Gilberto Borges, paladino de um grande Sporting
A face mais visível do projecto de hóquei em patins do Sporting é Gilberto Borges. Numa altura em que o sonho de regresso ao seio do clube como modalidade oficial se concretizou, o responsável pela secção personifica a ambição. E a ambição em 2014/15 é listada, na horizontal e de verde e branco. “O Sporting entra sempre para ganhar”, afirma determinado.
Com poucos treinos realizados, o Sporting deslocou-se a Luanda para o torneio que homenageia o presidente José Eduardo dos Santos. O périplo foi um sucesso, muito para além das tabelas do rinque do Pavilhão Multiusos do Kilamba. “Foi muito importante, sobretudo porque nos aproximou dos nossos amigos angolanos”, conta.
“Conseguimos encontrar muitos sportinguistas que se sentem órfãos por não terem uma casa em Luanda. A casa era o Sporting Clube de Luanda que, neste momento, está desactivada. Estamos a procurar sinergias com a Federação Angolana de Patinagem e o 1º de Agosto para arranjar fundos de modo a que se reactive rapidamente”, desvenda.
O torneio mostrou uma realidade romântica do hóquei. “Valeu pela paixão que o hóquei tem em Luanda. Conseguiu-se no último dia ter meia casa, oito mil pessoas. É muito bom. Em Portugal, num evento similar, não conseguiríamos isso. E o que é mais importante é ver que o Sporting está vivo e tem uma massa universal. Estamos em todo o lado”, orgulha-se.
Do ponto de vista desportivo, Gilberto deixa algumas críticas ao evento. “Fomos defrontar multinacionais de hóquei, jogadores que foram apenas para actuar em prol do dito desenvolvimento da modalidade. Não faz sentido ter uma equipa completamente construída, ir competir com um nome e depois aparecerem jogadores que não fazem parte do plantel”, reprova.
De regresso a Portugal, os leões montaram sede em Loures, no Pavilhão Paz e Amizade, onde irão - em princípio - realizar as suas partidas. Um local fixo poderá atrair mais adeptos. “Desde logo, este novo paradigma vai impulsionar mais os adeptos porque são criadas novas responsabilidades. O Sporting tem de estar a lutar por lugares cimeiros e obviamente que a massa associativa vai responder. É preciso uma boa coordenação com os horários das outras modalidades oficiais para pôr jogos em cascata ou tentar que haja jogos no mesmo pavilhão mas tenho a impressão de que este ano vamos ter muito mais gente, muito mais adeptos. O hóquei em patins faz parte da massa crítica do clube e tem muitos adeptos, não só em Lisboa mas em todo o país. Vamos sentir isso, muito mais paixão, muito mais proximidade dos sócios e vai haver muito mais responsabilização da nossa parte”, assume.
A ambição marca o arranque de época dos leões mas para Gilberto Borges é plenamente justificada. “Tem de ser jogo a jogo mas vamos com certeza dar uma imagem muito melhor e muito mais positiva que a dos últimos anos, que foram um embrião”, relembra. “Foi muito importante chegar à I Divisão e deve-se tudo a uma base sustentada de formação”, recorda, transparecendo a sua paixão pela evolução dos jovens atletas, que continuará a ser aposta do clube. “Vamos continuar a reforçar a nossa formação, a torná-la cada vez mais competente de modo a que consigamos colher daí frutos, ou seja, para prosseguirmos em alta competição com meios próprios”, explica.
Entre os reforços da equipa de juniores, estão André Gaspar (ex-CD Paço de Arcos) e João Rodrigo Campelo (ex-SL Benfica),recentemente chamados aos trabalhos da selecção de Sub-20 tendo em vista o Campeonato da Europa.
Na formação, o número de atletas não pára de aumentar. “É uma grande surpresa para mim. São mais de 135 praticantes e mais que vão aparecendo na iniciação. É evidente que no ano passado, o facto de o Sporting ter estado melhor na I Divisão, atraiu muito mais meninos. E é óbvio que o grande handicap que nós temos é a casa. Se estivéssemos fixos numa só casa teríamos muitos mais meninos na formação. O sonho é voltar àquilo que foi Alvalade antigo, nas décadas de 70, 80 e até 90”, ambiciona. “Agora temos uma equipa de bambis, juvenis e juniores e em benjamins, escolares e infantis temos duas equipas”, destaca.
Uma das equipas de infantis (sub-13) será totalmente feminina, competindo entre rapazes. “Somos inéditos mais uma vez numa modalidade que estimamos e desenvolvemos”, sublinha. “A equipa é completamente feminina, não é mista, e vamos alimentar um sonho a estas pequeninas que é serem as primeiras seniores do Sporting Clube de Portugal. Estamos a quatro, cinco anos disso”, indica.
A utilização de jogadoras femininas é permitida nas competições masculinas até ao escalão de sub-17 (inclusive).
