corunha roubaram mesmo a Continental ao Barcelona, os italianos não tiveram a mesma felicidade. Os blaugrana tinham vencido por 4-0 na primeira mão, complicando a tarefa de Guilherme Silva, Sérgio Silva e companhia.
Um jogo que promete
Na antevisão à segunda mão da Continental, Quim Paüls prevê um bom espectáculo, destacando as diferenças entre os dois conjuntos. “Defrontam-se duas grandes equipas, mas com estilos muito diferentes”, realça desde logo. “O Sporting sabe sempre como jogar e a sua ideia de jogo começa numa defesa férrea e numa equipa que se posiciona muito bem em pista”, observa, confiando nos méritos ofensivos do Barcelona.
“Dois golos de diferença não são irrecuperáveis, muito menos para o Barcelona. A marcha do marcador será importante e, dependendo da atitude do Barcelona, podemos ver um jogo muito diferente do de Portugal, dado que o factor pista foi fundamental”, recorda. “Se é verdade que o piso escorregava para os dois, acredito que prejudicou mais o jogo do Barcelona, pois teve de alterar muito o seu estilo de jogo”, justifica.
Que semana…
Entre mãos da Continental, Sporting e Barcelona tinham compromissos para o campeonato. E ambos se deram mal.
O Sporting deslocou-se na quarta-feira a Braga e, depois de estar a vencer por 0-2 já na segunda parte, permitiu a reviravolta dos bracarenses, que venceriam por 4-2. Antes, na terça-feira, o Voltregà repetiu para a OK Liga o feito da última temporada, vencendo o Barcelona. Mas desta feita conseguiu-o em pleno Palau. A vitória por 2-3 da equipa que conta com os empréstimos dos “blaugrana” Ignacio Alabart e Aleix Rodriguez (marcaram ambos… tal como Pedro Delgado, emprestado pelo Sporting ao Braga) teve um enorme impacto em Espanha.
“Ninguém negará que duas derrotas consecutivas do Barcelona significam uma tensão extra acumulada, mas também pode ser um estímulo, dado que têm oportunidade de se redimir com uma grande vitória de um grande rival, como é o Sporting”, analisa Paüls.
Para este jogo da segunda mão, Ricard Muñoz não poderá contar com Matías Pascual. Lesionado no primeiro jogo com os leões, o argentino enfrenta uma paragem de seis semanas. “A falta de Matías é um rude golpe para a estratégia do Barcelona, mas acredito que tem um plantel com jogadores capazes de suprir qualquer ausência”, reflecte o seleccionador espanhol.
Esta decisiva partida está agendada para este sábado, a partir das 15h15 de Portugal continental.
Sábado, 17 de Outubro de 2015, 1h08