A formação assenta num conjunto de técnicos que estão no Sporting há alguns anos. “Diria que o líder, que tem acompanhado este projecto desde o início, é o João Baltazar. É a grande referência da nossa formação. De resto, à excepção de um que entrou agora para os escalões mais baixos, são treinadores que já vêm connosco de algumas épocas a esta parte. Estão a fazer um bom trabalho. Se virem a nossa formação o ano passado, os lugares no seu cômputo geral foram muito positivos”, observa.
Mas na última época faltaram os títulos. "Nacionais", faz questão de realçar. “Claro que todos os títulos são importantes mas no escalão em que apostávamos mais, os iniciados, faltou-nos a revalidação do título. Mas não deixaram de ser, para mim, a melhor equipa nacional. E é importante dizer que se contam pelos dedos de uma mão os clubes que levaram equipas às Final Four nacionais. E nós levámos três - infantis, iniciados e juvenis - o que prova que estamos a trabalhar bem na base”, aponta. “Este ano temos equipas também excelentes em todos os escalões chamados de competição e vamos lutar por estar também nas Final Four e ganhar títulos para o Sporting”, anuncia.
Numa equipa que apostou muito em reforços provenientes de outras equipas e que aposta em conquistas a breve trecho, o espaço para os jogadores da formação parece rarear. Para Gilberto Borges não há portas fechadas. Mas é preciso merecer. “Todos os jogadores, do bambi mais novo, o Elgar que tem 4 anos, até ao júnior com mais idade, que é o Hernâni Bastos, têm como objectivo chegar um dia aos seniores. E só depende deles. Só depende do trabalho e da competência que puserem no dia-a-dia. Eles sabem”, afirma. “É evidente que a curto prazo vai ser muito complicado, até pelas idades que têm. A equipa de juniores é praticamente de primeiro e segundo ano, só temos um de terceiro. Vai ser muito difícil para qualquer deles, até porque ainda estão em aprendizagem, chegar aos seniores nos próximos dois anos mas temos isso acautelado”, revela. “O plantel sénior tem jogadores com vários anos de contrato, outros com menos tempo, e portanto estamos a acautelar a situação de modo a que no futuro haja meninos da formação que cheguem aos seniores. De qualquer maneira, mesmo não participando, não pertencendo ao plantel sénior, creio que este ano há miúdos que vão pisar a pista na I Divisão. Desde juvenis até juniores todos podem ir e vamos lançar alguns jovens”, prediz.
Eurockey como primeiro objectivo da época
Entre os escalões jovens, o Eurockey, que reúne algumas das melhores equipas europeias de sub-15 e sub-17, é assumido como o primeiro objectivo da época.
“Vamos participar e vamos defender a imagem que deixámos no ano passado [ndr: vice-campeões de sub-15]. E a organização entende que o Sporting terá de estar presente e certamente estará em ambos os escalões”, assevera Gilberto Borges.
O treinador que viaja até à Catalunha para os dois compromissos é João Baltazar. “O ano passado foi a nossa primeira participação. Foi espectacular, tirando o jogo da final que não nos deixaram ganhar”, recorda com críticas veladas. “Mas este ano vamos novamente com a ambição de ganhar, claro”, garante, estendendo a meta às competições nacionais. “O objectivo é sempre ser campeão, ganhar tudo em que participemos. É assim por ser o Sporting e pela minha postura”, assegura.
As provas do Eurockey decorrem perto de Barcelona. Entre 30 de Outubro e 2 de Novembro, em Vilanova i la Geltrú, decorre a prova de sub-15, enquanto entre 16 e 19 de Outubro tem lugar a competição de sub-17 em Blanes.
Este sábado decorreu no Paz e Amizade um evento ao longo do dia que reuniu todos os atletas do clube. Um hábito que já vem de outros anos. “Já é comum no Sporting. Estamos habituadíssimos a fazer isto, faz parte da nossa rotina quando começa a época”, conta o técnico sobre o acontecimento que aproxima os seniores dos que aspiram um dia a sê-lo.
João Baltazar está há muitos anos no Sporting, tendo passado por si os agora seniores Zé Diogo Macedo, André Pimenta e Pedro Delgado. “É um motivo de orgulho. É por isso que gosto de ser treinador de formação e não ser treinador de seniores. Porque é aquilo que me dá prazer: criar um miúdo mais ou menos desde pequeno e vê-lo nos seniores do Sporting ou de outros clubes. Tenho imensos jogadores portugueses que estão em clubes de top e que passaram por mim. E também sinal de que estamos a fazer um bom trabalho”, regozija-se, reconhecendo que parte do sucesso se deve ao respeito mútuo. ”O respeito que eles têm por mim é o mesmo que eu tenho por eles. É isso que tento incutir em cada atleta meu”, explica.
Quarta-feira, 3 de Setembro de 2014, 18h46